Engolidos pela areia: no Rio Grande do Sul dunas avançam sobre as ruas e casas


15.01.2008 - Silenciosamente, as dunas avançam sobre estradas, cobrem pátios e derrubam casas no Litoral Norte.

Em Quintão e Balneário Pinhal, os montes de areia não perdoam e seguem conforme o vento, engolindo o que estiver pela frente.

Histórias de moradores e veranistas prestes a perder a moradia ou que já a viram ir abaixo são abundantes. Há quase três anos, duas crianças morreram quando a parede da casa em que dormiam cedeu com o peso de uma duna, em Magistério.

O desejo de passar a aposentadoria na praia vai se esvaindo para o casal Maria de Lurdes, 63 anos, e Olavo Pereira, 65 anos. Quando Olavo aposentou-se da Brigada Militar, há 12 anos, comprou um terreno em Quintão. No lugar, construiu uma casa para viver.

Hoje, nem a grama comprada e plantada no quintal existe. Na última semana, depois de voltar de uma visita à Capital, o casal só conseguiu entrar em casa após retirar 40 caçambas de areia do terreno.

- Depois deste verão, derrubaremos tudo e iremos embora. Até a areia passar, vai demorar anos. É o investimento da minha vida que vai se perder, infelizmente - lamenta Olavo.

Ao lembrar da casa de dois pisos construída junto à RS-040, em Balneário Pinhal, o mecânico Renaldieri Roberto Guimarães, 55 anos, vai às lágrimas. Há oito anos, ele viu o prédio cair com a força das dunas. Por um período, Renaldieri, a mulher Ana Glaci, 46 anos, e outras 10 pessoas tiveram de morar em um galpão. Ele reconstruiu a vida em frente à casa destruída. Ele não consegue nem olhar para o lugar onde morou por apenas três meses.

- Dá uma dor lembrar da destruição. Prefiro não olhar para a areia. Sigo o meu trabalho aqui.

A prefeitura de Palmares do Sul, responsável por Quintão, e a concessionária Metrovias, que detém o trecho da RS-040 até Pinhal, enfrentam dificuldades para driblar o avanço. Conforme o secretário de Obras, Gilson Polidori Gil, ruas do balneário precisam ser conservadas semanalmente para a continuidade do trânsito. Uma única carregadeira faz o trabalho de limpeza das vias, empurrando a areia de volta para os montes maiores. A máquina vive em conserto devido à quantidade de trabalho.

- Numa única manutenção, gastamos R$ 4 mil. E o maior problema é que, com tantas ocorrências, nunca sobra tempo para atender aos pedidos dos moradores - explica.

Para que a areia não tome conta da principal entrada do Balneário Pinhal, a Metrovias também realiza manutenção semanal no trecho. Diariamente, funcionários percorrem a RS-040 para verificar se as dunas estão atrapalhando o trajeto. Em caso de problema, uma máquina empurra a areia de volta para os montes que margeiam a rodovia.

Fonte: Jornal Zero Hora RS

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Lembrando...

ONU: 20% da América do Sul pode virar deserto

15.06.2007 - A América do Sul pode perder até um quinto de suas terras produtivas até 2025, alerta a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, sigla em inglês).

Segundo a entidade, o processo de desertificação no continente sul-americano tem se intensificado nos últimos anos, principalmente em países de grandes extensões, como a Argentina e o Brasil.

Em entrevista à BBC Brasil, o oficial da unidade de facilitação para América Latina e Caribe da UNCCD, o brasileiro Heitor Matallo, afirma que as mudanças climáticas estão agravando o problema.

"Há um ciclo em que um fenômeno alimenta o outro. Se o meio ambiente é degradado com desmatamento e erosão, os reservatórios de água diminuem, aumentando as áreas desertas", afirma Matallo.

"Por sua vez, essas terras degradadas influenciam no clima, impedindo a formação de chuvas e aumentando ainda mais a desertificação."

As informações foram divulgadas nesta sexta-feira, dois dias antes do Dia Mundial da ONU para o Combate à Desertificação. Este ano, a campanha aborda a ligação entre a desertificação e o aquecimento global.

Perdas econômicas

Segundo Matallo, 1,5 milhão de km² do território brasileiro são compostos de áreas semi-áridas e abrigam 40 milhões de pessoas. A Argentina, com território de 3 milhões de km², tem 1,75 milhão de Km² cobertos pelo deserto.

O representante da ONU diz que a área semi-árida do nordeste brasileiro, com o clima sujeito a secas freqüentes, vem aumentando com a degradação ambiental e as mudanças climáticas.

"Se até 2050 a temperatura do planeta subir 6 graus, a área semi-árida do nordeste pode aumentar outro milhão de quilômetros quadrados", estima Matallo.

"Sem falar da Amazônia, que já sofre com os efeitos da seca." Matallo ainda ressalta que as perdas econômicas provocadas pela desertificação na América Latina chegam a US$ 20 bilhões por ano.

"Só o Brasil perde US$ 5 bilhões em solos que se tornam improdutivos." A desertificação é um processo que leva à degradação das terras, tornando-as improdutivas.

Pode ser causada pela ação humana, entre outros fatores. O uso incontrolado da terra para cultivos e pastagens, além do desmatamento e pouca irrigação, estão transformando terras férteis em desertos.

A ONU estima que a desertificação atinja cerca de 30% das terras do planeta, que abrigam cerca de 1,2 bilhão de pessoas.

Fonte: Terra notícias



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