Cientista sugere que Amazônia tem morte decretada
21.09.2007 - Um cenário sinistro está sendo montado para a Amazônia nas próximas décadas, de acordo com a percepção de um cientista do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU). A maior e mais complexa floresta tropical do planeta e seus ecossistemas podem estar com a morte decretada para um futuro não tão distante como se previa e mais próximo do que se imaginava.
Entre 50 e 100 anos tudo poderá se transformar numa fina areia desértica, inóspita, engolindo não só quase 50% do território brasileiro, mas boa parte dos outros sete países e uma colônia que compõem a panamazônia.
Pela primeira vez a ciência mostra que a sua sobrevivência depende dos contornos e conseqüências do aquecimento global. Mercado de crédito de carbono, fundos destinados a reduções compensadas de emissões, ações para minimizar o impacto da indústria sobre o meio ambiente e as campanhas preservacionistas podem dar em nada.
Para o conceituado cientista inglês, membro do IPCC, James Lovelock, o planeta chegou a um ponto sem retorno. O mal está consolidado e a questão é de tempo para que o fim da estabilidade climática dos últimos 70 mil anos apresente seu lado mais agressivo.
A percepção de Lovelock, para muitos de seus colegas, é nefasta demais. Embora ninguém discorde que o processo de mutação climática já se iniciou, restam alternativas para o aquecimento global em níveis suportáveis para a manutenção da vida. E isso passa por ações urgentes na conservação e recuperação da Amazônia.
O cientista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos, órgão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), José Marengo, como integrante do IPCC faz alertas dramáticos para intervenções urgentes na proteção da floresta. "A idéia é reduzir a todo custo o desmatamento e a emissão dos gases do efeito estufa".
Entender a aflição do pesquisador é crucial para qualquer nação. A Amazônia não é e nunca foi o pulmão do mundo, como se apregoou por muito tempo. Seus índices de emissão de dióxido de carbono, oxigênio e de outros gases são seqüestrados pela própria floresta, numa atividade equilibrada e precisa. Mas ela pode ser considerada o coração terrestre, pois consegue reger sistemas ligados a circulação atmosférica, como regimes de chuva e de ventos do globo.
A Amazônica também é vítima de incertezas e descrédito. Apesar da ótima reputação no exterior, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sentiu o gosto amargo dos paradoxos, em novembro passado, na 12 Conferência das Partes da Convenção sobre Mudança do Clima (COP-12) em Nairóbi (Quênia).
Na ocasião, a ministra propôs a criação de um mecanismo de incentivos, em forma de investimentos em um fundo para países em desenvolvimento que efetivamente reduzirem as emissões de gases com o combate ao desmatamento. Isso com o governo federal encabeçando uma campanha mundial pelo biocombustível brasileiro e a ameaça desse novo cultivo se tornar mais um predador da floresta.
O projeto apresentado por Marina Silva foi criado por três organizações não-governamentais (ONGs) com o nome "reduções compensadas". O máximo que ela conseguiu foi um silêncio absoluto na sala de conferências, a qual reunia mais de 180 nações, e a promessa da direção do evento de analisar o tema.
Papua Nova Guiné, Costa Rica e Indonésia apresentaram projetos muito semelhantes e, ao contrário do Brasil, foram contemplados pelo Banco Mundial. A criação desse tipo de fundo é uma incógnita até mesmo para os cientistas mais inteirados sobre a situação. "Não sabemos como essas agriculturas vão se comportar em relação à floresta", comentou o cientista do Inpe Gilvan Sampaio.
O diretor da empresa especializada em créditos de carbono Metacortex, Renato Giraldi, mostra preocupação. Acredita que a criação de fundos como o proposto pelo Brasil está longe de ser rentável.
"A questão é que isso não é rentável para nenhum fundo de investimento, ninguém pode assegurar que, além do tempo de maturação da árvore, o montante plantado ou já existente será mantido. Há uma grande desconfiança do investidor estrangeiro sobre o Brasil", destacou.
Fonte: Terra notícias - Gazeta Mercantil
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Lembrando...
Estudo prevê que o Brasil vai sofrer com aquecimento global
22.10.2006 - O Brasil, o Mediterrâneo e o oeste dos Estados Unidos estão entre as regiões que mais vão sofrer as conseqüências do aquecimento global, indica uma nova projeção que prevê secas prolongadas, chuvas intensas e ondas de calor mais longas nas próximas décadas.
O estudo, feito pelo Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica dos EUA, prevê também fenômenos contrastantes, como quedas drásticas de temperatura e uma maior temporada de crescimento vegetal.
O documento divulgado ontem é uma prévia de um relatório plurianual sobre mudança climática que sai no ano que vem. O estudo traz o resultado das previsões de modelos climáticos que foram processados por nove dos computadores mais potentes do mundo, e mostra as conseqüências mais acentuadas, dentro de uma gama de possibilidades.
"Serão tempos difíceis, sobretudo para algumas regiões específicas", diz Claudia Tebaldi, autora principal do documento ao lado de Gerald Meehl, especialista em modelagem climática. As regiões que eles destacam são aquelas sob maior risco de sofrer as conseqüências extremas no espectro de previsões dos modelos.
Alguns lugares, como o noroeste do Pacífico, devem sofrer com uma praga dupla: secas longas pontuadas por chuvas intensas. Com o mundo mais quente, haverá mais chuva no Pacífico tropical, o que mudaria o fluxo de ar em algumas áreas de maneira semelhante à que ocorre no El Niño, mas atingindo mais áreas.
Segundo os cientistas, no Mediterrâneo, a tendência a ficar no extremo das mudanças deriva do fato de as chuvas no Atlântico tropical mudarem as correntes de ar.
O levantamento dos cientistas sai na edição de dezembro do periódico científico "Climatic Change". Segundo Tebaldi e Meehl, o trabalho fornece "evidências mais fortes e mais convincentes de que a possibilidade de essas mudanças extremas acontecerem é maior".
A projeção usou dados sobre dez índices consensuais de medição climática -cinco lidam com temperatura e outros cinco com precipitação- e usaram-nos para rodar os modelos de computador simulando o clima do planeta até 2099. Tebaldi diz que os resultados mais assustadores são os relacionados a ondas de calor. Tudo a respeito delas -intensidade, duração e ocorrência- piora. Outra mudança importante será na intensidade das chuvas. "Quando chover, vai chover mais, mesmo que a freqüência de chuvas não aumente", diz Tebaldi.
Fonte: UOL notícias