24.01.2024 -
Ruja, pois, a tempestade; não morrereis porque estais com Jesus. Se vos assaltar o temor, gritai: Ó meu Salvador, salvai-me! Dar-vos-á a mão; apertai-a e ide, contentes sem filosofar sobre o vosso mal. Enquanto São Pedro confiou, não o submergiu a tempestade; mas quando temeu, afogou-se.
Arme-se contra mim o céu, amotinem-se a terra e os elementos; declarem-me guerra todas as criaturas; nada temo; basta-me saber que estou com Deus e que Deus está comigo.
Nunca nosso bom Deus nos abandona senão para melhor nos reter. Nunca nos deixa senão para nos guardar melhor; nunca luta conosco, senão para se entregar a nós e nos abençoar.
Como seríamos felizes se, submetendo nossa vontade a Deus, O adorássemos quando nos envia tanto tribulações quanto consolações, crendo que os diversos sucessos que nos envia a sua divina mão são para utilidade nossa, para nos purificar na sua santa caridade.
O temor é um mal ainda maior do que o próprio mal. Quanto a mim, há ocasiões em que me parece não ter mais força para resistir, e que, se se apresentasse a ocasião, sucumbiria; mas então mais confio em Deus, e por mais certo tenho que em presença da ocasião Deus me revestiria com a sua força e devoraria os meus inimigos como argueiros.
Sirvamos, pois, hoje a Deus e Ele amanhã providenciará. Cada dia terá seu cuidado, pois, Deus, que reina hoje, reinará amanhã. Ou não vos enviará males, ou se vos enviar, dar-vos-á a coragem precisa para os suportar. Se sois tentados, não desejeis ser livres das tentações. É bom que as experimentemos, para termos ocasião de as combater e colher vitórias. Isto serve para praticar as virtudes mais excelentes e estabelecê-las solidamente na alma.
Para caminhar seguramente nesta vida, é preciso caminhar sempre entre o temor e a esperança; entre o temor dos juízos de Deus, que são abismos impenetráveis, e a esperança da sua misericórdia, que é sem número e sem medidas, ultrapassando todas as suas obras. É preciso temer os seus divinos juízos, mas sem desânimo, assim como se animar à vista da sua misericórdia.
O nosso primeiro mal é que nos temos em grande apreço, e se nos acomete algum pecado ou imperfeição, eis-nos admirados, confusos, impacientes, porque pensávamos estar bons, resolutos e tranquilos; e, portanto, quando vemos que não é assim, quando caímos por terra, eis-nos perturbados e ofendidos de nos deixarmos enganar. Se soubéssemos o que somos, em lugar de nos admirar de cairmos, admirar-nos-íamos estar de pé um só dia ou uma só hora.
Esforçai-vos por fazer com perfeição o que fizerdes, e quando estiver feito, não penseis mais nisso; mas pensai no que tendes para fazer, caminhando com singeleza na via do Senhor, sem atormentar o espírito. Convém odiar os defeitos, não com um ódio cheio de despeito, mas com um ódio tranquilo; olhai-os com paciência e fazei-os servir para vos humilharem na vossa estima. Considerai os vossos defeitos com mais dó do que indignação, mais humildade do que severidade, e conservai o coração cheio de um amor doce, sossegado e terno.
É comum nos que começam a servir a Deus e que ainda não têm experiência da carência da graça e das vicissitudes espirituais, que, quando lhes falta o gosto desta devoção sensível e desta amável luz que os encaminhava nas vias do Senhor, logo perdem as forças e caem em uma grande tristeza e pusilanimidade de coração.
(Excertos da obra 'Pensamentos Consoladores', de São Francisco de Sales)
Visto em: www.sendarium.com
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