20.09.2020 -
O Padre João Tauler narra a seguinte história que aconteceu com ele mesmo:
Durante muitos anos pedira fervorosamente ao Senhor que lhe enviasse alguém que o instruísse na vida espiritual. Um dia ouviu uma voz que lhe dizia: Dirige-te a tal igreja: lá encontrarás o que desejas.
O Padre obedeceu e à porta da igreja indicada encontrou um mendigo, descalço, envolto em trapos, a quem saudou dizendo:
- Bom dia, amigo.
- Obrigado, Sr. - respondeu-lhe o mendigo - não me lembro, porém, de ter jamais tido um mau dia.
- Pois então, conceda-lhe Deus uma vida feliz.
- Nunca fui infeliz, graças a Deus. Ouça-me, Padre. Não foi sem razão que eu disse nunca ter tido um mau dia, pois, se tenho fome, louvo ao bom Deus; se chove ou neva, bendigo-O; se alguém me despreza, me despede, ou se tenho de suportar outros padecimentos, louvo por isso o Senhor. Disse também que nunca fui infeliz, o que é igualmente verdade, pois estou acostumado a querer incondicionalmente o que Deus quer. Tudo o que vem sobre mim, seja agradável ou desagradável, recebo com alegria de suas mãos como a coisa melhor para mim, e isso constitui a minha felicidade.
- Mas se Deus quisesse condenar-te, o que dirias então?
- Se Deus assim o quisesse, com humildade e amor prender-me-ia tão estreitamente a Ele que, precipitando-me ao inferno, arrastá-lo-ia comigo e junto dele achar-me-ia tão feliz no inferno como sem ele infeliz no Céu.
- Onde encontraste a Deus?
- Achei-o quando abandonei as criaturas.
- Quem és tu?
- Um rei.
- Onde tens teu reino?
- No meu coração, onde reina a ordem, pois as minhas paixões obedecem à razão e a minha razão a Deus.
- Como conseguiste tal perfeição?
- Calando-me diante dos homens para me ocupar com o meu Salvador e conservando-me continuamente unido a Deus, em Quem encontro o meu descanso e toda a minha felicidade.
Assim, com a sua conformidade com a vontade de Deus, conseguira esse mendigo uma grande perfeição e apesar de sua pobreza sentia-se mais rico que todos os príncipes do mundo e, não obstante seus padecimentos, mais feliz que todos os mundanos na posse das alegrias terrestres.
Santo Afonso de Ligório in 'A Escola da Perfeição Cristã'
Fonte: senzapagare.blogspot.com
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Das Homílias de São João Crisóstomo: Reconhecer Cristo no pobre.
"Queres honrar o Corpo de Cristo? Então não O desprezes nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres no templo com vestes de seda, enquanto O abandonas lá fora ao frio e à nudez. Aquele que disse: «Isto é o Meu Corpo» (Mt 26, 26), e o realizou ao dizê-lo, é o mesmo que disse: «Porque tive fome e não Me destes de comer» (cf. Mt 25, 35); e também: «Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer» (Mt 25, 42.45). Aqui, o corpo de Cristo não necessita de vestes, mas de almas puras; além, necessita de muito afeto. [...] Deus não precisa de vasos de ouro, mas de almas que sejam de ouro. Não vos digo isto para vos impedir de fazer doações religiosas, mas defendo que simultaneamente, e mesmo antes, se deve dar esmola. [...] Que proveito resulta de a mesa de Cristo estar coberta de taças de ouro, se Ele morre de fome na pessoa dos pobres?
Sacia primeiro o faminto, e depois adornarás o Seu altar com o que sobrar. Fazes um cálice de ouro e não dás «um copo de água fresca»? (Mt 10, 42). [...] Pensa que se trata de Cristo, que é Ele que parte errante, estrangeiro, sem abrigo; e tu, que não O acolheste, ornamentas a calçada, as paredes e os capiteis das colunas, prendes com correntes de prata as lâmpadas, e a Ele, que está preso com grilhões no cárcere, nem sequer vais visitá-Lo? [...] Não te digo isto para te impedir de tal generosidade, mas exorto-te a que a acompanhes ou a faças preceder de outros atos de beneficência. [...] Por conseguinte, enquanto adornas a casa do Senhor, não deixes o teu irmão na miséria, pois ele é um templo e de todos o mais precioso".
São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero em Antioquia, depois Bispo de Constantinopla, Doutor da Igreja
Homílias sobre o Evangelho de Mateus, n°50, 3-4 (a partir da trad. breviário)
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