11.07.2020 -
Antes de tudo, quando quiseres realizar algo de bom, pede a Deus com oração muito insistente que seja plenamente realizado por Ele. Pois já tendo se dignado contar-nos entre o número de seus filhos, que Ele nunca venha a se entristecer por causa de nossas más ações. Assim, devemos em todo tempo por a seu serviço os bens que nos concedeu, para não acontecer que, como Pai irado, venha a deserdar seus filhos; ou também, qual Senhor temível, irritado com os nossos pecados, nos entregue ao castigo eterno, como péssimos servos que não O quiseram seguir para a glória.
Levantemo-nos, enfim, pois a Escritura nos desperta dizendo: 'Já é hora de levantarmos do sono' (Rm 13,11). Com os olhos abertos para a luz deífica e os ouvidos atentos, ouçamos a exortação que a voz divina nos dirige todos os dias: 'Oxalá, ouvísseis hoje a sua voz: não fecheis os corações' (Sl 94,8) e ainda: 'Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas' (Ap 2,7). E o que diz Ele? 'Meus filhos, vinde agora e escutai-me: vou ensinar-vos o temor do Senhor' (Sl 33,12). 'Correi, enquanto tendes a luz da vida, para que as trevas não vos alcancem' (Jo 12,35).
Procurando o Senhor o seu operário, na multidão do povo ao qual dirige estas palavras, diz ainda: 'Qual o homem que não ama sua vida, procurando ser feliz todos os dias?' (Sl 33,13). E se tu, ao ouvires este convite, responderes: 'Eu', Deus te dirá: 'Se queres possuir a verdadeira e perpétua vida, afasta a tua língua da maldade e teus lábios de palavras mentirosas. Evita o mal e faze o bem, procura a paz e vai com ela em seu caminho' (Sl 33,14-15). E quando fizeres isto, então meus olhos estarão sobre ti e meus ouvidos atentos às tuas preces; e antes mesmo que me invoques, eu te direi: 'Eis-me aqui' (Is 58,9).
Que há de mais doce para nós, caríssimos irmãos, do que esta voz do Senhor que nos convida? Vede como o Senhor, na sua bondade, nos mostra o caminho da vida! Cingidos, pois, os nossos rins com a fé e a prática das boas ações, guiados pelo Evangelho, trilhemos os seus caminhos, a fim de merecermos ver Aquele que nos chama ao seu reino (1Ts 2,12). Se queremos habitar na tenda real do acampamento desse reino, é preciso correr pelo caminho das boas ações; de outra forma, nunca chegaremos lá.
Assim como há um zelo mau de amargura, que afasta de Deus e conduz ao inferno, assim também há um zelo bom, que nos separa dos vícios e conduz a Deus. É este zelo que os monges devem por em prática com amor ferventíssimo, isto é, antecipando-se uns aos outros em atenções recíprocas (Rm 12,10). Tolerem pacientissimamente as suas fraquezas, físicas ou morais; rivalizem em prestar mútua obediência; ninguém procure o que julga útil para si, mas sobretudo o que o é para o outro; ponham em ação castamente a caridade fraterna; temam a Deus com amor; amem o seu abade com sincera e humilde caridade; nada, absolutamente nada, prefiram a Cristo; e que Ele nos conduza a todos para a vida eterna.
(Das Regras de São Bento)
Via: www.sendarium.com e www.rainhamaria.com.br
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