Dom Lourenço Fleichman: O Teatro de Dom Fernando Rifan em Brasília


22.05.2019 -

n/d

(Artigo/opinião de Dom Lourenço Fleichman)

Antes de assistir aos vídeos da cerimônia – que não foi uma consagração feita pelo presidente, mas um papel assinado por algumas personalidades presentes e entregue não ao Presidente Bolsonaro, mas a um desses secretários de governo – eu cheguei a me perguntar se o meu texto criticando essa consagração não teria esquecido o lado de piedade que talvez pudesse ser real.

Mas quando percebi que o Presidente Bolsonaro esteve presente só fisicamente, que seu espírito vagava por outros desertos (estaria ele preocupado com a reação dos “irmãos”?), que estava como que constrangido, que não teve absolutamente nenhuma participação, nem mesmo um sorriso, um ato de piedade, nada!

Sobretudo quando vi a filmagem de um grupo de pessoas em torno de Dom Fernando Rifan, no meio de uma confusão de pessoas, de falatórios, como se estivesse conversando num bar, dirigir-se à imagem da Virgem Maria, fingindo ler para ela o texto da tal “consagração”, sem um mínimo gesto de piedade, sem silêncio, sem se ajoelhar, ou seja, um ato típico de Dom Rifan, muito popular, muito sorridente, muito falatório… e só! Então eu tive a certeza de que meu texto foi fraco para exprimir a realidade desse circo montado no Palácio do Planalto.

Salvo engano, quem consagrou o Brasil a Nossa Senhora foi Dom Rifan, e não o Presidente Bolsonaro. Que piada!

Tudo ali era falso: presença falsa do Presidente Bolsonaro, citado no texto lido, mas ausente na leitura feita pelo bispo; consagração falsa que não consagrou coisa nenhuma, por falta de autoridade para tal ato, falta de formalidades católicas, da solenidade requerida para uma verdadeira consagração; falsa piedade desse grupo de pobre gente enganada, que levados pela autoridade de um bispo achava que estavam, de fato, se dirigindo à Nossa Senhora e, pior, achavam que estavam com isso salvando o Brasil!

Acham que isso que nos proporcionaram é o supra sumo da restauração, o início da “conversão”, a reviravolta da decadência do cristianismo. Não percebem que são ridículos, vazios, inócuos, e que vão ser varridos do mapa se o governo não acertar o passo com seriedade. Não com fantasias de um fingimento de catolicismo.

O que falta para o governo e para o Brasil não é a consagração a Nossa Senhora.

Necessitamos com urgência que alguém gabaritado, sábio, profundo, ponderado, tenha acesso ao presidente para conduzi-lo por caminhos de sabedoria, de pulso firme para liderar seus colaboradores sem intrigas e brigas internas. Alguém que eduque o presidente, essa é a verdade.

O Brasil tentou manter o catolicismo em diversas ocasiões, mas não conseguiu.

Quando Dom Pedro I voltou para Portugal para derrubar seu irmão Miguel, que era católico e verdadeiro herdeiro do trono português, iniciou-se a destruição do catolicismo brasileiro.

Quando a maçonaria foi tomando conta do governo imperial, quando estabeleceu o padroado abusivo, quando pôs em ferros dois grandes bispos brasileiros, já o catolicismo era moribundo.

Quando os militares maçons proclamaram a república para impedir que a católica Isabel assumisse o trono brasileiro, esfaquearam mais uma vez o pais já morto.

Depois disso, no século XX, apesar das grandes restaurações de bispos do porte do Cardeal Leme, jamais os governos devolveram à Pátria brasileira seu maior tesouro, o catolicismo profundo, real, institucional.

Nossos militares em 1964 tiraram o Brasil da lama comunista, mas não tinham a profundidade necessária para compreender seu papel de católicos, que lhes impunha a obrigação de aproveitar a ocasião para devolver a Nosso Senhor Jesus Cristo a autoridade que lhe fora usurpada desde a independência.

E a profundidade que reclamamos aos nossos governantes é o conhecimento da filosofia política a mais elementar, da ciência do Bem Comum, do Direito Natural, do ensinamento político de grandes sábios, de Aristóteles a Santo Tomás de Aquino. Conhecimento dos fundamentos naturais da família, não apenas nos discursos de campanha, mas ensinado nas escolas e tornados realidade no pensamento comum de qualquer brasileiro. Conhecimento da moral católica, a única que pode estruturar corretamente as razões mais profundas que nos obrigam a praticar o bem e a fugir do mal, do vício e dos pecados. E todo esse ensinamento natural elevado pelo ensinamento bi-milenar da Igreja Católica, de sua Tradição, de seus dogmas, de sua espiritualidade, santificado pela graça de Deus.

A crise que vivemos há 200 anos é uma crise espiritual de perda da identidade do povo brasileiro. Até os anos 60-70, gostávamos de nos vangloriar de termos 90% de católicos. Pobre catolicismo de meia tigela! Que vazio espiritual!

Como podemos imaginar que depois de dois séculos de laicismo, de estagnação do catolicismo, alguém poderá pensar no domínio de Jesus Cristo Rei sobre o Brasil? Assim, com esse tipo de gente lavada, de gente morna, de legalistas que se derretem diante de qualquer esbarrão e vão logo beijar as botas de qualquer tirano que lhes acosse?

Causa-me rubor pensar que pessoas inteligentes e equivocadas (os liberais da nossa economia, por exemplo, um Gudin, um Bulhões, e hoje um Guedes, ou ainda os retos militares que nos salvaram do comunismo, mas que desconheciam a verdadeira fé católica) olhem para esse catolicismo e sintam aversão à santa Religião por causa do ridículo que eles percebem nesses conservadores do nada.

E nós teríamos que gritar: senhores, sábios do nosso Brasil, elite da inteligência nacional, não é isso o catolicismo! Não se enganem, procurem mais alto, levantem o voo do espírito e vejam! Grandes são os horizontes para a inteligência sedenta de verdade, para o coração palpitante de verdadeiro amor. Convertam-se, pois vale a pena conhecer a verdadeira fé. Lembrem-se de um São Paulo, da coragem dos mártires, dos grandes doutores como Santo Agostinho, São Leão Magno, São Gregório ou Santo Ambrósio. Sem falar no Doutor comum da Igreja, o angélico Santo Tomás de Aquino.

Procurem a inteligência da fé, pois eles já nos ensinaram há 1600 anos as elevadas luzes da verdadeira ciência!

E se quiserem conhecer as obras civilizacionais, lembrem-se dos monges em seus mosteiros, das grandes catedrais, dos grandes missionários, inclusive os jesuítas que formaram o Brasil católico, do Padre Manuel da Nóbrega, do Padre José de Anchieta e tantos outros.

Finalmente, se o coração for arrebatado por um impulso interior que os leve em busca do Amor, voltem seus olhos para São João da Cruz, Santa Tereza d´Avila e tantos místicos que fazem da Igreja Católica o maior celeiro de santidade jamais visto sobre a Terra.

Isso sim, é catolicismo, não essa farofa amolecida que os conservadores querem nos impingir.

Por tudo isso, a Permanência, que há 50 anos guarda a Fé e a Tradição, alerta seus leitores, seus amigos, e todos os que freqüentam nossas missas, para não se deixarem enganar com o triste espetáculo que vimos acontecer em Brasília neste 21 de maio de 2019.

Visto em: catolicosribeiraopreto.com

 

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