Santo Antão, o Eremita: "Temos inimigos poderosos e fortes, são os malvados demônios; e contra eles é nossa luta"


17.01.2019 - Nota de www.rainhamaria.com.br

O demônio atacava Antão molestando-o de noite e instigando-o de dia, de tal modo que até os que o viam podiam aperceber-se da luta que se travava entre os dois.

Foi o próprio SENHOR quem prometeu a Antão, que seus combates se tornariam célebres em todo o mundo: “Porque aguentaste sem te renderes, Serei sempre teu auxílio e te tornarei famoso em toda parte”.

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O Espírito Santo o iluminou e ele abandonou todas as coisas para viver como eremita. Pai do monaquismo cristão, Santo Antão nasceu no Egito em 251 e faleceu em 356.

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Parte da Obra: Vida de Santo Antão - por Santo Atanásio

Santo Atanásio escreveu a "Vida", segundo alguns, por ocasião de seu primeiro desterro no deserto, na Tebaida, encontrando-se entre os monges, 356-362; segundo outros, tê-la-ia escrito em sua volta definitiva a Alexandria, depois de 366. Atualmente já ninguém discute que tenha sido efetivamente Santo Atanásio o autor da "Vida".

"Lutemos, pois, para que a ira não nos domine nem a concupiscência nos escravize; pois está escrito que 'a ira do homem não faz o que agrada a Deus' (Tg 1,20). E a concupiscência 'depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte' (Tg 1,15). Vivendo esta vida, mantenhamo-nos cuidadosamente atentos e, como está escrito, 'guardemos nosso coração com a máxima vigilância' (Pr 4,23). Temos inimigos poderosos e fortes: são os malvados demônios; e contra eles é nossa luta', como diz o Apóstolo, 'não contra gente de carne e osso, mas contra forças espirituais de maldade espalhados nos ares, isto é, os que têm autoridade e domínio sobre este mundo tenebroso (Ef 6,12). Grande é seu número no ar e em redor de nós [32], e não estão longe de nós. Mas a diferença entre eles é considerável. Levaria muito tempo para dar uma explicação de sua natureza e distinções, e tal investigação é para outros mais competentes do que eu; o único urgente e necessário para nós agora é só conhecer suas vilanias contra nós.

4.1 - Artifícios dos demônios

Em primeiro lugar, demo-nos conta disto: os demônios não foram criados como demônios, tal como entendemos este termo, porque Deus não fez o mal. Também eles foram criados puros, mas desviaram-se da sabedoria celestial. Desde então andam vagando sobre a terra. Por um lado, enganaram aos gregos com vãs fantasias [33], e, invejosos de nós, cristãos, nada omitiram para nos impedir de entrar no céu; não querem que subamos ao lugar de onde caíram. Por isso é necessário muita oração e disciplina ascética para que alguém possa receber do Espírito Santo o dom do discernimento dos espíritos e ser capaz de conhecê-los; qual deles é menos mau, qual o pior; que interesse especial tem cada um e como hão de ser repelidos e lançados fora; pois são numerosas suas astúcias e maquinações. Bem sabiam isto o santo Apóstolo e seus discípulos quando diziam: 'Conhecemos muito bem suas manhas' (2 Cor 2,11). E nós, ensinados por nossas experiências, deveríamos guiar outros a apartarem-se deles. Por isso eu, tendo feito em parte essa experiência, falo a vocês como a filhos meus.

Quando eles vêem que os cristãos em geral, mas em particular os monges, trabalham com cuidado e fazem progressos, primeiro os assaltam e tentam colocando-lhes continuamente obstáculos em seus caminhos (Sl 139,6). Estes obstáculos são os maus pensamentos. Mas não devemos assustar-nos com suas armadilhas que são logo desbaratadas com a oração, o jejum e a confiança no Senhor. No entanto, ainda que desbaratados, não cessam, mas antes voltam ao ataque com toda maldade e astúcia. Quando não podem enganar o coração com prazeres abertamente impuros, mudam de tática e vão ao ataque. Então urdem e fingem aparições para aturdir o coração, transformando-se e imitando mulheres, bestas, répteis, corpos de grande estatura e hordas de guerreiros. Nas nem assim devem esmagar-nos o modo de semelhantes fantasmas, já que não passam de pura vaidade - especialmente se se fortalece com o sinal da cruz.

Este aparece freqüentemente desta maneira como, por exemplo, o Senhor revelou a Jo: 'Seus olhos são como pálpebras da aurora. De sua boca saem tochas acesas, chispas de fogo saltam fora. De suas narinas sai fumaça como de panela ou caldeirão a ferver. Seu sopro acende carvões e de sua boca saem chamas' (Jo 41,18-21). Quando o chefe dos demônios aparece desta maneira, o velhaco trata de atemorizar-nos, como disse antes, com seu falar valentão, tal como foi desmascarado pelo Senhor quando disse a Jo: 'Tem toda arma por folha seca e zomba de brandir da azagaia; faz ferver como uma panela o mar profundo e o revolve como uma panela de ungüento (Jo 41,29,31); também diz o profeta: 'Disse o inimigo: Persegui-los-ei e os alcançarei (Ex 15,9); e em outra parte: 'Minha mão achou como ninho as riquezas dos povos, e como se recolhem ovos abandonados, assim me apoderei de toda a terra' (Is 10,14).

Esta é, em resumo, a jactância do que alardeiam, estas são as arengas que fazem para enganar o que teme a Deus. Com toda confiança não precisamos temer suas aparições nem dar atenção a suas palavras. É apenas um embusteiro e não há verdade em nada do que diz. Quando fala semelhantes estultícias, e o faz com tanta jactância, não se apercebe de de como é arrastado com um garfo de ferro, como dragão, pelo Salvador (cf Jo, 41, l-2), com um cabresto como animal de carga, com anel no nariz como escravo fugitivo, e com seus lábios atravessados por uma argola de ferro. Foi, pois, apanhado como animal pra nossa diversão. Tanto ele como seus companheiros foram tratados assim para serem pisados como escorpiões e cobras (cf Lc 10,19) por nós, cristãos; e prova disso é o fato de que continuamos a existir, apesar dele. Certamente não é verdadeira luz a que aparece neles, mas antes é mero começo e semelhante ao fogo preparado para eles próprios; e com o mesmo que os queimará tratam de aterrorizar os homens. Aparecem, é verdade, mas desaparecem de novo no mesmo momento, sem danificar nenhum crente, enquanto levam consigo essa aparência de fogo que os espera. Por isso, não há razão alguma para ter medo deles, pois, pela graça de Cristo todas as suas táticas dão em nada.

Outras vezes se disfarçam em monges e simulam piedosas conversas, tendo como meta enganar com sua aparência e arrastar então suas vítimas para onde querem. Mas não lhes devemos prestar atenção, ainda que nos despertem para orar, ou nos aconselhem a não comer de todo, ou pretendem nos acusar de coisas que antes aprovavam. Fazem isto não por amor à piedade ou à verdade, mas para levar o inocente ao desespero, para apresentar a vida ascética como sem valor e fazer com que os homens se enfastiem da vida solitária como algo muito rude e demasiadamente pesado, e assim fracassem os que levam tal vida.

Por isso o profeta enviado pelo Senhor chamou a tais infelizes com estes termos: 'Ai daquele que dá a beber a seu próximo um mau trago!' (Hab 2,15). Tais táticas e argumentos são desastrosos para o caminho que conduz à virtude. Nosso Senhor mesmo, ainda que os demônios falassem também a verdade - pois diziam verdadeiramente: 'Tu és o Filho de Deus' (Lc 4,41) -, não obstante os fez calar e proibiu-lhes falar. Não quis que esparramassem sua própria maldade junto com a verdade, e tampouco desejava que fizéssemos caso deles ainda quando aparentemente falassem verdade. Por isso é inconveniente que nós, possuindo as Escrituras e a liberdade do Salvador, sejamos ensinados pelo demônio que não ficou em seu posto (cf Judas 6), mas constantemente mudou de parecer. Por isso também proíbe-lhe citar as Escrituras, ao dizer: 'Deus disse ao pecador: Por que recitas meus preceitos e tens sempre em tua boca minha aliança?' (Sl 49,16). Certamente eles fazem de tudo: falam, gritam, enganam, confundem, e tudo para enganar o simples. Armam também tremendos estrépitos, soltam risadas tontas e sibilos. Se ninguém faz caso deles, choram e lamentam-se como derrotados.

O Senhor, por isso, porque é Deus, fez os demônios calarem-se. Quanto a nós, aprendemos nossas lições dos santos, fazemos como eles fizeram e imitamos-lhe o valor. Pois quando eles viam tais coisas, costumavam dizer: 'Quando o pecador se levantou contra mim, guardei silêncio resignado, não falei com leviandade (Sl 38,2); e em outra parte: 'Mas eu como um surdo não ouço, como um mudo não abro a boca; sou como alguém que não ouve' (Sl 37,14). Assim também nós não os escutemos, olhando-os como a estranhos, não lhes prestando atenção, ainda que nos despertem para a oração ou nos falem de jejuns. Antes, sigamos atentos a prática da vida ascética como é nosso propósito, e não nos deixemos enganar pelos que praticam a traição em tudo o que fazem. Não lhes devemos ter medo ainda que apareçam para atacar-nos e ameaçar-nos de morte. Na realidade são frágeis e nada podem fazer mais do que ameaçar.

4.2 - Impotência dos Demônios

Bem, até agora só falei deste tema de passagem. Mas agora não devo deixar de tratá-lo com maiores detalhes; recordar-lhes isto só pode redundar em maior segurança.

Desde que o Senhor habitou conosco, o inimigo caiu e declinaram seus poderes. Por isso não pode nada; no entanto, ainda que caído, não pode ficar quieto, mas como tirano que não pode fazer outra coisa, vai-se com ameaças, sejam elas embora puras palavras. Cada qual lembre-se disto e poderá desprezar os demônios. Se estivessem confinados a corpos como os nossos, deveriam então dizer: 'Aos que se escondem, não os vamos encontrar; mas se os encontramos, então vamos daná-los'. E neste caso poderíamos escapar deles escondendo-nos e trancando as portas. Não é este, porém, o caso, e podem entrar apesar das portas trancadas. Vemos que estão presentes em todas as parte no ar, eles e seu chefe, o demônio, e sabemos que sua vontade é má e que estão inclinados a danar, e que, como diz o Salvador, 'o demônio foi homicida desde o princípio' (Jo 8,44); então, se apesar de tudo vivemos, e vivemos nossas vidas desafiando-o, é claro que não tem nenhum poder. Como vêem, o lugar não lhes impede a conspiração; tampouco nos vêem amáveis com eles como para que nos perdoem, nem tampouco são amantes do bem para mudar seus caminhos. Não, ao contrário, são maus e nada há que desejem mais ansiosamente do que fazer dano aos amantes da virtude e aos adoradores de Deus. Pela simples razão de serem impotentes para fazer algo, nada fazem senão ameaçar. Se pudessem, estejam vocês seguros de que não esperariam, mas, antes, realizariam seus mais fortes desejos: o mal, e isso contra nós. Notem, por exemplo, como agora estamos reunidos aqui falando contra eles, e ademais eles sabem que na medida em que fazemos progressos, eles se debilitam. Em verdade, se estivesse em seu poder, não deixariam vivo nenhum cristão, porque o serviço de Deus é abominação para o pecador (Sir 1,25). E posto que não podem nada, fazem dano a si mesmos, já que não podem cumprir suas ameaças.

Ademais, para acabar com o medo a eles, dever-se-ia também levar em conta que, se tivessem algum poder, não viriam em manadas, nem recorreriam a aparições, nem usariam o artifício de transformar-se. Bastaria que viesse apenas um e fizesse o que fosse capaz de fazer, ou de acordo com sua inclinação. O mais importante de tudo é que o detentor do poder não se esforça em matar com fantasmas nem trata de aterrorizar com hordas, mas, sem mais histórias, usa de seu poder como quer. Atualmente, porém, os demônios, impotentes como são, fazem piruetas como se estivessem sobre um cenário, mudando suas formas em espantalhos infantis, com manadas ilusórias e contorções, tornando-se assim mais desprezível sua carência de vigor. Estejamos seguros: o anjo verdadeiro, enviado pelo Senhor contra os assírios, não teve necessidade de grande número, nem de ilusões visíveis, nem de sopros retumbantes, nem de ressoar de guizos; não, ele exerceu tranqüilamente seu poder, e de uma vez matou cento e oitenta e cinco mil deles (cf 2 Rs 19,35). Mas os demônios, impotentes criaturas como são, tratam de aterrorizar, e isto com meros fantasmas!

Se alguém, ao examinar a história de Jo dissesse: 'Por que, então, continuou o demônio agindo contra ele? Despojou-o de suas posses, matou seus filhos e o feriu com graves úlceras' (cf Jo, 1,13ss; 2,7), que essa pessoa se aperceba de que não se trata de que o demônio tivesse poder para fazer isso, mas Deus é que lhe entregou Jo para que o tentasse (cf Jo 1,12). Fica suposto que não tinha poder para fazê-lo; pediu esse poder e só depois de havê-lo recebido agiu. Aqui temos outra razão para desprezar o inimigo, pois ainda que tal fosse o seu desejo, não foi capaz de vencer o homem justo. Se o poder houvesse sido dele, não haveria necessidade de pedi-lo, e o fato de o pedir não uma, mas duas vezes, mostra sua fraqueza e incapacidade. Não é de estranhar que não tivesse poder contra Jo, quando lhe foi impossível destruir nem mesmo seus animais, a não ser que Deus lhe desse permissão. Mas não tem poder nem sequer contra porcos, como está escrito no Evangelho: (Mt 8,31). Mas se não têm poder nem sequer sobre animais, muito menos o têm sobre os homens feitos à imagem de Deus.

Por isso se deve temer a Deus e desprezar esses seres, sem lhes ter medo, absolutamente. E quanto mais se dedicam a tais coisas, tanto mais dediquemo-nos à vida ascética para contra atacá-los, pois uma vida reta e a fé em Deus são grande arma contra eles. Temem aos ascetas por seu jejum, suas vigílias, orações, mansidão, humildade, amor aos pobres, esmolas, ausência de ira, e, acima de tudo, sua lealdade para com Cristo. Esta é a razão pela qual tudo fazem para que ninguém os espezinhe. Conhecem a graça dada pelo Salvador aos crentes quando diz: 'Olhem: dei-lhes o poder de calcar aos pés serpentes e escorpiões e todo o poder do inimigo' (Lc 10,19).

Visto em:  www.ecclesia.com.br 

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Nota de www.rainhamaria.com.br

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