16.09.2018 -
Por Adolph Tanquerey
Para triunfar das tentações e fazê-las servir ao bem espiritual da nossa alma, três coisas principais se devem observar: 1º Prevenir a tentação; 2º Combatê-la vigorosamente; 3º Agradecer a Deus depois da vitória, ou levantar-se após a queda.
Trata-se especificamente de cada um destas três coisas em três postagens distintas. Nesta primeira postagem da série aborda-se a questão de como prevenir a tentação
Prevenir a tentação
Conhecemos o provérbio: Mais vale prevenir que remediar. É também o que aconselha a sabedoria cristã. Quando Cristo Senhor Nosso conduziu os três apóstolos ao jardim da Oliveiras, disse-lhes: “Vigiai e orai, para não entrardes em tentações”(Mt 26, 41). Vigilância e oração, eis pois, os dois grandes meios de prevenir a tentação.
Vigiar é estar de atalaia em torno da própria alma, para não se deixar colher de sobressalto. E é tão fácil sucumbir num momento de surpresa! Esta vigilância implica duas disposições principais: desconfiança de si mesmo e confiança em Deus.
É, pois, necessário evitar a presunção orgulhosa que nos lança para o meio dos perigos, a pretexto de que somos assaz fortes para deles triunfar. Foi o pecado de São Pedro que, no momento em que Jesus predizia a fuga dos apóstolos, exclamava: “Ainda quando sejais para todos uma ocasião de queda, para mim nunca o sereis” (Mc 14,29).
Reflitamos, pelo contrário, que aquele que julga estar de pé deve ter cuidado, não vá cair”(ICor 10, 12); porque, se o espírito está pronto, a carne é fraca, e segurança não se encontra senão na desconfiança humilde da própria fraqueza.
Mas devem-se evitar igualmente esses vãos terrores que não fazem senão aumentar o perigo. É bem verdade que somos fracos por nós mesmos, mas invencíveis naquele que nos conforta: “Deus que é fiel não permitirá que sejais tentados mais do que podem as vossas forças. Antes fará que tireis ainda vantagem da mesma tentação, para a poderdes suportar”(ICor 10, 13).
Esta justa desconfiança de nós mesmos faz-nos evitar ocasiões perigosas, tal companhia, tal divertimento, etc., em que a nossa experiência nos mostrou que nos vimos expostos a cair. Combate a ociosidade, que é uma das ocasiões mais perigosas, bem como essa moleza habitual, que afrouxa as energias da vontade e a prepara a todas as capitulações. Tem horror desses fúteis devaneios que povoam a alma de fantasmas que não tardam a tornar-se perigosos. Numa palavra, pratica a mortificação sob as diferentes formas e aplica-se aos deveres de estado, à vida interior e ao apostolado. E, então, no meio desta vida intensa, resta pouco lugar para tentações.
A vigilância deve exercer-se especialmente sobre o ponto fraco da alma, visto ser geralmente desse lado que vem o assalto. Para fortificar esse ponto vulnerável, é lançar mão do exame particular, que por tempo notável concentra a atenção sobre esse defeito, ou melhor ainda sobre a virtude contrária.
À vigilância é preciso ajuntar a oração, que, colocando a Deus do nosso lado, nos torna invencíveis. Afinal, Deus acha-se interessado em nossa vitória, porque é a Ele que o demônio quer atingir em nossa pessoa, é a sua obra que ele quer destruir em nós. Podemos invoca-lo com santa confiança, seguros de que Ele nada mais deseja que socorrer-nos. Contra a tentação é boa toda a oração: vocal ou mental, privada ou pública, sob forma de adoração ou de petição. É bom, sobretudo nas horas de paz, orar para o tempo de tentação. No momento em que esta se apresenta, não há mais tempo senão para elevar rapidamente o coração a Deus, para resistirmos com mais vigor.
Visto em: capelasantoagostinho.com
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