31.07.2018 - Nota de www.rainhamaria.com.br
Artigo Publicado em 07.09.2014
====================================
Agora recorreis a Mim? Pedi socorro às criaturas, já que foram elas os vossos deuses
Diz na Sagrada Escritura:
"Eles dizem a um pedaço de madeira: Tu és o nosso pai! E a uma pedra: Tu geraste-nos! Eles voltam para Mim as costas, e não o rosto. Mas, na hora da angústia, eles dizem-Me: Vem! Salva-nos! Onde estão os deuses que fabricaste? Que eles te venham salvar no dia da aflição, pois os teus deuses, Judá, são tantos como as tuas cidades". (Jeremias 2, 27-28)
Não uma só, senão muitas serão as angústias que hão de afligir o pobre pecador moribundo. Ver-se-á atormentado pelos demônios, porque estes terríveis inimigos empregam nesse transe todos os seus esforços para perder a alma que está prestes a sair desta vida.
Sabem que lhes resta pouco tempo para apoderar-se dela e que, escapando-se agora, jamais será sua (Ap 12,12). Não estará ali apenas um só, mais muitos demônios hão de rodear o moribundo para o perder.
Dirá um: “Nada temas, que te restabelecerás”. Outro exclamará: “Tu, que durante tantos anos foste surdo à voz de Deus, esperas agora que ele tenha misericórdia de ti?” “Como — intervém outro — poderás reparar os danos que fizeste, restituir as reputações que prejudicaste?” Outro, enfim, dirá: “Não vês que todas as tuas confissões foram nulas, sem contrição, sem propósito? Como podes agora renová-las?’ Por outro lado, o moribundo se verá rodeado por suas culpas.
Estes pecados, como outros tantos verdugos — disse São Bernardo, acercar-se-ão dele e lhe dirão: “Somos a tua obra, e não te deixaremos. Acompanhar-te-emos à outra vida, e contigo nos apresentaremos ao eterno Juiz”. Quisera então o moribundo desembaraçar-se de tais inimigos, mas para consegui-lo seria preciso detestá-los e converter-se de Deus de todo o coração. O espírito, porém, está coberto de trevas, e o coração endurecido. “O coração duro será oprimido de males no fim; e quem ama o perigo, nele perecerá” (Eclo 3,27).
Afirma São Bernardo que o coração, obstinado no mal durante a vida, se esforçará, no momento da morte, para sair do estado de condenação; mas não chegará a livrar-se dele, e, oprimido por sua própria malícia, terminará a sua vida no mesmo estado. Tendo amado o pecado, amava também o perigo da condenação. É por isso justamente que o Senhor permitirá que ele pereça nesse perigo, no qual quis viver até à morte. Santo Agostinho disse que aquele que não abandona o pecado antes que o pecado abandone a ele, dificilmente poderá na hora da morte detestá-lo como é devido, pois tudo o que fizer nessa emergência, o fará obrigadamente.
Quão infeliz é o pecador obstinado que resiste à voz divina! O ingrato, ao invés de se entregar e enternecer à voz de Deus, se endurece mais e mais, à semelhança da bigorna sob os golpes do martelo (Jó 41,15). Para seu justo castigo, achar-se-á neste estado, na hora da morte, às portas da eternidade. “O coração duro será oprimido de males no fim”. Por amor às criaturas — disse o Senhor — os pecadores me voltaram as costas. À hora da morte recorrerão a Deus, e Deus lhes dirá “Agora recorreis a mim? Pedi socorro às criaturas, já que foram elas os vossos deuses” (Jr 2,27).
Deste modo falar-lhe-á o Senhor, porque, mesmo que a Ele se dirijam, não será om verdadeira disposição de se converterem. Dizia São Jerônimo que ele tinha por certo, pois a experiência lho manifestara, que não alcançaria bom fim aquele que até ao fim houvesse levado vida má.
AFETOS E SÚPLICAS
Socorrei-me e não me abandoneis, amado Salvador meu! Vejo minha alma ferida pelos pecados; as paixões me violentam, oprimem-me os maus hábitos. Prostro-me a vossos pés. Tende piedade de mim e livrai-me de tantos males. “Em vós, Senhor, esperei; não seja confundido eternamente” (Sl 30,2). Não permitais que se perca uma alma que em vós confia (Sl 73,19). Pesa-me de vos ter ofendido, ó infinita Bondade! Confesso que hei cometido muitas faltas, mas a todo custo quero emendar-me. Se não me ajudardes, porém, com vossa graça, estarei perdido.
Recebei, Senhor, este rebelde que tanto vos ultrajou. Refleti que vos custei o sangue e a vida. Pelos merecimentos de vossa paixão e morte, recebei-me em vossos braços e dai-me a santa perseverança.
Estava já perdido, e me chamastes. Já não quero resistir, e me consagro a vós. Prendei-me ao vosso amor, e não permitais que me perca, perdendo de novo vossa graça. Jesus meu, não o permitais! Não o permitais, ó Maria, Rainha de minha alma; enviai-me a morte, e ainda mil mortes, mas que não perca de novo a graça do vosso divino Filho!
- Santo Afonso de Ligório -
Preparação para a morte, morte do pecador , ponto II
Fonte: Dominus Est e www.rainhamaria.com.br
Leia também...
Santo Afonso de Ligório: A Salvação é a única coisa necessária
Se estes mortos voltassem ao mundo, que não fariam pela vida eterna?
Santo Afonso de Ligório: O Nada dos Bens do Mundo
Santo Afonso de Ligório: Considera que és pó e que em pó te hás de converte