21.02.2018 -
Por Péricles Capanema
Tenho lido sobre a situação dos católicos na China e despertam entusiasmo recentes atitudes do cardeal-arcebispo resignatário de Hong Kong, Dom Joseph Zen [foto abaixo], religioso salesiano, 85 anos, saúde delicada.
Cada vez mais isolado nas cúpulas eclesiásticas, cada vez mais ligado e próximo ao católico comum, ao fiel que frequenta igrejas e sacristias (sou um deles). Por quê? Verba movent, exempla trahunt (As palavras movem, os exemplos arrastam). Peçamos a Deus que em seus próximos passos continue a brilhar a fidelidade, coragem e lucidez.
O perfil atual de Dom Joseph Zen o aproxima de um herói anticomunista, o Cardeal Mindszenty (1892-1975) [foto abaixo] que resistiu primeiro ao governo fascista; depois se opôs ao governo comunista de Budapeste (foi preso, torturado e condenado à prisão perpétua em 1949). Ficou na cadeia até ser libertado pelos insurgentes de 1956, quando se refugiou na embaixada dos Estados Unidos.
Também se opôs à política de aproximação de Paulo VI com os governos comunistas da Europa Oriental (a chamada Ostpolitk chefiada pelo Cardeal Agostino Casaroli). A História já deu razão ao antigo primaz de Eztergom, situação que, aliás, lhe foi tirada por Paulo VI; o martirizado Cardeal era obstáculo aos acordos com Budapeste.
Assim se referiu ao Cardeal Mindszenty o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “O non possumus firme de Vossa Eminência, repercutindo no mundo inteiro, vale por uma lição e por um exemplo próprios a manter os católicos na via da fidelidade aos ensinamentos tradicionais imprescritíveis, emanados da Cátedra de Pedro em antigos dias de luta e de glória. E é por esta razão que, a par da admiração, tributamos a Vossa Eminência um agradecimento profundo. […] O Reino Apostólico da Hungria recebeu desde Santo Estêvão a missão gloriosa de ser baluarte da Igreja e da Cristandade. Esta missão, ele a cumpre por inteiro em nossos dias, na Pessoa augusta de Vossa Eminência”.
Ressoam as palavras de Nosso Senhor: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas. Porém o mercenário e o que não é pastor, de quem não são próprias as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas; e foge; e o lobo arrebata e faz desgarrar as ovelhas”, Evangelho de São João.
A parábola faz lembrar Dom Joseph Zen. Pastor zeloso, recusa-se a virar as costas para ovelhas débeis e, congruentemente, sorridente acolher ferozes lobos. No caso, abrir as portas do redil. O Cardeal chinês defende a Igreja subterrânea — ameaçada de abandono e traição por muitos dos que a deviam proteger — denunciando perigos mortais na aceitação do predomínio da Igreja patriótica (fantoche do governo comunista), agora favorecida em sua subserviência nas tratativas levadas a cabo por diplomatas da Santa Sé.
Sintoma espantoso da presente situação, noticiou o “New York Times” de 11 de fevereiro que um dos dois bispos católicos da Igreja subterrânea de quem a Santa Sé reclama a renúncia, Dom Vicente Guo Xijin, bispo de Mindong, aceitou se demitir e ser substituído por um bispo da Igreja oficial, indicado pelos comunistas.
Dom Joseph Zen comentou no seu blog recentes declarações do Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, divulgadas por “La Stampa”, de Turim. Começa assim: “Não há razões para temer uma igreja cismática criada pelo Partido Comunista. Desaparecerá com o colapso do regime. Mas será horrível uma igreja cismática com as bênçãos papais”.
O Cardeal Pietro Parolin afirmou que iria curar as feridas dos católicos perseguidos na China continental com o “bálsamo da misericórdia”. Retrucou o Cardeal Zen: “Misericórdia para os perseguidores? Para seus cúmplices? Premiar traidores? Castigar os fiéis? Forçar um bispo legítimo a entregar seu lugar para um excomungado? De fato, é esfregar sal nas feridas. Noto que há contínua menção à sua compaixão pelos sofrimentos de nossos irmãos na China. Lágrimas de crocodilo”.
“[Os católicos chineses] são vítimas da perseguição de um poder ateu totalitário. Empregar o bálsamo da misericórdia? Não há agravos pessoais a ser perdoados. Eles precisam ser libertados da escravidão. Esta situação dolorosa não foi criada por nós, mas pelo regime. Os comunistas querem escravizar a Igreja”.
Dom Joseph Zen relaciona a presente situação com o passado recente da Igreja: “[O cardeal Parolin] adora a diplomacia da Ostpolitik de seu professor, Casaroli”.
Em matéria do “Wall Street Journal”, 14 de fevereiro, o Arcebispo resignatário de Hong Kong analisou as notícias de que a China exige que a Santa Sé aceite os sete bispos da chamada Igreja Patriótica, bem como que dois bispos fiéis a Roma apresentem renúncia para dar lugar a dois indicados pelo governo. Sobre tais tratativas, advertiu o Cardeal-arcebispo: “Colocam-se lobos na direção do rebanho e eles farão um massacre. Estão indicando más pessoas como pastores do rebanho”.
O que querem os católicos chineses? Responde o Purpurado em seu blog: “Verdadeira liberdade religiosa, que não prejudique, antes favoreça o verdadeiro bem da nação”.
Também foi claro a respeito de sua posição relativa ao Papa Francisco: “Continuo convencido de que existe uma divisão na maneira de pensar entre Sua Santidade e seus colaboradores que se aproveitam do otimismo do Papa. Até que me seja provado o contrário, estou convencido de que defendi o bom nome do Papa, tirando-lhe a responsabilidade das coisas erradas que vêm sendo feitas por seus colaboradores. Se algum dia forem assinados estes maus acordos com a China, obviamente terão o apoio do Papa, então eu me retirarei em silêncio para uma vida monástica.Fonte: www.abim.inf.br
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