15.02.2018 -
As estruturas principais do autoproclamado Estado Islâmico foram desmanteladas na Síria, mas o que restou das crianças que nasceram durante os anos de horror impostos pelo mais sanguinário, covarde e brutal dos grupos terroristas da história recente do planeta?
A ONG Save The Children tem alertado sobre a dramática situação atual das crianças do país, arrasado em grau extremo.
Em seis anos de guerra, muitos dos pequenos nunca viveram outra coisa. A guerra, para eles, é a realidade. As bombas e rajadas assassinas são, para eles, a normalidade. A destruição é a imagem que eles têm do mundo. Sangue, cadáveres, pranto e gritos de desespero são para eles o cotidiano.
Muitas crianças foram forçadas a fugir para o exterior, em trajetos tão perigosos e mortais quanto ficar entre os escombros da terra natal sob o fogo cruzado. Muitas nunca chegaram a nenhum destino. Tanto entre as que sobreviveram ao êxodo quanto entre as que sequer tiveram a chance de tentar fugir, a ONG declara que as consequências são alarmantes:
“70% das crianças sírias sofrem estresse pós-traumático. Ele costuma levar à depressão, a condutas violentas e à tendência ao suicídio”.
Em assentamentos de refugiados sírios como os do Líbano, o drama das crianças é visível, audível, tangível, na forma de terrores noturnos e até de sequelas físicas, como as mechas precoces de cabelos brancos por causa do terror sobrevivido. Uma grande parte dessas crianças, de míseros 6 anos de idade quando muito, presenciou o assassinato ou a morte dramática de pelo menos um familiar.
Os filhos do estupro do Estado Islâmico
Existe ainda um drama talvez maior: o das crianças que não têm sequer identidade. Não têm nome. Não estão registradas em lugar nenhum. Muitas são rejeitadas pela sociedade. São os filhos inocentes, mas estigmatizados, do Estado Islâmico: crianças que nasceram durante a ocupação jihadista, geradas em estupros e casamentos forçados.
Testemunha desse cenário dilacerante é o pe. Firas Lutfi, frade franciscano sírio da Custódia da Terra Santa. Via Rádio InBlu, emissora da rede da Conferência Episcopal Italiana, ele descreve o horror da atual “normalidade” na região:
“Essas crianças nasceram de casamentos forçados, impostos pelos jihadistas. Nestes 6 anos, nasceram centenas de crianças e a sociedade não as aceita nem reconhece. São condenados por serem filhos de jihadistas, ‘gente ruim’, consideradas como não-sírios”.
Para atender essas crianças que de nada têm culpa, os franciscanos de Aleppo criaram um projeto.
“Não podemos deixar essas crianças à margem da sociedade. Estamos implantando um programa de prevenção e educação, mas também registrando e legalizando a existência delas. É um projeto ambicioso, mas queremos ser aquela gota no oceano que faz a diferença. Pelo menos 2.500 pessoas estão envolvidas nesse projeto, e esse número é só o das pessoas que nós conhecemos”.
A árdua tarefa está sendo realizada em parceria com o mundo muçulmano, visando ajudar essas crianças sem nome:
“É um desafio grande, porque nenhuma organização internacional quer abordar este problema. Temos pequeninos de 1 a 6 anos que nunca foram à escola, e que, mais básico ainda, não têm sequer um registro legal na sociedade. Estamos trabalhando num projeto para que o parlamento reconheça a identidade dessas crianças. Também queremos apoiar as mães, ensinar a elas um trabalho e oferecer às crianças a oportunidade de recuperar os anos escolares perdidos”.
Visto em: pt.aleteia.org
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