02.02.2018 -
O sacerdote desempenha o papel de médico das almas. Nosso Senhor nos precedeu, e com que perfeição! Poderia surpreender-nos? Não, claro, é lógico.
Qual a virtude que utilizava para curar almas e os corpos? A misericórdia. O que é misericórdia? É a perfeição da caridade, pois a caridade é, por essência, um dom desinteressado, de modo que, para praticar a misericórdia é preciso ser desinteressado, pois no pecador e no enfermo existe um princípio de morte, e a morte é repugnante e repulsiva. O coração misericordioso percebe através destas repugnâncias uma possibilidade de vida e, controlando suas repugnâncias e esquecendo-se de sim mesmo, reaviva o enfermo e o pecador.
Nosso Senhor tem sido a misericórdia por excelência. Toda a sua vida foi uma obra de misericórdia. “Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, e estando nós mortos por nossos delitos, nos vivificou com Cristo” (Ef 2, 4-5).
Ao mesmo tempo em que ficamos confusos ante a misericórdia que supõe toda a Redenção e ante as misteriosas humilhações de Nosso Senhor em sua Paixão, meditemos para a nossa educação sacerdotal e pastoral as ações e palavras de Nosso Senhor com os pecadores, sem nos deter em todas as enfermidades corporais que aliviou, porque não eram senão a imagem do pecado e de suas conseqüências. Vede a admirável misericórdia daquele pai na comovente história do filho pródigo: “Quando ainda estava longe, seu pai o viu e, compadecido, correu até ele e lançou-se em seu pescoço e o cobriu com beijos” (Lc 15, 20 ). Que exemplo magnífico! E, no caso da mulher adúltera, ele disse: “Vá e não peques mais” (Jo 8, 11). Em suma, tudo se resume nessas palavras: “Seja misericordioso, como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36). E, quantas vezes devemos praticar a misericórdia? “Até setenta vezes sete” (Mt 18, 22).
Não confundamos a misericórdia com a fraqueza, que seria encorajar o pecado. Vede os exemplos que Nosso Senhor nos dá. Sempre exige contrição e arrependimento do pecado. Sim, desde que não tenhamos razões positivas para duvidar da contrição, sejamos misericordiosos.
Em outras palavras, façamos tudo o que pudermos para conservar e fazer crescer a vida. Um sacerdote verdadeiramente zeloso verá e sondará os corações, e saberá, seja corrigindo – pois “o Senhor castiga ao que ama” (Heb 12: 6), diz São Paulo, seja aconselhando. O bom médico é aquele que sabe diagnosticar bem a enfermidade e aplicar o remédio apropriado.
O objetivo do médico é a saúde do paciente. A disposição para alcançá-la consiste em curvar-se até ele e realmente examinar a doença de perto para descobrir suas causas, levando em consideração as circunstâncias. O mesmo se aplica à enfermidade moral em relação ao pecado. O sacerdote deve curvar-se sobre essa miséria. Se o sacerdote não é misericordioso e tem uma atitude de condenação e dureza com o pecador, este último se fechará sob si mesmo e isso talvez cause sua morte. Já não terá mais confiança no sacerdote, não saberá a quem dirigir-se e perecerá.
O sacerdote deve ter piedade em seu coração e saber ouvir as pessoas. Está ali para receber as dores, as dificuldades e as misérias das pessoas, e tentar colocá-las de volta no caminho, pouco a pouco, tranquilamente, algumas vezes sendo firme. Às vezes, obviamente, há de ser firme, cortar com o bisturi, causando danos ao enfermo, mas sempre com um espírito misericordioso e com o objetivo de curar.
Procuremos julgar com benevolência. “Não quero a morte do ímpio, diz o Senhor, mas sim que se converta e viva” (Ez 18,23 e 32); “O Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). Estes são os princípios do verdadeiro sacerdote. Ele pedirá a Deus que o ajude na aplicação prática da administração da penitência e do sacramento da confissão.
A verdade acima de tudo! Não devemos ter princípios pessoais, mas sim os de Nosso Senhor e da Igreja; esta é a verdade. Em suma, é a grande caridade, a verdadeira caridade, a que deve nos guiar, e não a caridade ao modo dos modernistas ou liberais. Desta forma, se diz: “Ame e faça o que quiser” (1), pois se amamos verdadeiramente, isto é, segundo a verdade, amamos as almas e não as pessoas. Se procuramos apenas amar sua vida cristã e a vida eterna, como que movidos pelo Espírito Santo, faremos o que realmente lhes convém e tais almas, vendo que o único que nos guia é seu bem, nos seguirão e aceitarão tudo o que lhes pedimos
Um conselho precioso para este apostolado é nos comportar de tal maneira na sociedade e nas relações sociais, que as pessoas não tenham medo de nos pedir o sacramento da penitência, isto é, manter sempre um comportamento realmente sacerdotal.
A Santidade Sacerdotal – Monsenhor Marcel Lefebvre (arcebispo francês)
(1) Santo Agostinho: “Comentário sobre a primeira epístola de São João”, tratado 7, S 8, PL 35, col. 2033
Visto em: catolicosribeiraopreto.com
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