Lembrando: Por que será, meus irmãos, que quando alguém não dá importância à salvação de sua alma, ele parece não sofrer a menor tentação e o demônio nem sequer se dá ao trabalho de tentá-lo?


29.12.2017 -

n/d

Dos Sermões de São João Batista Maria Vianney

Por que será, meus irmãos, que quando alguém não dá a mínima importância à salvação de sua alma, ele parece não sofrer a menor tentação? Mas assim que ele resolve mudar de vida, em outras palavras, assim que ele deseja reformar sua vida para que Deus venha morar nele, imediatamente todo o inferno cai encima dele?

Ouçamos o que nos diz Santo Agostinho a esse respeito:

"Do modo como o demônio se comporta em relação ao pecador: Ele atua como um carcereiro que possui muitos prisioneiros trancados em sua prisão, mas como ele não carrega ou não possui a chave que poderia libertá-los dali, ele tranqüilamente pode sair sossegado, certo de que nenhum deles tem como fugir. Este é o modo como ele age com aqueles pecadores que nem sequer consideram a possibilidade de deixar o pecado para trás. Ele nem sequer se dá ao trabalho de tentá-los. Ele vê tais pessoas como perda de tempo, não apenas porque elas não pensam em deixá-lo, mas também porque ele não deseja multiplicar suas cadeias. Por outro lado, seria inútil tentá-los. Ele permite que eles vivam em paz enquanto estiverem vivendo no pecado mortal. Ele esconde do pecador a situação em que ele se encontra, o mais que ele pode, até a morte, e quando acontece dele pintar um quadro da vida daquele pecador, ele o faz de uma maneira tão aterrorizante, que o infeliz pecador súbito cai no desespero. Mas com qualquer um que se decidiu a mudar de vida, que se decidiu a entregar-se completamente à Deus, é toda uma outra história!"

Enquanto Santo Agostinho vivia no pecado e na maldade, ele não tinha porque se preocupar com as tentações.

Ele acreditava se encontrar em paz, como ele mesmo nos conta. Mas no momento que ele resolveu a dar as costas para o demônio, ele teve que travar um combate contra ele a ponto de perder sua respiração na luta. E isso durou cinco anos! Ele chorou as lágrimas mais amargas e fez as mais severas penitências: Ele chega ao ponto de dizer: "Eu discutia com ele em minhas cadeias! Um dia eu achei que tinha sido vitorioso, no próximo dia lá estava eu de novo, prostrado no chão. Esta guerra cruel e obstinada durou cinco anos. No final, Deus me concedeu a graça de vencer o combate contra o meu inimigo".

Você pode ver também, a luta que São Jerônimo teve que empreender, quando ele se decidiu a viver apenas para Deus e também quando planejou visitar a Terra Santa. Quando ele ainda estava em Roma, concebeu um desejo novo de trabalhar pela sua salvação:

Ao sair de Roma, ele se retirou para um deserto para se entregar a todos os exercícios que o amor por Deus o inspirasse a fazer. Então o demônio, prevendo como sua conversão iria influenciar tantas outras pessoas, se encheu de fúria e desespero.

São Jerônimo não foi poupado da menor tentação. Eu não acredito que exista um santo que foi mais tentado do que ele. Isto foi o que ele escreveu a um de seus amigos:

"Meu caro amigo, eu quero confidenciar-lhe sobre minhas aflições e o estado ao qual o demônio procura reduzir-me. Quantas vezes nessa vasta solidão, na qual o calor do sol se faz insuportável, quantas vezes os prazeres de Roma parecem me assaltar! A dor e a amargura, das quais minha alma se encontra repleta, fazem me derramar rios de lágrimas dia e noite sem parar. Eu procurei me esconder nos lugares mais isolados para lutar contra minhas tentações e chorar pelos meus pecados. Meu corpo está todo desfigurado e coberto com uma veste rude em trapos. Eu não tenho outra cama a não ser o chão nu e minha única comida é um cozido de raízes e água, mesmo quando estou doente. Apesar de todos esses rigores, meu corpo ainda se recorda dos sórdidos prazeres dos quais Roma inteira está envenenada, meu espírito ainda se encontra no meio daqueles companheiros de prazer e aventuras com os quais eu tão imensamente ofendi a Deus. Nesse deserto, ao qual eu mesmo me condenei para evitar o inferno, junto dessas rochas sombrias, onde eu não tenho outra companhia, a não ser escorpiões e os animais selvagens, meu espírito ainda queima dentro do meu corpo morto, com um fogo de impurezas. O demônio ainda assim, ousa a me oferecer prazeres para que eu os prove. Eu me contemplo tão humilhado por essas tentações e o único pensamento que me faz morrer de pavor é não saber quais austeridades às Quais eu ainda devo submeter o meu corpo para uni-lo com Deus. Eis porque eu me atiro ao chão, aos pés do meu crucifixo, banhado em minhas próprias lágrimas, e quando eu não posso mais chorar, eu pego algumas pedras e bato no meu peito com elas, até que o sangue saia pela minha boca, implorando por misericórdia, até que Deus tenha piedade de mim.Será que existe alguém, capaz de entender a miséria do meu estado, desejando tão ardentemente agradar a Deus e amar somente a Ele? Ainda assim, eu estou sempre pronto a ofendê-lo. Que dor isso representa para mim? Ajude-me, meu caro amigo, com o auxílio de suas orações, de forma que eu me torne mais forte para repelir o demônio, que jurou me levar para a condenação eterna".

Meus caros amigos, são esses os combates a que são submetidos os grandes santos de Deus. Coitados de nós!

Como somos dignos de pena por não sermos assaltados ferozmente pelo demônio! De acordo com todas as aparências, podemos dizer que somos amigos do Diabo: ele nos faz viver numa falsa paz, ele nos embala no sono, deixando-nos com a pretensão de que recitamos algumas boas orações, distribuímos algumas esmolas e que fizemos menos más ações do que os outros. De acordo com o nosso padrão, meus caros irmãos, se perguntarmos, por exemplo, àquele sustendador do cabaré ali, se o Demônio o tem tentado, ele simplesmente dirá que nada o incomoda absolutamente! Pergunta a esta garota ali, esta filha da vaidade, quais são os combates que ela tem que travar contra o inimigo, e ela vai responder-lhe sorrindo que ela não tem nenhuma luta e que, aliás, ela nem sabe o que é ser tentada. Assim vocês verão, meus caros amigos, que a tentação mais terrível de todas, é exatamente não ser tentado. E vocês verão ainda mais! Vocês verão o estado daqueles a quem o demônio está preservando para o Inferno. Eu ousaria dizer ainda, que ele tem o máximo cuidado em não atormentar tais pessoas com a recordação de suas vidas no passado. Do contrário, seus olhos poderiam se abrir para seus pecados!

O maior de todos os males não é ser tentado porque há então motivos para acreditar que o demônio está apenas esperando nossas mortes para nos arrastar para o inferno. Nada poderia ser mais fácil de ser entendido. Apenas considere o cristão que está tentando, ainda que seja de um modo pequeno, salvar sua alma. Tudo em volta dele parece incliná-lo para o mal, ele dificilmente consegue levantar os olhos sem ser tentado, apesar de todas as orações e penitências! E mesmo assim, um pecador empedernido, que passou uns 20 anos chafurdando na lama do pecado ainda tem a coragem de dizer que não é tentado! Este está num estado muito pior, meus caros amigos, muito pior! Isso é o que deveria fazer você tremer de pavor: não saber o que são as tentações, pois dizer que você não é tentado, é o mesmo que dizer que o Demônio não existe ou que ele perdeu todo seu raio de ação sobre as almas cristãs.

São Gregório nos diz:

"Se você não sofre tentações é porque o demônio é seu amigo, seu líder e seu pastor. E ao permitir que você passe sua pobre vida na tranqüilidade, no final de seus dias, ele lhe arrastará com todos os outros para as profundezas do abismo". Santo Agostinho diz-nos que a maior tentação é não sofrer tentações, pois isso apenas significa que uma pessoa assim, é uma pessoa que foi rejeitada por Deus, abandonada por Deus, e deixada inteiramente à mercê de suas próprias paixões".

Fonte: Livro: Ceifadores, sigamos o exemplo deste Santo Padre Pio de Pietrelcina, defensor da Verdade

 

Veja também...

Sermões de São João Maria Vianney: Coitado daquele que tiver vivido somente para o mundo. De repente todos os prazeres e alegrias do mundo já não mais existem. Chegará o dia em que a Eternidade jogará todas essas coisas num profundo abismo

Dom Lourenço Fleichman e a Psicologia da Apostasia: Em cada tipo de tentação, em cada espécie de caminho, haverá sempre um ponto em comum: a inclinação do olhar para o mundo sem exigências, para o mundo da maioria, para o mundo fácil

Psicologia da tentação: Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia (São Tiago 1,14)

 


Rainha Maria - Todos os direitos reservados
É autorizada a divulgação de matérias desde que seja informada a fonte.
https://www.rainhamaria.com.br

PluGzOne