14.11.2017 -
Como os tempos atuais são de pura confusão, “confusão diabólica”, se quisermos recorrer aos termos utilizados pela Ir. Lúcia, ninguém ficará surpreendido quando ler as palavras do Arcebispo de Braga publicadas há pouco mais de quatro meses no site oficial da arquidiocese. Relembremos que D. Jorge Ortiga foi um dos bispos portugueses que, em 2015, perseveraram na Fé, resistindo às fortes pressões ideológicas do momento.
Excertos da homilia de Dom Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, por ocasião da celebração da Solenidade do Nascimento de São João Batista:
(A homilia é muito bela e poderosa, merecendo ser lida na sua totalidade e divulgada.)
Abri a boca para falar
"Alguns impõem as suas ideologias e critérios de vida. Os cristãos assistem passivamente e deixam que a sociedade se desenvolva sem alma nem sentido.
João Baptista dá o exemplo. Herodíades pensava que seria capaz de calar para sempre aquele que expressava a voz da Verdade e da consciência humana. Quis silenciar João Baptista porque ele falou e não se calou. O seu martírio suscitou, naquele tempo, horror mas aumentou a fama de João, tornando-o conhecido dentro da comunidade cristã, bem como no mundo pagão. Flávio José, um escritor pagão, dizia que ele era um “homem bom que levava os judeus ao exercício das virtudes”.
Poderia contemporizar ou até deixar correr sem erguer a sua voz para proclamar a verdade e denunciar os erros daquela época. Nada o detinha! Só se apaixonava pela verdade.
Era este exemplo que gostaria de deixar, este ano, na festa de São João. Zacarias perdeu a voz mas recuperou-a para falar da verdade no templo. João não se intimidou e proclamou a doutrina, correndo risco de vida. Dois exemplos a alertar a Igreja de hoje para a necessidade de perder o medo de vir para a praça pública. A sociedade vai evoluindo em muitos aspectos positivos mas ninguém ignora como as ideias contra a nossa cultura e um verdadeiro humanismo se impõem e crescem. Há uma estratégia com objectivos bem delineados e sempre apoiados por grupos de pequenas dimensões que não desistem e vão impondo os seus critérios e modos de edificar a sociedade.
Respeito pessoalmente a liberdade e não condeno quem tem projectos e luta por eles. Só que me impressiona a passividade e a inércia da multidão que murmura em silêncio mas não ousa levantar a voz. É necessário soltar a língua dos católicos para que falem, escrevam e se sirvam dos meios de comunicação social. Com frequência pede-se aos bispos que intervenham. É o seu papel e não sei se, de facto, estamos a ser a voz crítica que as circunstâncias exigem. Só que a Igreja não é apenas os bispos. Há muitos cristãos que deveriam falar no âmbito restrito dos círculos de amigos mas também procurar as praças públicas da comunicação social que, talvez com um espírito temerário, não deixarão de dar espaço e oportunidade.
Gosto da figura de São João Baptista. Foi um percursor porque ensinou e baptizou.
Mas a grandiosidade da sua vida residiu em não ter medo de se confrontar com os comportamentos imorais e de erguer a voz contra eles. Custou-lhe caro. Mas a sua vida passou para além dele mesmo. Poderia ter sido um profeta como tantos outros que existiam na época. A coragem de falar e de mostrar a verdade das suas convicções ultrapassou-o e é por isso que estamos aqui hoje, não só para o recordar mas também para o imitar. Levemos para a vida esta coragem de falar em nome da Igreja a que pertencemos e mostremos a verdade, ainda que não seja fácil. Descubramos caminhos novos para estar na sociedade, talvez na vida política, mas ousemos ser o que a fé nos exige: testemunhas com o silêncio da vida e apóstolos que se fazem ouvir, a propósito e a despropósito, em todas as ocasiões e momentos".
(in Homilia na Solenidade do Nascimento de São João Batista, D. Jorge Ortiga, 24 de junho de 2017 – o sublinhado é nosso)
Disto isto, cabe-nos perguntar:
Quando João Batista ergueu a sua voz para “proclamar a verdade” e “doutrina”, referia-se mais precisamente a quê?
Quando João Batista ergueu a sua voz para “denunciar os erros daquela época”, condenava exatamente o quê?
Em que é que os erros da nossa época diferem dos da época de João Batista?
Se naquela altura “João não se intimidou e proclamou a doutrina”, o que faz temer hoje os pastores da Igreja? Porque não “abrem a boca para falar”?
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Verdadeiro discernimento com João Batista.
Fonte: https://odogmadafe.wordpress.com
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