03.11.2017 -
Desde que primeiro o igualitarismo feminista e posteriormente o feminismo de gênero foram introduzidos na sociedade do último terço do século XX, a busca da igualdade absoluta da mulher em relação ao homem em todos os campos trouxe resultados nefastos. Podemos falar de uma igualdade de dignidade entre o homem e e mulher, mas não de uma igualdade em termos absolutos, como pretendem o feminismo e a ideologia do gênero.
Os resultados dessa ideologia profundamente anticristã, que no fundo não busca nada além da negação da natureza humana e em última instância a rejeição de Deus e de sua criação, estão levando à destruição da sociedade e de seus valores morais e éticos. Prova disso são os dois primeiros artigos que escrevemos antes deste, o artigo que estamos apresentando e os três artigos que nos faltam para completar esta série: violência de gênero, a destruição da família e as técnicas de manipulação de massa usadas pela ideologia de gênero.
A partir dos anos 60 do século passado o costume da educação mista foi introduzido nas escolas. Inicialmente com o pretexto de que meninos e meninas tivessem a mesma educação e não se fizesse nenhuma discriminação em razão de sexo. Após quase sessenta anos de aplicação desses novos métodos, devemos dizer — como veremos neste artigo — que os resultados estão sendo nefastos.
Pessoas e grupos que antes eram favoráveis à educação mista como meio de alcançar a igualdade da mulher descobriram que esse tipo de educação é contra ambos os sexos porque, na hora da verdade, homens e mulheres atingem os mesmos conhecimentos, mas de uma maneira diferente devido às diferenças estruturais de nosso cérebro, de nossa psicologia e de nossas preferências.
A neutralidade sexual nas escolas e suas consequências práticas
Reconhecer a existência de uma feminilidade e uma masculinidade — negada pela ideologia do gênero — nos permite também aceitar a existência de diferentes formas de comportamento, compreensão e aprendizagem de meninos e meninas. Ignorar essas diferenças na maturação, na socialização e nas habilidades e preferências de uns e outras afeta, em última instância, a igualdade de oportunidades que é truncada, impedindo as crianças de desenvolverem completamente o seu potencial.
Vários estudos de psicologia, psiquiatria, neurologia e pedagogia demonstram que meninos e meninas têm uma forma diferente de aprender, comportar-se e ver a vida [1].
Dados objetivos e estudos empíricos demonstram que meninos e meninas podem alcançar com maior êxito metas educativas idênticas e, em consequência, uma igualdade de oportunidades mais real, se a educação se adaptar ao modo peculiar de aprender de cada sexo desde a mais terna infância.
Pensar que o trato de meninos e meninas como se fossem idênticos é a fórmula mais adequada para educar na convivência entre os sexos é absolutamente errado. A experiência mostra que o conhecimento mútuo, a aprendizagem compartilhada, o respeito e a tolerância do que é diferente são valores que não fomos capazes de proporcionar nos últimos cinquenta ou sessenta anos, nos quais a neutralidade sexual se tornou generalizada nas escolas mistas, embora no início parecia ser a situação ideal para a sua promoção. A convivência intersexual na escola mista, como regra geral, não conseguiu garantir o ideal de respeito mútuo entre os sexos.
90% dos professores não são cientes das diferenças entre meninos e meninas em interesses, passatempos, prioridades, modos de pensar, movimento e comportamento, ideais, formas de jogar e se expressar, ou não aplicam medidas adequadas, exigindo-lhes o mesmo, idêntica e simultaneamente a meninos e meninas, e pretendendo obter uma mesma resposta de ambos os sexos. O que é simplesmente impossível e frustrante, tanto para os professores quanto para os alunos.
A revista Business Week [2] publicou um artigo preocupante sobre como os meninos estão sendo marginalizados pelo sistema educacional em relação às meninas de igual idade, que os superam em capacidade:
“Enquanto as meninas avançaram de forma espetacular nos últimos quarenta anos, os meninos começaram uma marcha regressiva e estão presos em uma espiral descendente.”
Na Espanha, longe de adotar medidas para corrigir a situação, ignora-se a existência dessa forte componente sexual no fracasso escolar. É um aspecto que nunca é falado, mas que os professores vivem diariamente. Para justificar a crise escolar dos meninos, muitas outras variáveis são consideradas, como idade, raça, nível econômico, mas o relacionado ao sexo foi removido dos nossos dados percentuais. Consequentemente, não há qualquer atuação para solucioná-lo, nem experimental nem administrativa.
Os meninos espanhóis são cada vez mais analfabetos do que meninas. Eles têm problemas, mas ninguém sabe a que se devem ou como abordá-los. Os planos para a igualdade nas escolas, solidamente baseados na ideologia de gênero, não fazem senão aprofundar uma posição radicalmente errada que pretende negar algumas características próprias aos homens. Nosso sistema educacional está dando aos meninos muito menos do que eles merecem, academicamente falando.
Feminismo de gênero para os rapazes em idade escolar
Como regra geral, os meninos são os grandes incompreendidos do sistema educacional atual. O principal motivo reside na existência de uma hiper-representação dos valores femininos na escola, que questiona o modo de ser e de atuar dos meninos, e pretende resgatá-los de sua masculinidade e forçá-los a agir de acordo com padrões de comportamento femininos.
As professoras seguem padrões de ação tipicamente femininos: preferem a colaboração à competitividade; a tranquilidade à tensão e ao confronto na sala de aula; o relacionamento amigável com os alunos ao [trato] hierárquico; a quietude ao movimento.
Este estilo de ensino funciona bem com as meninas, mas causa graves danos aos meninos, que necessitam de outro estilo de aprendizagem. Os homens precisam de autoridade, disciplina, emoções fortes expressas em desafios, tensão, confronto, competição, fatores que foram removidos em geral do sistema escolar, levando as escolas a se inclinarem a se tornar centros de socialização e expressão. O sentimento de absoluta falta de controle, somado à ausência de tensão, de exigência ou de incentivos, faz nascer nos meninos a necessidade de buscar “ação”.
Influenciados pela ideologia de gênero e pela ideia de que não há diferenças naturais entre meninos e meninas, ignoram que o ritmo de desenvolvimento cognitivo dos meninos é mais lento, obrigando-os a escrever, ler e expressar-se da mesma maneira e com o mesmo nível de maturidade que as colegas de carteira. O que é impossível. Os meninos acabam sendo tachados de preguiçosos, lentos, ou então diagnosticados com problemas de aprendizagem de fato inexistentes.
As meninas ao seu redor lêem mais rápido, controlam melhor suas emoções e estão mais confortáveis com a ênfase da educação atual no trabalho em equipe e na expressão dos sentimentos. Pelo contrário, os meninos encontram somente algo de ação física ou de competição de que costumam gostar.
O desenvolvimento cognitivo masculino é mais lento em certos grupos etários principalmente em relação às habilidades linguísticas e habilidades verbais. A parte do cérebro destinada a essas habilidades, o hemisfério esquerdo, adquire maturidade nas mulheres muito mais cedo do que nos homens. Aos seis meses de idade as meninas já apresentam mais atividade elétrica no hemisfério esquerdo do que no direito quando ouvem sons linguísticos. E aos vinte meses têm cerca de três vezes mais palavras em seu vocabulário do que os meninos. Assim que começam a falar, articulam melhor as palavras; criam frases mais longas e complexas; usam mais qualificativos; são mais plásticas, falam mais e com mais fluência. E isso com total independência de cultura ou raça.
O feminismo de gênero trouxe a imposição do ideal feminino na sala de aula, depositando nos meninos expectativas que nunca serão cumpridas, pois aspiram ao impossível: a identidade dos sexos. Não podemos pretender que os meninos sejam como meninas porque eles não o são.
Breve referência à educação diferenciada
A chave para o sucesso da educação diferenciada reside precisamente no equilíbrio entre o reconhecimento da diferença entre homens e mulheres e a busca e a garantia de igualdade entre ambos.
A educação diferenciada parte da consideração da alteridade sexual como elemento essencial da natureza humana que torna os homens e as mulheres diferentes, mas ao mesmo tempo complementares, e considera que, para que possa haver colaboração, entendimento, respeito e convivência entre homens e mulheres, é imprescindível o reconhecimento de sua própria diferença.
As diferenças entre meninos e meninas pertencem à ordem natural e biológica, mas incidem diretamente no seu desenvolvimento pessoal, emocional e intelectual. A educação diferenciada é um método de ensino capaz de superar o mito da neutralidade sexual, tão generalizada atualmente dentro e fora das salas de aula. À margem de ideologias, crenças ou políticas específicas, ela confere tratamento adequado a meninos e meninas ao atender com detalhe às suas próprias especificidades, permite alcançar melhores objetivos educacionais e culturais, e abre aos alunos maiores possibilidades ao dar aos professores a oportunidade de trabalhar com grupos mais homogêneos.
Por exemplo, no ranking das melhores escolas do Reino Unido, publicado em 2013 [3], sete das dez escolas públicas britânicas com os melhores resultados acadêmicos eram de educação diferenciada: quatro eram escolas de meninos, e três de meninas.
A questão da socialização costuma ser a primeira objeção que muitos apresentam para os bons resultados acadêmicos da educação diferenciada: “O mundo hoje — dizem — é misto, aberto, inclusivo, diverso, integrador… e tudo isto deve estar acima de algumas ‘pequenas’ vantagens acadêmicas…”. Argumenta-se, em suma, que a socialização é mais importante do que os resultados acadêmicos. Na realidade, muitos fatores hão de ser considerados, não apenas a socialização ou os resultados acadêmicos. Devem também ser levadas em conta a educação na igualdade e a transmissão de muitos outros valores muito importantes, o que se obtém com eficácia muito maior se a educação for diferenciada.
Há aqueles que dizem que a razão pela qual as escolas de educação diferenciada obtêm bons resultados é porque são escolas de elite. É uma lástima que nunca forneçam dados ou estudos que sustentem essa afirmação. Se analisarmos um pouco a implementação atual da educação diferenciada no mundo, veremos imediatamente que se trata de um modelo que não é próprio de progressistas ou de conservadores, nem de esquerda ou de direita, nem de uma religião ou de outra… nem tampouco de classes altas ou baixas.
Esse tipo de educação diferenciada é também acusado de discriminatório. Separar meninos de meninas não supõe segregar ou discriminar? Algumas pessoas argumentam que, ao separar os meninos das meninas na sala de aula, a escola diferenciada discrimina e segrega. Mas, de acordo com a lógica desse raciocínio, isso também aconteceria em muitos outros casos que podemos apontar. Por exemplo, a liga profissional do futebol da Primeira Divisão é masculina em quase todos os países do mundo. Isso significa que discrimina e segrega? Dever-se-ia impor quotas para homens e mulheres em equipes de futebol? Existem diferentes exigências nas provas físicas para homens e mulheres nos testes de ingresso nas forças de segurança. Elas envolvem discriminação? Nos centros comerciais existem departamentos para senhoras e para senhores. Há revistas destinadas às mulheres… e ninguém considera isso discriminatório. Em quase todos os países existem ministérios, ministérios, conselhos ou institutos públicos dedicados às mulheres. Eles também implicam discriminação?
Uma famosa mulher e destacada política norteamericana, Hillary Clinton, conhecida por seu pensamento bastante liberal e democrático, disse certa vez:
“Não deve existir nenhum obstáculo ao oferecimento de opções de um só sexo dentro do sistema de escolas públicas. Devemos admitir as conquistas dessas escolas em todo o país. Sabemos que elas têm estudantes e pais cheios de energia. Deveríamos ter mais escolas assim.” [4]
A este respeito, e aplicado à evidência prática, Cecilia Christiansen, nomeada a melhor professora de matemática na Suécia em 2011, afirma que:
“Meninos e meninas aprendem de forma diferente e, portanto, devem ser ensinados de modo diferente. Os meninos não têm paciência para ouvir grandes explicações; expõe, eles querem tentar, não lhes importando equivocar-se 500 vezes, porque aprendem dessa maneira. As meninas querem primeiro aprender, ter muito claro quais são todos os passos a dar, e depois comprovar o que entenderam. Se em uma aula você disser às meninas: ‘Tentem’, elas vão tardar muito mais tempo para aprender do que os meninos. E, ao contrário, se você fizer uma aula onde apenas explica, perderá os meninos porque eles se aborrecem”.
Com relação a isso, o Dr. Hugo Liaño afirma que a forma como o cérebro masculino é organizado torna-o mais capaz nas percepções espaciais, levando-o a confiar em seu senso de direção, enquanto a organização do cérebro feminino torna a mulher mais capaz em áreas verbais, levando-a a resolver os problemas por meio da palavra. Esta afirmação tomaria forma na anedota em que um casal que se dirige a um lugar e não o encontra: a mulher procurará perguntar aos pedestres, enquanto o homem vai querer continuar procurando e dando voltas até encontrar. O homem confia em sua capacidade de orientação, e a mulher em sua capacidade de pedir informações verbais por empatia através de outras pessoas.
É curioso como na Noruega, onde a educação na igualdade foi conduzida com verdadeiro afinco, e se investiu muito dinheiro público para atingir os mesmos índices de participação de homens e mulheres em todas as áreas da vida, no momento em que o nível de igualdade educacional igual é reduzido, homens e mulheres diferenciam seus gostos, passatempos e interesses. Após conseguir o engajamento de certo número de mulheres em empregos tradicionalmente masculinos e vice-versa, poucos anos depois os índices voltavam aos valores tradicionais, sendo majoritária a presença feminina em atividades sociais, cuidados de doentes e crianças, e a presença masculina em atividades como construção, corpos armados, motores…
Que diferenças de atitudes e de conduta entre meninos e meninas se observam na aula?
É difícil falar sobre este tema sem cair em clichês ou estereótipos, mas há uma série de características que são facilmente observáveis se alguém se aproximar sem preconceitos dessa realidade.
• Os meninos são mais dedutivos e as meninas mais indutivas.
• Os meninos têm mais facilidade para o raciocínio abstrato, mais capacidade para traduzir algo real em algo simbólico representado por sinais. As meninas têm mais facilidade na expressão verbal e no uso do idioma, pelo que costumam obter melhores resultados em leitura e na escrita, bem como em toda a área de humanidades.
• Os meninos costumam dar-se melhor em inteligência lógico-matemática e capacidade espacial, tendendo por isso a obter melhores resultados em áreas matemáticas e científicas. As meninas geralmente são mais receptivas, escutam mais e conduzem melhor a conversa. Elas têm mais facilidade para o trabalho em equipe, as relações humanas e a interação social.
• Os meninos geralmente são mais competitivos e dão mais importância à ordem hierárquica no grupo. Entediam-se mais mais facilmente e precisam de mais estímulo para manter a atenção. Por isso respondem melhor em ambientes mais disciplinados. Tendem a ocupar mais espaço físico, movem-se mais, possuem um comportamento inquieto e têm mais dificuldade em controlar seus impulsos. São menos ordenados e pouco concentrados, e encontram mais dificulade para expressar seus sentimentos. São mais propensos à confusão, à agressão e à indisciplina.
• Os meninos tendem a monopolizar os esportes e as meninas têm atividades extracurriculares e de representação.
• Os meninos, pelo contrário, tendem a superestimar suas habilidades, mesmo quando o fazem mal, precisando de alguém que os ajude a ser mais realistas. As meninas tendem a subestimar suas habilidades, precisando de maior reconhecimento da parte do professor. [5]
• Na sala de aula diferenciada há uma maior participação, ao não se ter medo do ridículo diante dos companheiros do outro sexo.
Na sala de aula mista há mais motivos para distração e inibição pelos companheiros do outro sexo. Há mais confiança entre os sexos, mas também muitas vezes menos respeito, mais casos de assédio sexual, mais estereótipos e mais comportamentos sexistas. Na educação diferenciada as crianças aprendem melhor a tratar com mais respeito e deferência as mulheres, coisa que hoje não sobra.
Conclusão
Parece, portanto, evidente que as diferenças entre homens e mulheres são anteriores e muito mais poderosas do que a modelagem educacional. Este esforço educativo não consegue erradicar as diferenças além do breve prazo de imposição ideológica da igualdade. Quando escapam desses modelos ideológicos, as mulheres voltam a agir tal como sua natureza, sua psique e seus gostos lhes prescrevem. Elas não se sentem confortáveis nesses papeis nos quais as querem tornar presentes em aras da igualdade perfeita, não vendo por isso nenhuma razão para continuar fazendo algo de que não gostam, lhes interessam ou motivam.
Para se modelar e alterar a forma original de uma árvore é preciso que seja um broto (quanto mais frágil e moldável, melhor). A manipulação e a deformação da ideologia de gênero centra algumas de suas mais descabeladas ações sobre menores de idade, impondo-lhes padrões de comportamento, cursos e workshops, matérias e transversalidades, jogos e contos alheios à realidade e aos desejos dos meninos e das meninas.
El método que usa la ideología de género en la educación de los más pequeños se hace nefasto; pero a pesar de ello, esta ideología anega toda la educación para empujar a los menores a ser lo que no son y adoctrinarlos en la mayor falacia jamás vista.
O método utilizado pela ideologia de gênero na educação das crianças mais jovens é nefasto; mas, apesar disso, essa ideologia inunda toda a educação para empurrar os menores para serem o que não são e para doutriná-los na maior falácia jamais vista.
P.adre Lucas Prados
Fonte: ADELANTE LA FE via pco.org.br
[1] Calvo Charro, M., Guía para una educación diferenciada, ed. Toromítico, 2009.
[2] Revista Business Week, How the educational system bombs out for boys?, mayo 2003.
[3] Diario ABC, edición del 11/Sept/2013.
[4] Clinton, Hillary, 2001, Senadora D-NY, Congressional Record, June 7, 2001, S5943, http://www.nyfera.org/?page_id=654#sthash.dtg8xgLD.dpuf
[5] Sommers, Christina Hoff, La guerra contra los chicos, Palabra, Madrid, 2006 http://www.palabra.es/detalle.aspx?Codart=1700051