26.07.2017 -
São João Bosco
Desejo, meus filhos, que façais diariamente um pouco de meditação. Por isso, ofereço-vos alguns breves pensamentos para cada dia da semana, e espero que os lereis com atenção, caso não tenhais outro livro mais apropriado.
Depois de vos terdes ajoelhado, dizei: "Meu Deus, arrependo-me de todo o coração por Vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de me inflamar de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim".
A morte
1º) - A morte consiste na separação da alma e do corpo, ficando completamente abandonadas todas as coisas deste mundo.
Considera, meu filho, que a tua alma deve necessariamente separar-se do coro, mas não sabes quando, nem onde, nem como te surpreenderá essa separação.
Não sabes se ela te apanhará na cama, no trabalho, na rua ou noutro lugar.
A ruptura de uma veia, uma infecção pulmonar, uma febre, um ferimento, um tombo, um terremoto, ou um raio são suficientes para te tirar a vida.
E isto pode acontecer-te dentro de um ano, de um mês, de uma semana, de uma hora ou talvez mal acabes de ler esta página.
Quantos estavam bem à noite, quando se deitaram, e foram encontrados mortos no dia seguinte! Quantos, atacados de apoplexia, morreram rapidamente. E para onde foram depois?
Se estavam na graça de Deus, felizes deles, são eternamente felizes. Se estavam no pecado, serão atormentados para todo o sempre.
E tu, meu filho, se morresses neste momento, o que seria da tua alma? Infeliz de ti se não estás preparado, porque o que não está pronto para morrer bem hoje, corre grande risco de morrer mal!
2º)- O lugar e a hora da tua morte não te são conhecidos, mas é certíssimo que ela virá. Ainda supondo que não te surpreenda uma morte repentina ou violenta, sem embargo, a última hora da tua vida há de chegar.
Nessa hora, estendido sobre o leito, assistido por um sacerdote que rezará junto de ti as orações dos agonizantes, rodeado pela tua família que chora, com o crucifixo numa mão e uma vela acesa na outra, te encontrarás às portas da eternidade.
A tua cabeça sentirá dores e não encontrarás repouso; a tua visão estará obscurecida; a tua língua estará a arder; a tua garganta, seca, o teu peito, oprimido, o sangue gelará nas tuas veias; o teu corpo será consumido pela enfermidade e o teu coração transpassado por mil dores.
Quando a alma tiver abandonado o corpo, este coberto com uma mortalha, será lançado num buraco, onde se converterá em podridão; os vermes o devorarão, e de ti só restarão alguns ossos descarnados e um pouco de pó mal cheiroso.
Abre uma tumba e observa o que restou de um jovem rico, de um homem poderoso no mundo; pó e podridão...O mesmo te acontecerá a ti.
Lê estas considerações com atenção, meu filho, e lembra-te de que elas se aplicam a ti, como a todos os outros homens.
Agora o demónio, para te induzir a pecar, esforça-se por te distrair deste pensamento, por encobrir e escusar a culpa, dizendo-te que não há grande mal em tal prazer, em tal desobediência, em faltar à Missa ao domingo; mas no momento da morte te fará conhecer a gravidade das tuas faltas e as representará a todas vivamente, diante de ti.
Que farás tu naquele terrível instante? Desgraçado de quem então se encontrar em pecado mortal!
3º)- Considera também que do momento da morte depende a tua felicidade ou desgraça eterna.
Estando para dar o último suspiro e à luz daquela última chama, quantas coisas veremos!
A Igreja acende duas velas por nós: uma no nosso Batismo, outra na hora da nossa morte; a primeira, para nos mostrar os preceitos da lei de Deus, que devemos observar; a segunda no transe da nossa morte, para examinarmos se os observamos corretamente.
Por isso, meu filho, à claridade daquela última luz verás se amaste a Deus durante a tua vida ou se O desprezaste; se respeitaste o seu santo Nome ou se O ofendeste com blasfêmias.
Verás as festas que profanaste, as Missas que não ouviste, as desobediências aos teus superiores, os escândalos que destes aos teus companheiros.
Verás aquela soberba e aquele orgulho que te enganaram; verás...
Mas (oh! meu Deus) tudo aquilo verás no momento em que se abre diante de ti o caminho da eternidade, momento do qual depende a eternidade inteira. Sim, daquele momento depende uma eternidade de glória ou de tormentos.
Compreendes bem o que te estou a dizer? Daquele momento depende para ti o Paraíso ou o Inferno; o ser para sempre feliz ou desgraçado, para sempre filho de Deus ou escravo do demónio, para sempre gozar com os Anjos e Santos no Céu ou gemer e arder para todo o sempre com os condenados no Inferno.
Teme muito pela tua alma, e reflete que de uma vida santa e boa dependem a boa morte e a eterna glória.
Sem perda de tempo, põe em ordem a tua consciência com uma boa Confissão, prometendo ao Senhor perdoar aos teus inimigos, reparar os escândalos que deste, ser mais obediente, não perder mais o tempo, santificar os dias consagrados a Deus, cumprir os deveres do teu estado.
E deste já, lançando-te aos pés de Jesus, diz-Lhe: "Meu Senhor e meu Deus, desde agora me converto a Vós; amo-Vos e quero-Vos amar e servir até à morte. Virgem Santíssima, minha Mãe, ajudai-me naquele momento terrível. Jesus, Maria e José, que a minha alma expire em paz nos vossos braços".
O Juízo
1º) - É a sentença que o Salvador pronunciará no final da nossa vida, sentença com a qual será fixada a sorte de cada um de nós por toda a eternidade.
Quando tiver saído do corpo, a alma comparecerá imediatamente diante do divino Juiz. Esse encontro é terrível para o pecador, porque a sua alma se apresenta sozinha diante de um Deus ao Qual desprezou e ofendeu, de um Deus que conhece até ao último pensamento do seu coração.
Quem nos acompanhará naquele momento? Nada levaremos deste mundo, senão o bem ou o mal que tivermos feito, sejam bons, seja maus. Não haverá desculpas nem pretextos.
Santo Agostinho, falando daquele terrível instante, exprime-se assim: "Ó mortal, quando compareceres diante do criador para seres julgado, tu te encontrarás diante de um Juiz cheio de indignação, os teus pecados te acusarão; os demónios estarão prontos a executar a sentença; dentro de ti mesmo terás a consciência que te agita e te atormenta; e a teus pés o Inferno estará aberto para te engolir. Em tal aflição, para onde irás, para onde fugirás?"
Ditoso de ti, meu filho, se procedeste bem durante a vida!
2º) - Depois, o divino Juiz abrirá o livro das consciências e dará início ao exame:
- Quem és tu? Te perguntarás o Juiz inapelável.
- Sou um cristão.
- Bem, se és cristão, verei se te comportaste como tal.
Então começará a recordar-te das promessas feitas no Batismo, pelas quais renunciaste ao demónio, ao mundo e à carne; te representará as graças que te concedeu, os Sacramentos que recebestes, as pregações, as instruções, os conselhos dos teus confessores, as correções dos teus pais, tudo isto te será colocado diante dos olhos.
- Mas tu, dirá o divino Juiz, apesar de tantos dons, de tantas graças, como correspondeste mal à fé que professaste! Logo que chegaste ao uso da razão, começaste a ofender-Me com mentiras, com faltas de respeito na igreja, com desobediências aos pais e com muitas outras transgressões dos teus deveres. Se pelo menos te houvesses portado bem quando te tornaste mais crescido! Mas com a idade só cresceste no desprezo da minha lei. Missas perdidas, profanações de dias festivos, blasfêmias, más conversas, confissões mal feitas, Comunhões às vezes sacrílegas, escândalos dados aos teus companheiros; eis o que fizeste em vez de Me servires!"
Ao escandaloso, Se dirigirá cheio de indignação e dirá:
- Vês aquela alma que caminha pela senda do pecado? Foste tu que lhe ensinaste a maldade com as tuas palavras escandalosas; se tivesses sido bom cristão, deverias ter ensinado aos teus companheiros o caminho do Céu; mas fizeste exatamente o contrário, ensinando-lhes o caminho da perdição. Vês aquela alma que está no Inferno? Foste tu que ma roubaste com os teus pérfidos conselhos e a entregaste ao demónio, sendo tu a causa da sua perdição eterna. Agora a tua alma pagará a perfídia daquele escândalo.
Que te parece deste exame, meu filho? Que te dirá tua consciência? Ainda tens tempo, se quiseres. Pede a Deus perdão dos teus pecados, prometendo sinceramente nunca voltar a ofendê-Lo, e começa hoje mesmo uma vida cristã. Assim poderás adquirir um tesouro de boas obras para quando tiveres que comparecer diante do tribunal de Jesus Cristo.
3º) - Em vista de um exame tão rigoroso pelo divino Juiz, o pecador tratará de se desculpar, dizendo que não esperava ser julgado com tanta severidade. Mas o Senhor lhe responderá:
- Não ouviste naquela pregação do catecismo, não leste naquele livro que Eu ia pedir conta de tudo?
O desgraçado lembrar-se-á então da misericórdia divina; mas já não haverá misericórdia para ele, porque não merece misericórdia quem por tanto tempo abusou dela; com a morte acabou o tempo da misericórdia.
A alma lembrar-se-á dos Anjos, dos Santos, de Maria Santíssima; mas Ela em nome de todos dirá:
"Queres agora a minha proteção? Não Me quiseste por Mãe durante a tua vida. Agora também não te quero mais por filho; já não te conheço".
Então o pecador, encontrando-se perdido, pedirá gritando às montanhas e penhascos que o escondam; mas estes não se moverão. Invocará o Inferno, e o verá aberto diante de si.
Nesse mesmo momento, o Juiz inexorável proferirá a terrível sentença:
- Vai-te, filho infiel! Afasta-te de Mim! Meu Pai Celestial te amaldiçoa. Eu também te amaldiçoo! Vai-te para o fogo eterno, a gemer e penar no inferno, com os demónios, por toda a eternidade!
Aquela alma desgraçada, antes de se afastar para sempre do seu Deus, voltará uma última vez o olhar para o Céu e, no cúmulo do desespero, exclamará:
"Adeus, companheiros; adeus, amigos, que habitais no reino da glória; adeus pai, mãe, irmão, irmãs, vós gozareis eternamente, e eu serei para sempre atormentado, adeus. Anjo da minha guarda, Anjos e Santos do Paraíso, nunca vos verei, adeus, meu Salvador, Cruz santa, sangue divino derramado inutilmente por mim! Neste momento deixo de ser filho de Deus para ser no Inferno escravo do demónio".
Então aquela alma infeliz cairá nas garras dos demónios, que a arrastarão e precipitarão nos abismos de penas, de misérias e de tormentos eternos.
Não temes, meu filho, que te aconteça o mesmo? Ah! Por amor de Jesus e de Maria, prepara-te com boas obras para merecer uma sentença favorável. Lembra-te de que, quanto mais é espantosa a sentença proferida contra o pecador, tanto mais consoladoras serão as palavras de Jesus para o homem que tenha vivido cristãmente: "Vem; vem tomar posse da glória que te preparei. Tu Me serviste com fidelidade no breve tempo da tua vida; agora serás eternamente feliz. Entra no gozo do teu Senhor".
Meu Jesus, concedei-me a graça de ser do número desses bem-aventurados. Virgem Santíssima, ajudai-me, protegei-me na vida e na morte, e especialmente quando me apresentar no tribunal de vosso divino Filho para ser julgado!
O Inferno
1º) - O Inferno é um local destinado pela Justiça divina para castigar com suplícios eternos os que morrem em pecado mortal.
A primeira pena que os condenados padecem no Inferno é a dos sentidos, por ser todo o seu corpo atormentado por um fogo que arde horrivelmente sem nunca diminuir.
Este fogo penetrará pelos olhos, pela boca e por todo o corpo, e cada um dos sentidos padecerá uma pena especial.
Os olhos ficarão obscurecidos pelo fumo e pelas trevas, e aterrorizados ao ver os demónios e os outros condenados.
Os ouvidos não ouvirão incessantemente senão gritos, uivos, prantos e blasfêmias.
O olfato será atormentado com o mau cheiro do enxofre e betume ardentes, que o sufocará.
A boca sofrerá sede ardentíssima e padecerá uma fome canina: "Sofrerão fome como cães" (Sl 58,7; 15).Deus permitiu que o rico Epulão, no meio aqueles tormentos, dirigisse um olhar a Lázaro, pedindo por misericórdia uma gota de água para aliviar o ardor que o consumia; mas até esta lhe foi negada.
Aqueles infelizes, no meio das chamas, devorados pela fome e sede, atormentados por um fogo que não cessa, bradam, uivam e desesperam.
Ah! Inferno, Inferno, como são desgraçados os que caem nos teus abismos!
E tu, meu filho, que dizes?
Se tivesses que morrer neste momento, para onde irias?
Se não podes suportar agora a ligeira chama de uma vela na mão, como poderás sofrer aquelas chamas por toda a eternidade?
2º) - Considera por outro lado, meu filho, o remorso que sentirá a consciência dos condenados. A sua memória, entendimento e vontade padecerão terrivelmente tormentos.
Recordarão continuamente o motivo porque se perderam, isto é, por terem querido satisfazer uma paixão qualquer, e este pensamento será para eles um verme roedor que nunca morrerá.
Pensarão no tempo que Deus lhe tinha concedido para se salvar da perdição; nos bons exemplos dos seus companheiros; nos propósitos feitos e não postos em prática. Pensarão nas pregações ouvidas, nos conselhos dos seus confessores, nas boas inspirações para deixar o pecado... E, vendo que já não há remédio, lançarão uivos desesperados.
A vontade nunca terá nada do que deseja, sofrendo pelo contrário todos os males.
O entendimento conhecerá o bem imenso que perdeu. A alma, separada do corpo e apresentada diante do divino tribunal, entreviu a beleza de Deus, conheceu a sua bondade, contemplou por um instante o esplendor do Paraíso, terá ouvido talvez os dulcíssimos e harmoniosos cantos dos Anjos e Bem-aventurados. Que dor, vendo que tudo isto lhe é arrebatado para sempre!
Que horrorosos tormentos! Quem poderá suportá-los?
3º) - Meu Filho, que agora não te preocupas em perder a Deus e o Paraíso! Esperas por acaso conhecer a tua cegueira, quando tantos companheiros teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu, estiverem gloriosos e triunfantes no reino dos céus, e tu estiveres maldito por Deus e lançado fora daquela pátria bem-aventurada, do gozo de Deus, da companhia da Virgem Santíssima e dos Santos?
Decide-te, pois, a servir ao Senhor, e faz penitência. Não aguardes para quando não haja mais tempo. Entrega-te a Deus. Quem sabe se esta meditação não será o teu último convite da graça! Se não lhe correspondes, tu te expõe a que Deus te abandone e te deixe cair nos eternos suplícios.
Ah! Senhor, livrai-me das penas do inferno!
Do livro: O Jovem Instruído
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