13.07.2017 -
Tal era a situação naquela época, que o historiador Serafim Leite pôde escrever:
“Durante o século XVI, os estrangeiros que mais apoquentaram o Brasil e mais se apegaram a algum recanto da costa foram os franceses. O seu movimento no espaço descreve uma parábola de norte a sul, repelidos numa parte e aparecendo em outra, desde a Guanabara a Cabo Frio, da Paraíba ao Maranhão e ao Pará, até se fixarem enfim no extremo norte, para lá do Brasil, na Guiana.
“A tradição e os fatos demonstram que eram cruéis. Em 15 de julho de 1570 deu-se o martírio do Beato Inácio de Azevedo e seus trinta e nove companheiros, à mão de franceses, que pela fé católica foram lançados ao mar a caminho do Brasil, e são chamados os quarenta mártires do Brasil. Mataram-nos luteranos corsários dizendo que iam semear doutrina falsa”.
Duas foram as tentativas francesas de fixação em terras brasileiras.
A primeira, a França Antártica, de 1555 a 1567, no Rio de Janeiro, que Nicolau de Villegagnion escolheu como refúgio de hereges calvinistas. Dez anos mais tarde, o Governador Mem de Sá expulsou-os, restabelecendo a soberania lusa. A segunda foi a França Equinocial, no Maranhão, da qual trataremos em seguida.
0 Brasil foi dividido em Capitanias Hereditárias em 1534, quando foram aproximadamente demarcados os limites do futuro Estado do Maranhão.
No ano seguinte, era fundado o povoado de Nossa Senhora de Nazaré, na Ilha da Trindade, hoje São Luís, mas que não sobreviveu muito tempo.
Os filhos do donatário João de Barros pediam ao rei de Portugal, em 1554, mandar povoar esta capitania, antes que os franceses o fizessem, pois vinham buscar pau-brasil e começavam a fazer construções.
Daniel de la Touche, Senhor de la Ravardière, conseguiu de Maria de Médecis — então regente da França — em 12 de outubro de 1610, a concessão para estabelecer uma colônia no Maranhão.
Uma expedição de franceses iniciou viagem em 12 de março de 1612, a 18 de junho estava em Fernando de Noronha e a 26 de julho em São Luís.
No dia 8 de setembro, construindo Daniel de la Touche o forte de São Luís, estabelecia a sonhada França Equinocial.
O Governador-Geral do Brasil, Gaspar de Souza, já veio de Portugal com a recomendação da reconquista do Maranhão. Nomeou Jerônimo de Albuquerque chefe da expedição para expulsar os franceses, a qual partiu de Olinda, em Pernambuco, no dia 24 de agosto de 1614, com oito barcos, 200 homens e 100 indígenas aliados.
Após diversas escalas no roteiro, estavam em território maranhense a 13 de outubro, na foz do rio Periá, quartel de São Tiago. Aí deixaram uma grande cruz, sinal de sua passagem, origem do nome Primeira Cruz, da cidade hoje existente no local.
Batalha de Guaxenduba
No dia 25 de outubro, chegaram ao acampamento de Guaxenduba, no continente, bem em frente à ilha da Capital, São Luís, separada pela Baía de São José.
Os lusos passaram então a construir o fortim de Santa Maria, e a 28 assistiram à Missa celebrada pelos capelães da jornada milagrosa, frei Cosme d’Anunciação e frei André da Natividade.
A chegada dos portugueses não passou desapercebida aos franceses, que no dia 2 de novembro enviaram duas lanchas para atirarem contra o forte em construção.
A partir de então começaram as escaramuças entre os dois contingentes.
No dia 11 de novembro, índios tupinambás sob comando dos franceses destruíram e queimaram todas as embarcações portuguesas.
Os franceses bloquearam ainda todas as saídas possíveis aos lusos, e não lhes deixaram outra alternativa senão a luta de vida ou de morte, o que aconteceu uma semana depois.
No alvorecer do dia 19 de novembro, toda a enseada da baía em frente ao forte de Santa Maria de Guaxenduba estava tomada pela esquadra francesa, pronta para o combate.
Eram ao todo cinco navios e cinquenta canoas com trezentos franceses e dois mil indígenas, sob a direção suprema de Daniel de la Touche, que enviou logo um ultimatum de rendição aos portugueses.
Os franceses desembarcaram e passaram a construir trincheiras e uma fortificação de emergência num outeiro em frente ao forte Santa Maria.
Jerônimo de Albuquerque percebeu que somente um contra-ataque de surpresa poderia salvá-los, devido à grande superioridade numérica dos adversários, à posição estratégica que desfrutavam e à proximidade de sua base de provisões.
Os portugueses se lançaram a um ataque maciço. Uma coluna avançou sobre os franceses na praia, e quando os da colina desceram para ajudá-los encontraram-se com Jerônimo de Albuquerque. As duas frentes portuguesas foram sobre os inimigos com um tal ímpeto e garra, que estes logo se sentiram desnorteados e suas linhas se romperam.
Daniel de la Touche mandou um destacamento atacar o forte luso, mas encontrou uma enérgica reação, e não teve a menor chance de sucesso.
Uma Senhora diáfana e radiosa
Narra a história que, no fragor da batalha de Guaxenduba, uma Senhora de aparência diáfana e radiosa apareceu como por encanto entre as fileiras portuguesas, percorrendo suas linhas de combate, incentivando-os à luta, apanhando areia do chão e servindo-a já transformada em pólvora aos soldados para que municiassem suas armas, e curando as cicatrizes dos feridos.
Era a Virgem Mãe de Deus que dessa forma revigorava os lusos com sua real presença e no posto de verdadeira comandante da batalha.
A essas alturas, foi um salve-se quem puder do lado francês. Eles e os dois mil selvagens que os apoiavam iniciaram uma debandada na mais completa desordem. Disso se aproveitaram os portugueses para lançarem um derradeiro ataque.
A batalha de Guaxenduba durou das 10 às 16 horas, e a vitória moral e material dos portugueses foi a mais completa possível.
Os franceses tiveram mais de cem mortos, abatidos no campo de luta ou afogados na fuga. Entre os índios, seus aliados, a mortandade foi incalculável, falando alguns historiadores em 1400. Os vitoriosos tiveram apenas 11 mortos e 18 feridos!
Os portugueses festejaram ostensivamente a reconquista e proclamaram Nossa Senhora das Vitórias como padroeira de São Luís.
Com a derrota de Guaxenduba, terminou o domínio francês no Maranhão.
A presença e atuação da Virgem Maria nesse histórico episódio nos faz lembrar a passagem do “Cântico dos Cânticos”, a Ela aplicada: “Quem é esta que vai caminhando como a aurora quando se levanta, formosa como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha? “(6,9).
Bibliografia
1. Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, Editora Itatiaia, Belo Horizonte, 1982, 7ª edição.
2. Serafim Leite, História da Companhia de Jesus no Brasil, Tipografia Porto Médico, Porto, 1938, t. II.
3. Francisco Adolfo Varnhagen, História Geral do Brasil, São Paulo, 1956.
4. Mário M. Meirelles, França Equinocial, Civilização Brasileira, São Luis, 1982, 2ª edição.
5. Carlos de Lima, História do Maranhão, São Paulo, 1981.
Fonte: https://ipco.org.br
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