28.06.2017 -
(Criança com suspeita de cólera em Saná, capital do Iemên. A crise sanitária e de alimentos causada pelo bloqueio saudita ao país provocou um surto mortal de cólera. A cada minuto um paciente dá entrada no maior hospital de Saná)
O circo interminável que é a presidência de Donald Trump está desviando a atenção de problemas de todo tipo que precisam urgentemente dela, desde a reforma da saúde até o crescimento paulatino do engajamento dos EUA na Síria. Mesmo assim, é chocante que tão pouca atenção esteja sendo dada a uma crise humanitária que a ONU descreve como a pior desde 1945: o risco de que 20 milhões de pessoas em quatro países enfrentem fome generalizada nos próximos meses e que centenas de milhares de crianças morram de inanição.
Você ainda não ouviu falar disso? Aí está o problema. De acordo com a ONU e entidades de assistência privadas, os esforços para fornecer alimentos suficientes para frear as crises simultâneas no Sudão do Sul, Somália, Iêmen e Nigéria estão deixando tragicamente a desejar, em parte porque devido à insuficiência de fundos recebidos de governos e doadores privados. Dos US$4,9 bilhões que o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) pediu em fevereiro para atender às necessidades imediatas desses países, apenas 39% tinham sido doados até a semana passada.
Essa falta de assistência pode ser atribuída ao desinteresse dos doadores ou às dimensões da ajuda necessária. Mas parte do problema é uma simples falta de consciência dele.
“Parece que não conseguimos que ninguém preste atenção ao que está acontecendo”, diz Carolyn Miles, presidente e executiva-chefe da Save the Children.
“Nunca antes vi nada como isso”, comenta David Beasley, ex-governador da Carolina do Sul e atual diretor do Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas (PMA).
“Nos últimos oito a dez meses o mundo tem estado com sua atenção voltada a outro lugar. É tudo Trump, Trump, Trump. Sendo que nós, aqui, estamos vivendo uma crise.”
Os números que Miles e Beasley citam de cabeça deveriam comandar a atenção geral. Por exemplo: 14 milhões de crianças correm o risco de morrer de inanição nos quatro países, das quais 600 mil “podem morrer nos próximos três a quatro meses”, segundo Beasley.
No Iêmen, onde a fome atormenta 17 milhões de pessoas, apenas 3,3 milhões de pessoas estão recebendo rações alimentares completas, sendo que o PMA queria alimentar 6,8 milhões este mês. Enquanto isso surgiu uma epidemia de cólera, que já atingiu mais de 200 mil pessoas. Miles diz que uma criança é infectada a cada 35 segundos.
“Insegurança alimentar grave”
Foram feitos alguns avanços: no Estado de Unity, no Sudão do Sul, que este ano ultrapassou os critérios da ONU para definir uma região em situação de fome generalizada, o alerta foi removido na semana passada, após algumas entregas grandes e pontuais de alimentos. Também na Somália as operações de assistência vêm sendo mais eficazes que durante o último período de carestia declarada, em 2011. Mesmo assim, a situação geral nos dois países ainda é assustadora. Nada menos que 50% da população do Sudão do Sul, ou 6 milhões de pessoas, devem estar em situação de “insegurança alimentar grave” nas próximas semanas, um aumento de 500 mil pessoas em relação a maio.
A falta das chuvas previstas para a primavera na Somália pode empurrar o país para uma situação de fome generalizada até julho, diz Miles. Mas o PMA diz que, se não receber mais assistência, pode ser obrigado a cortar a ajuda a 700 mil somalis nas próximas semanas.
Não obstante a postura da administração Trump contrária à doação de assistência a outros países, os EUA não são o problema aqui. Até o início de junho Washington já havia prometido quase US$1,2 bilhão em assistência emergencial aos quatro países, incluindo um suplemento adicional de US$329 milhões anunciado em 24 de maio. E há mais ajuda pela frente, graças a uma coalizão bipartidária no Congresso comandada pelo senador Lindsay O. Graham, que inseriu US$990 milhões no orçamento deste ano a título de ajuda emergencial para combater a fome.
(Garoto iemenita senta-se em um saco de comida doado por uma organização de caridade local durante o Ramadã. O país passa por uma crise alimentar grave)
As autoridades assistenciais disseram que conseguir que o dinheiro venha de Washington é um processo demorado, pelo fato de a nova administração ainda não ter preenchido postos importantes na Usaid (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional). E, para o ano que se inicia em outubro, o orçamento de Trump propõe um corte drástico de US$1 bilhão na assistência alimentar. Mas Graham e outros legisladores chaves já deixaram claro que isso não vai acontecer. “Apesar de todo o caos”, Beasley me disse, “democratas e republicanos ainda unem suas forças para ajudar crianças que passam fome”.
Arábia Saudita devastadora
O líder do PMA está mais impaciente com outros países, especialmente os países do Golfo Pérsico que contribuíram tanto para criar a crise no Iêmen. A Arábia Saudita, que lidera a intervenção militar que desde 2015 vem devastando um país já pobre, impõe um bloqueio parcial ao porto crucial de Hodeida, por onde são importados 70% dos alimentos consumidos no Iêmen.
(Iemenitas procuram objetos no meio de destroços causados por um bombardeio aéreo da coalização liderada pela Arábia Saudita)
Os sauditas prometeram US$227 milhões de ajuda emergencial para combater a fome no Iêmen este ano, mas até agora entregaram apenas 30% desse valor. Os Emirados Árabes Unidos nem sequer constam da lista de doadores do Ocha.
“A Arábia Saudita deveria financiar 100% das necessidades humanitárias do Iêmen”, diz Beasley. “Sem sombra de dúvida.”
No passado, situações de fome generalizada atraíam muita atenção no Ocidente. Astros do rock comandavam campanhas de assistência e redes de televisão produziam documentários especiais. ONGs americanas estão procurando maneiras de dinamizar a atenção dos Estados Unidos neste verão. Milhões de vidas podem depender de elas conseguirem chamar a atenção do público na era dominada por Trump.
Tradução de Clara Allain - Via Gazeta do Povo notícias
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Diz na Sagrada Escritura:
"O Senhor dizia: julgai segundo a verdadeira justiça; cada um de vós tenha bom coração e seja compassivo para com o seu irmão. Não oprimais a viúva nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, e não trameis em vossos corações maus desígnios uns contra os outros.
Eles, porém, não quiseram escutar: voltaram-me as costas, revoltados, e taparam os ouvidos para nada ouvir. Endureceram o seu coração como um diamante, para não entenderem as instruções e as palavras que o Senhor dos exércitos lhes dirigia pelo seu Espírito, por meio dos antigos profetas. Por isso o Senhor dos exércitos indignou-se vivamente contra eles". (Zacarias 7, 9-12)
"Todos eles amam as dádivas e andam atrás do proveito próprio; não fazem justiça ao órfão, e a causa da viúva não é evocada diante deles.
Por isso eis o que diz o Senhor, Deus dos exércitos, o Poderoso de Israel: Ah! eu tirarei satisfação de meus adversários, e me vingarei de meus inimigos. Voltarei minha mão contra ti, e te purificarei no crisol, e eliminarei de ti todo o chumbo. Os rebeldes e os pecadores serão destruídos juntamente, e aqueles que abandonam o Senhor perecerão. O homem forte será a estopa. e sua obra, a faísca; eles arderão sem que ninguém possa extinguir". (Isaías 1)
"Pus-me então a considerar todas as opressões que se exercem debaixo do sol. Eis aqui as lágrimas dos oprimidos e não há ninguém para consolá-los". (Eclesiastes 4, 1)
"Porque conheço o número de vossos crimes e a gravidade de vossos pecados, opressores do justo, exatores de dádivas, violadores do direito dos pobres em juízo". (Amós 5, 12)
"O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e tirará de toda a terra o opróbrio que pesa sobre o seu povo, porque o Senhor o disse". (Isaías 25, 8)
"Porque ele livrará ao necessitado quando clamar, como também ao aflito e ao que não tem quem o ajude. Compadecer-se-á do pobre e do aflito, e salvará as almas dos necessitados". (Salmos 7, 1)
"Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição". (Apocalipse 21, 3-4)
"Portanto, eis o que diz o Senhor Deus: meus servos comerão e vós tereis fome, meus servos beberão e vós tereis sede, meus servos se rejubilarão...
...e vós ficareis envergonhados, meus servos cantarão na alegria de seu coração, e vós vos lamentareis com o coração angustiado, rugireis com a alma em desespero. Vosso nome ficará como um termo de maldição entre meus eleitos: (Que o Senhor Deus te faça morrer!) enquanto meus servos receberão um novo nome. Aquele que desejar ser abençoado na terra, desejará sê-lo pelo Deus fiel, e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus fiel, porque as desgraças de outrora serão esquecidas, já não lhes volverão ao espírito. Pois eu vou criar novos céus, e uma nova terra; o passado já não será lembrado, já não volverá ao espírito, mas será experimentada a alegria e a felicidade eterna daquilo que vou criar. Pois vou criar uma Jerusalém destinada à alegria, e seu povo ao júbilo". (Isaias 65)
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