22.06.2017 -
O mês de abril de 2017, o mundo teve a notícia do sequestro e, dias depois, da libertação do padre jesuíta Samuel Okwuidegbe na região oriental da Nigéria. Ele foi solto depois de ter sido brutalmente agredido e violentado psicologicamente. A roupa dele foi coberta de parafina e, durante o cativeiro, os sequestradores ameaçavam constantemente queimá-lo vivo.
O padre abriu sua alma em um testemunho dado ao site dos jesuítas na África e Madagascar: ele não esconde o medo e as lágrimas que escorreram durante aqueles dias, mas também relata o íntimo encontro com Cristo que experimentou durante o sequestro, quando pensou que ia morrer. A oração o salvou – tanto a oração que ele fez a Deus quanto as preces que todos fizeram para que ele pudesse sair ileso.
Padre Samuel lembra que era uma terça-feira e ele se preparava para fazer uma longa viagem, a fim de realizar exercícios espirituais para um grupo de irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Naquela mesma manhã, antes de sair, o superior dos jesuítas o chamou e brincou: “cuidado para não ir aonde possam te sequestrar”. Uma brincadeira que se transformou em realidade.
Já na estrada, o padre ouviu disparos, ficou muito assustado, e um grupo de homens armados com fuzis o obrigou a sair do carro (ele e os ocupantes de outro veículo). “Se não sair, eu atiro”, advertia um homem, apontando as armas.
“Por que, Deus?
Durante horas, ele foi obrigado a caminhar pela selva até que escureceu. “Naquela hora eu tive a certeza de que tinha sido sequestrado. Comecei a pedir a Deus. Dizia: por quê? Por que, Deus?”
Os sequestradores fizeram inúmeras perguntas ao padre, embora não acreditassem que ele fosse um sacerdote e temessem que pudesse ser um policial disfarçado. “Eles pegaram todos os nossos pertences, levaram meu relógio, meu anel, minha carteira e um terço”.
Com os pés e as mãos amarrados como uma cabra antes de ser morta
Os homens armados inculcaram especialmente como padre Samuel porque, quando pediram um telefone para poder ligar e pedir o resgate, ele não se lembrava de nenhum.
“Isso desencadeou uma série de golpes contra mim, eles ataram minhas mãos e meus pés como uma cabra antes de ser morta. Tiraram minha batina e minha camisa, atiraram-me ao chão e começaram a me bater com a culatra das armas. Bateram-me nas costas e no rosto. Depois, aproximaram minha roupa do meu nariz. Eu sentia o cheiro de parafina. E um deles disse: ‘vamos te queimar vivo’”.
Em seu testemunho Samuel Okwuidegbe relata que pensava, realmente, que seria queimado. E começou a rezar em silêncio: “Deus, comprometo-me contigo, confio a ti o meu espírito”.
“Eu tinha a esperança de um milagre”
Finalmente, naquele dia não o mataram e, inclusive, o desamarraram. Ele começou a chorar, enquanto tinha o rosto todo ensanguentado. Não sabia por quanto tempo continuaria vivo, mas “tinha a esperança de um milagre”.
“A cada minuto, eu rezava todo tipo de oração. Rezei para São Inácio, rezei o rosário e o terço da Divina Misericórdia. Em um determinado momento, eu me peguei cantando, em meu interior, uma música que dizia: “Deus, fale comigo…Deus, onde estás?’ Continuei sussurrando em meu coração e isso me deu esperança”, conta o jesuíta africano.
No segundo dia, a situação foi a mesma. Eles não ofereceram nem água nem comida ao padre. Os sequestradores queriam negociar o resgate. “Comecei a pensar na morte, a imaginar o que a morte significa e o que é morrer”, assegurou o padre, que também tinha pensamentos consoladores ao lembrar que as irmãs já sabiam que tinha acontecido algo com ele, já que ele não chegara ao convento. Certamente estariam rezando por ele. “Isso me deu esperança para viver, para sobreviver”, disse.
No terceiro dia, as negociações continuaram. O padre lembra que “os sequestradores faziam ligações do meio da floresta, sem medo. Mas nem o governo nem ninguém ia nos resgatar. Eles estavam tranquilos, não sentiam nenhuma pressão”.
Os bandidos ameaçavam os sequestrados, dizendo que, se houvesse algum problema, eles seriam mortos. “Eu intensificava minhas orações e rezava a Deus para recuperar a paz”.
Finalmente, o padre foi liberado e abandonado no meio da selva, até que conseguiu encontrar a casa de uma família, que correu para ajudá-lo ao ver a batina. Assim acabaram os dias de violência e medo.
O milagre da oração
“Deus me revelou que nunca me abandonou na selva, inclusive quando estava fora de todo alcance. Deus ouviu minhas orações e estava comigo. Não fossem as orações, eu não teria sobrevivido”, conta o padre.
O padre não se considera um herói ou um valente, mas o contrário, pois Deus apareceu justamente no seu momento de fraqueza: “Às vezes eu choro e recebo consolo sempre que me lembro daquelas duras condições, depois de ter passado tanto medo das cobras e escorpiões. No entanto, Deus me deu paz para dormir durante aquelas três noites sem pensar em nenhum tipo de medo. Para mim, foi um milagre”.
“Eu estava no vale da morte e Deus interveio por causa de todas as orações de pessoas de todo o mundo. Não fossem as orações, eu não sobreviveria a esta terrível experiência”, confessa o padre Samuel Okwuidegbe.
Fonte: Religión en Libertad via Aleteia
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