05.05.2017 -
Assim como é certo que um sinal autêntico do Céu é submetido à Igreja e ao seu chefe terreno, também é certo que um sinal de fé tem por objetivo amparar a fé dos homens e também do papa. Essa graça a Igreja conheceu no extraordinário evento de Fátima. Nas aparições de Nossa Senhora a três pastorzinhos em 1917, Deus deu aos homens e às sociedades um claro e eficaz sinal da Sua Vontade e desígnios de graça e misericórdia para o nosso século convulso. Também os fatos transcorridos desde então e profetizados na mensagem registrada pela pastora Lúcia, confirmam a origem deste evento portentoso e as razões por que foi necessário: a crise da Fé na Igreja.
A Sabedoria divina dá sinais proporcionais à gravidade do perigo.
Para aprofundar estas razões considere-se que o evento apresentou-se, desde o início, como um grande aviso cujos termos da mensagem dada aos pastorzinhos eram válidos desde 1917, salvo a parte reservada para ser conhecida em 1960. Os fatos históricos confirmaram isto, no que tange aos “erros espalhados pela Rússia” e suas implicações fora e dentro da Igreja.
Pela natureza mesma da intervenção sobrenatural e pelas palavras da mensagem, fica claro que atender o pedido-ajuda de Nossa Senhora de Fátima é necessário e consiste na única saída para os problemas de nossa época: “Se atenderem a Meus pedidos a Rússia se converterá e terão paz; se não espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja…” Não há alternativa.
Palavras tão graves demandavam para a fé tremulante dos homens atuais um aval proporcional à entidade dos perigos profetizados. Este sinal no sinal foi previamente anunciado desde a terceira aparição e seguidamente até o majestoso, mas também terrificante, Milagre do Sol, de 13 de outubro de 1917, “para que todos pudessem acreditar”. Um milagre com dia e hora marcados!
Em síntese: em 1917 a Igreja militante recebeu um sinal visível de dimensões incomparáveis e únicas na História, para ser avisada do grande perigo que pendia sobre os povos da Terra e dispor dos meios eficazes para enfrentá-lo com a força da fé. Não há dificuldade em identificar o perigo objetivo na revolução bolchevique russa, pela data, 1917, em que se impôs esse programa de ateísmo militante. Para enfrentar esse mal, convertendo a Rússia e salvando muitas almas, não eram propostos meios impossíveis ou insuportáveis, mas devoções normais para a Igreja. Todavia, o evento de Fátima foi hostilizado e sua mensagem censurada, desprezada e reduzida, até hoje. Por quê? Esse fato não pode revelar uma situação de declínio da fé na Igreja? Não pode ser um aviso implícito no aviso explícito? Não ensinou Jesus que sem Ele nada podemos? E que quem não recolhe com Ele, dispersa? A Igreja reconheceu a autenticidade do sinal que representa claramente os desígnios de Deus em favor dos homens. Por que não foram atendidos?
Às considerações lógicas inerentes ao evento de Fátima, acima expostas, será preciso acrescentar o fato implícito das graves e crescentes dificuldades na fé da Igreja, a espantosa crise da Igreja no século XX. Isto foi visto na sequência cronológica das datas que, representando a Vontade divina, não podem ser casuais. Deve-se, pois, começar pela causa próxima das aparições de 1917, o pedido de intercessão feito universalmente pelo papa Bento XV à Rainha da Paz, cuja resposta não foi reconhecida na época e permanece esquecida. Mas a esta seguiu a desconfiança misturada à indiferença em procurar reconhecer um sinal de autenticidade previsto para 13 de outubro de 1917, já desde a terceira aparição, de 13 de julho: “farei um milagre que todos hão de ver para acreditar”.
Os fiéis e especialmente os padres podem não aceitar sinais sobrenaturais não comprovados, mas recusar as provas do que possa vir de Deus é péssimo indício. O interesse pelo conteúdo da mensagem contida nas aparições que culminaram com o “milagre do sol” é mais que natural para quem tem fé. A prudência na aceitação desta pela Igreja é certamente necessária, mas ordenada ao reconhecimento da verdade, não a sua ocultação.
O evento de Fátima veio iluminar o sentido cristão da História. Como explica dom Guéranger: “O destino humano é sobrenatural; disto se deduz que uma história que não se inspira nas fontes sobrenaturais não é história verídica, por mais cristãs que possam ser as convicções de quem a escreve.”
A chave de leitura do evento de Fátima está sempre na Igreja, mas como depois de tanto tempo ainda não foi revelada toda a sua mensagem nem atendidos seus pedidos, para o bem das almas e da Igreja, é necessário ver a razão disto, que não é devida à oposição externa. Diante disto não é possível continuar mencionando vagamente Fátima sem enfrentar as conclusões a que inevitavelmente leva.
Afinal, por que foi necessário um sinal extraordinário para lembrar o que deveria ser ensinamento ordinário da Igreja sobre a paz? Estava este esquecido ou em vias de ser alterado pelos pastores? É claro que assim sendo a hostilidade a Fátima é a mesma que existe de modo velado contra a própria Doutrina. Esta é bastante clara para sustentar-se por si mesma na mente de qualquer fiel. Igualmente, a mensagem de Fátima, enquanto a repete. Eis, então, que a oposição a esta vai refletir o lastimável estado de fé de muitos pastores.
QUANDO O PAPA PEDIU, NOSSA SENHORA ATENDEU
Quem se dispõe a perscrutar os eventos de Fátima, deve ter presente que um sinal sobrenatural só pode vir expresso na linguagem das Escrituras e da Tradição, pela qual é o desígnio divino a dirigir os eventos do mundo como a órbita do universo. Nesta linguagem está a chave da autenticidade e da compreensão de todo sinal celeste.
Apuremos então a mente na linguagem cristã em que estão cifrados tanto os eventos portentosos como os mais singelos. Nada é fortuito na História e nada escapa à solicitude divina na vida de Sua Igreja. Reconheçamos o motivo próximo das aparições de Fátima para não perder uma manifestação do amor divino, chave de todo saber.
Quando em 1917 os horrores da l.a Grande Guerra provocavam rios de sangue e de lágrimas sem que se pudesse prever o seu fim, o papa Bento XV invocou com toda a Igreja a intercessão de Maria Santíssima pela paz. Eis os termos da carta ao secretário de Estado, cardeal Gasparri, com as disposições para que toda a Igreja invocasse a Rainha da paz nas suas orações mais freqüentes:
“Rainha da Paz… Para tal fim, se eleve a Jesus mais freqüente, humilde e confiante, especialmente no mês dedicado a Seu Santíssimo Coração, a oração da miserável família humana para suplicar-Lhe o fim deste terrível flagelo. Purifique-se cada um com maior freqüência no lavabo da confissão sacramental, e ao amantíssimo Coração de Jesus ofereça com afetuosa insistência as suas súplicas. E uma vez que todas as graças que o Autor de todo o bem se digna conceder aos pobres descendentes de Adão provêm, por amoroso conselho de Sua Divina Providência, pelas mãos da Virgem Santíssima, nós queremos que seja dirigido à Grande Mãe de Deus nessa hora horrível, mais que nunca o vivo e confiante pedido de seus filhos muito aflitos. Encarregamos portanto a Vós, Senhor Cardeal, de fazer conhecer a todos os bispos do mundo o nosso ardente desejo que se recorra ao Coração de Jesus, Trono de graças, por meio de Maria. Com esse propósito ordenamos que, desde o dia primeiro do próximo mês de junho, fique inserida na Ladainha de Loreto a invocação Regina pacis, ora pro nobis.
“Eleve-se portanto a Maria, que é Mãe de misericórdia e onipotente pela graça, de cada canto da terra, dos templos majestosos como das pequenas capelas, dos palácios e ricas mansões dos grandes como dos mais pobres casebres onde se aloja uma alma fiel dos campos e mares ensangüentados, a piedosa e devota invocação e leve a Ela o angustioso grito das mães e esposas, o gemido dos meninos inocentes, o suspiro de todos os nobres corações: possa mover a Sua amável e muito benigna solicitude a obter para o mundo desvairado a aspirada paz, e possa lembrar depois aos séculos futuros a eficácia de Sua intercessão e a grandeza do benefício por Ela obtido a Seus filhos.”
A carta é de 5 de maio de 1917. Oito dias depois, 13 de maio, na Cova da Iria em Fátima, Maria Santíssima aparecia, qual arco-íris da paz e da graça, para mostrar aos homens o caminho da verdadeira paz neste mundo e da salvação eterna no outro. Seria reconhecida?
De início este evento extraordinário ficou circunscrito à região, mas com o passar dos dias começou “uma concorrência assombrosa de peregrinos incomparavelmente superior a Lourdes na época das aparições e apesar da dificuldade de acesso” (NDOC. p. 95).
Consideremos agora as ações dos papas desde 1917 a esse respeito. Bento XV pediu a intervenção de Maria Santíssima pela paz universal. Não cogitou, porém, que em Fátima veio a resposta; Pio XI, citado na mensagem, apoiou o culto de Fátima e instituiu a festa de Cristo Rei, mas não fez a consagração pedida; Pio XII, chamado o papa de Fátima, atendeu pessoalmente à solicitação, mas sem ordená-la aos bispos. Cabe concluir que a esperança posta no cumprimento da promessa de intervenção do Céu era insuficiente. Como seria em seguida?
João 23 mandou arquivar a parte ainda secreta da mensagem e Paulo 6, embora indo a Fátima em 1967, evitou mencioná-la. Na véspera da viagem leu a exortação apostólica Signum Magnum, com a qual reconhecia em Nossa Senhora a mulher vestida de sol do Apocalipse, mas deu seu pedido por atendido. Não escondeu que punha sua última esperança de paz na ONU.
Paulo 6 foi quem adaptou a Santa Missa aos protestantes, transferiu a liberdade da Igreja aos cidadãos e a tiara, símbolo da soberania de Cristo Rei, aos pobres. Seus sucessores houveram por bem continuá-lo e ao seu Concílio.
Ficava assim instaurada uma Igreja Conciliar onde o projeto de paz passou a depender de iniciativas humanas sem vínculos espirituais. Além do quê, seria a liberdade de consciência e de religião a constituir o fundamento da dignidade dos homens, e como desta destoa prostrar-se contrito diante de Deus para elevar-lhe súplicas de misericórdia, a oração transformou-se em simples e vulgar diálogo. Aos homens livres competiria mais julgar que acatar mistérios.
Essa liberdade de “julgar” o que deve ser verdade é a premissa da grande apostasia, desde o início insuflada pelo iníquo sedutor: “Sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal” (Gn. 3,5). São Paulo (Ts.II,2) fala desse mistério de iniqüidade presente também na Igreja desde o início, mas retido até que alguém com o poder das chaves lhe franqueasse a saída do abismo de onde se erguerá para impor na Igreja o culto e o domínio do homem.
Podemos ainda considerar essa liberdade quanto à verdade uma insídia remota e hermética nos nossos dias? É claro que pôr em dúvida a verdade única e os sinais da vontade de Deus é manifestação de apostasia e adesão a poder que, “com sinais e prodígios enganosos, com todas as seduções da iniqüidade para aqueles que se perdem porque não abraçaram o amor da verdade para serem salvos. Por isso Deus lhes enviará o artifício do erro de tal modo que creiam na mentira” (Ts. II, 9-10). Qual artifício do erro maior que o culto do homem, o homem que se faz deus na Igreja de Deus que se fez Homem? Eis a «obra» dos anticristos conciliares!
Fonte: https://promariana.wordpress.com - Enviado por José Carlos Bovo
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