23.01.2017 -
Este artigo do Professor Plinio Corrêa de Oliveira, escrito em estilo de crônica no dia 16 de novembro de 1983, na "Folha de São Paulo", sintetiza de uma maneira brilhante - como ele sempre fez - a história do Brasil, recente para nós, mas futura para a época dele. Vemos isto mais especialmente quando ele fala da criminalidade como a revolução social que marcha. A crise nas penitenciárias brasileiras bem o demonstra. O personagem revolucionário criado por ele no artigo, em tom de insulto e provocação, diz: "À vista de tudo quanto eu disse, um governo consciente de suas obrigações tem por dever desmantelar a repressão e deixar avançar a criminalidade. Pois esta não é senão a revolução social em marcha. Todo assassino, todo ladrão, todo estuprador não é senão um arauto do furor popular. E por isto farei constar ao mundo inteiro que a explosão criminal no Brasil está sendo caluniada por reacionários ignóbeis. A criminalidade é a expressão deste furor justamente vindicativo das massas, que os sindicatos e a esquerda católica não souberam galvanizar."
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Quatro Dedos Sujos e Feios
A perplexidade se dá bem com macias cadeiras de couro, nas quais o homem sente afundar-se gostosamente. É que há certa analogia entre estar atolado em questões perplexitantes, e em poltronas de molas macias. O homem perplexo, afundado em couros, fica atolado tanto de corpo como de alma, o que confere à situação dele essa unidade que nossa natureza pede insistentemente, a todo propósito.
É verdade que tal unidade não vai aí sem alguma contradição. As perplexidades constituem para a mente um atoleiro penoso. Um purgatório. Por vezes quase um inferno. Pelo contrário, os couros e as molas proporcionam ao corpo cansado um atoleiro delicioso, reparador. Mas essa contradição não fere a unidade. E diminui o tormento do homem, em vez de o acrescer.
Para prová-lo ao leitor, bastaria a este imaginar quão pior seria a situação de um homem perplexo, sentado num duro banco de madeira…
Ocorreu-me isto tudo ao recordar que, numa noite destas, chegado ao termo o jantar, resolvi refletir sobre a situação nacional, atoleiro no sentido mais preciso e sinistro do termo. E para isto me afundei instintivamente em uma profunda e macia poltrona de couro. Comecei então a pensar…
A ronda macabra dos vários problemas pátrios, ideológicos, sociais e econômicos, começou a dançar em meu espírito. A fim de ver claro, eu procurava deter a feia ciranda, de modo a analisar, uma por uma, as várias questões que a formavam. Mas estas pareciam fugir a toda avaliação exata, executando cada qual, diante de meus olhos por fim fatigados, um movimento convulsivo à maneira do “delirium tremens”. Pertinaz, eu insistia. Mas elas, não menos pertinazes do que eu, aumentavam seu tremor, e de repente retomavam em galope sua ciranda.
Febre? Pesadelo? O certo é que me senti subitamente em presença de um personagem muito real, de carne e osso…
E eu, que tinha intenção de comunicar aos leitores o resultado de minhas lucubrações, fiquei reduzido a contar-lhes o que este personagem me disse.
O tal homem a-temporal me tratava de você, com uma certa superioridade que tinha seu tantinho de irônico e de condescendente. E, pondo em riste o indicador curto e pouco limpo da mão direita, como para me anunciar uma primeira lição, sentenciou: “Saiba que eu, o comunismo, fracassei neste sossegado Brasil. O PC é aqui um anão que dá vergonha. Por isso, evito de o apresentar sozinho em público. O sindicalismo não me adiantou de nada. Possuo muitos de seus chefes, mas escorre-me das mãos o domínio sobre suas bases bonacheironas (“pacifistas”, diria você). Entrei pelas Cúrias, pelas casas paroquiais, seminários e conventos. Que belas conquistas eu fiz. Mas ainda aí prosperei nas cúpulas, porém a maior parte da miuçalha carola me vai escapando. Noto, Plinio, sua cara alegre ante minha envergonhada confidência. Você me reputa derrotado. Bobão! Mostrar-lhe-ei que tenho outros modos de progredir.
— Você duvida? — Sim, eu duvidava.
Então ele levantou teatralmente, ao lado do dedo indicador, o dedo médio, um pouco mais longo e não menos rejeitável. E entrou a dar sua segunda lição.
“Começarei por um sofisma. Farei o que você não imagina: a apologia do crime. Sim, direi por mil lábios, através de mil penas, milhões de vídeos e de microfones, que a onda de criminalidade, a qual tanto assusta os repugnantes burgueses, raramente nasce da maldade dos homens. Nas tribos indígenas, os crimes são mais raros do que entre os civilizados. O que quer dizer que o crime nasce entre nós das convulsões sociais originadas da fome. Elimine-se a fome, desaparece o crime. Como, aliás, também a prostituição.
“Quem você chama de criminoso é uma vítima. Sabe quem é o criminoso verdadeiro? É o proprietário. Sobretudo o grande proprietário. Principalmente este é que rouba o pobre.
“Enquanto um ladrão de penitenciária rouba um homem, o proprietário rouba um povo inteiro. Seu crime social é de uma maldade sem nome!”
O delírio leva a muita coisa. Pensei em expulsar o jactancioso idiota. Mas o comodismo me manteve atolado em minha poltrona. Furibundo e inerte, deixei-o continuar.
Ele levantou o dedo anular, feio irmão dos dois que já estavam erguidos. E prosseguiu.
“Há mais uma “seu” Plinio. À vista de tudo quanto eu disse, um governo consciente de suas obrigações tem por dever desmantelar a repressão e deixar avançar a criminalidade. Pois esta não é senão a revolução social em marcha. Todo assassino, todo ladrão, todo estuprador não é senão um arauto do furor popular. E por isto farei constar ao mundo inteiro que a explosão criminal no Brasil está sendo caluniada por reacionários ignóbeis. A criminalidade é a expressão deste furor justamente vindicativo das massas, que os sindicatos e a esquerda católica não souberam galvanizar.”
Suspendendo o minguinho, miniatura fiel dos três dedos já em riste, meu homem riu. “Farei entrar armas no Brasil. Quando os burgueses apavorados estiverem bem persuadidos de que não há saída para mais nada, suscitarei dentre os que você chama “criminosos”, um ou alguns líderes, que saberei camuflar de carismáticos. E farei algum bispo anunciar que, para evitar mal maior, é preciso que os burgueses se resignem a tratar com aqueles que têm um grau de banditismo menor.
“Vejo a sua careta. Você está achando a burguesia preparada para cometer mais esse erro. Tem razão. Assim se constituirá um governo à Kerensky, bem de esquerda. O dia seguinte será do Lênin que eu escolher.”
Levantei-me para agarrar o homem. Quando fiquei de pé, acabei automaticamente de acordar. Ou cessou a febre…
Escrevi logo quanto “vira” e “ouvira”, pois só até poucos minutos depois da febre ou do sono, tais impressões se podem conservar com alguma vitalidade.
Leitor, desejo que elas não lhe dêem febre. Se é que, antes de terminar a leitura, elas não lhe darão sono.
Este não será, em todo caso, um tranquilo sono de primavera. Mas estará em consonância com essa metereologia caótica dos dias aguados e feios com que vai começando novembro.
P.S. — A Polícia paulista parece hoje em reviravolta. Que diria a isto o hominho dos quatro dedos sujos? Em São Paulo, e pelo Brasil afora, que rumo tomará o buscapé da subversão? Parar, não parará…
Fonte: http://ipco.org.br
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Lembrando o artigo publicado no site 03.04.2016
Crise moral e religiosa leva à crise política, social e econômica;
Praticamente todos os brasileiros se encontram hoje muito preocupados com a avassaladora crise que se abateu sobre o País.
— Há solução? Procuramos uma palavra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que ajudasse elucidar a questão, e pareceu-nos encontrá-la numa conferência pronunciada por ele em 3 de dezembro de 1988 para correspondentes e simpatizantes da TFP.
Os excertos reproduzidos abaixo — sem revisão do autor — lançam luz no caminho para sairmos do atual crise.
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O EIXO DE TODA A VIDA DE UM PAÍS É A MORAL
Por *Plinio Corrêa de Oliveira
Na situação brasileira, até que ponto está ameaçado o direito que Deus tem de que sua Religião seja ensinada e apoiada, e que os católicos tenham a liberdade de praticá-la?
Sua Lei tem que ser praticada porque Ele é o Supremo Senhor e Criador de todos os seres. Portanto, a Ele todo mundo deve obediência.
Se analisarmos essas incógnitas, veremos desde logo o seguinte: no âmago desses problemas se encontra uma crise religiosa. Esta vai se tornando cada vez mais evidente.
Os senhores conhecem perfeitamente o que é o progressismo católico. Conhecem os erros, os desatinos, as concessões morais inadmissíveis que esse progressismo vai fazendo à modernidade, aos costumes depravados e sensuais. Conhecem de que maneira os trajes imorais, a promiscuidade entre os sexos e a facilidade com que se consente nas práticas que são contrárias á natureza etc.
Tais erros vão se espalhando, sem nenhuma resistência ponderável por parte dos meios progressistas que, antes pelo contrário, às vezes lhes dão apoio. Por exemplo, padres progressistas que em confessionários dizem a penitentes que eles podem, mesmo depois de casados e divorciados, casarem-se de novo. O que, evidentemente, é contrário à Lei de Deus. A indissolubilidade do vínculo conjugal proíbe o divórcio. E quem se casou uma vez está ligado a um vínculo que só a morte pode romper.
É um vínculo que nem o Papa pode dispensar. O Papa não pode dispensar um casado da obrigação de fidelidade para com a sua esposa, e reciprocamente. A indissolubilidade desse vínculo foi instituída pelo próprio Cristo Nosso Senhor, e ninguém pode dispensar.
Nessa crise, se tomarmos em consideração que o eixo de toda a vida de um País é a moral, onde a moral católica não é praticada, mais cedo ou mais tarde o País soçobra. Vendo até que ponto a moral católica não é ensinada e se favorece a transgressão desta moral em nome de não sei que “renovação religiosa”, então podemos ter ideia de como a consistência moral do povo brasileiro está ameaçada. Tanto mais que sintomas desses, nós os observamos de norte a sul do País, do litoral até o mais interior. A crise avança por todas as partes.
Vemos o povo brasileiro minado por dentro, no que tem de mais fundo, na sua formação religiosa e na sua própria alma, por tais fatores de decadência e desagregação. Também incide sobre o povo um outro fator péssimo: a propaganda contínua da imoralidade difundida pela mídia. Não se abre um jornal, não se liga uma televisão, não se folheia uma revista, não se ouve falar de uma fita de cinema nos quais, de um modo ou de outro, a moral não seja bombardeada.
Portanto, não há dúvida nenhuma a respeito do seguinte: quando a religião sofre uma crise dessa natureza, a ordem política, social e econômica entra em decadência. E, nessas condições, vemos o nosso País, e sobretudo a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, num estado de grande aflição. Julgo que, antes de tudo, o importante é nos convencermos a respeito dessa aflição.
*Plinio Corrêa de Oliveira. Homem de fé, de pensamento, de luta e de ação, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995) foi o fundador da TFP brasileira. Nele se inspiraram diversas organizações em dezenas de países, nos cinco continentes, principalmente as Associações em Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que formam hoje a mais vasta rede de associações de inspiração católica dedicadas a combater o processo revolucionário que investe contra a Civilização Cristã. Fonte: www.abim.inf.br
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Diz na Sagrada Escritura:
"Como se não bastasse terem errado acerca do conhecimento de Deus, embora passando a vida numa longa luta de ignorância, eles dão o nome de paz a um estado tão infeliz. Com efeito, sacrificando seus filhos, celebrando mistérios ocultos, ou entregando-se a orgias desenfreadas de religiões exóticas, eles já não guardam a honestidade nem na vida nem no casamento, mas um faz desaparecer o outro pelo ardil, ou o ultraja pelo adultério. Tudo está numa confusão completa - sangue, homicídio, furto, fraude, corrupção, deslealdade, revolta, perjúrio, perseguição dos bons, esquecimento dos benefícios, contaminação das almas, perversão dos sexos, instabilidade das uniões, adultérios e impudicícias". (Sabedoria 14)