19.01.2017 -
A forma que os aposentados Francisco das Neves e Gladys das Neves se olham, sentados no sofá do apartamento do casal, em Campinas (SP), ainda parece o mesmo da primeira troca de olhares, em um parquinho da Vila Industrial na década de 1940. Aos 87 anos e prestes a comemorar o 65º aniversário de casamento nesta quinta-feira (19), eles se orgulham do que construíram e criticam a rapidez com que as relações atuais chegam ao fim.
Juntos desde adolescentes, os dois colecionam histórias e uma família que soma três filhos, 10 netos e 13 bisnetos. "As pessoas mal se conhecem e se casam muito mais rápido, às vezes nem fazem nada e já dormem junto. Nós nunca aprovamos isso. É por isso que as relações acabam rápido. Naquele tempo, nós eramos simples, a gente se conhecia, mantinha a amizade e depois que começava a namorar", afirmou Francisco.
No entanto, a crítica à modernidade fica apenas no âmbito das relações amorosas. Em 2016, Gladys iniciou uma faculdade para a terceira idade na PUC-Campinas, com direito à aulas de fotografia, espanhol e excursões para outras cidades - sempre acompanhadas do marido. Além das atividades, a idosa é usuária das redes sociais e conversa com amigos e familiares por Facebook e Whatsapp.
"Estou gostando bastante. É muito bom, ajuda a ocupar a cabeça, mas nas excursões eu sempre levo o Francisco comigo. Não é muito bom ficar tanto tempo longe assim", brincou a aposentada, que também critica a efemeridade das relações e acredita que elas não duram porque os casais "aceleram" e pulam as etapas do namoro e do noivado, que servem para se conhecerem melhor.
Apesar da forte união entre eles, o casal ainda revela que paciência é o elemento chave para conseguir completar 65 anos de casados, já que as dificuldades se fizeram presentes durante todos esses anos. A perda de um filho com poucos meses de vida, problemas financeiros e de saúde, como dois Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) sofridos por Francisco há quatro anos, foram alguns dos problemas superados. "Ela sempre esteve do meu lado", disse o idoso.
Além de seu Francisco e dona Glayds terem enfrentado todas as dificuldades juntos por 65 anos, eles viram os filhos seguirem o mesmo caminho na escolha do parceiro para o casamento: de forma mais lenta e com muito cuidado, do jeito que eles gostam. "Eles são uma referência para nós. A união e o amor com que tratam o casamento nos inspiram", explicou a filha do casal Sylvia Helena Heinrich.
Início de tudo
O ex-representante comercial e a ex-professora contam que o início da história de amor aconteceu em uma chácara, onde conheceram através de amigos em comum. O namoro começou quando ambos tinham 16 anos, no parque da Vila Industrial. "A gente morava perto e tinha um parquinho de diversões em frente ao batalhão da PM. Nós fomos lá e estávamos naquele barco que vai e vem. Foi lá que ele falou pra me namorar", contou Gladys.
Até o momento de noivado, aos 22 anos, os encontros entre os dois eram só a caminho da escola ou então acompanhados da irmã mais nova de Gladys. "A primeira vez que saímos sozinhos foi para entregar os convites do casamento. Antes, a gente se falava pelo telefone e nunca ficávamos sozinhos", lembrou a esposa de Seu Francisco. Fonte: G1
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