Líder da Teologia da Libertação no Brasil, Leonardo Boff, declara: Francisco é um de nós. Transformou a Teologia da Libertação em propriedade comum da Igreja


27.12.2016 -

Por Maike Hickson – OnePeterFive | Tradução Sensus Fidei:

Em 25 de dezembro de 2016, o brasileiro Leonardo Boff, um dos mais proeminentes teóricos e agentes da Teologia da Libertação latino-americana, deu uma entrevista francamente reveladora e muito informativa ao jornal regional alemão Kölner Stadt-Anzeiger. Em razão de sua confiante, se não presunçosa, abertura, Boff de 78 anos de idade fala sobre vários assuntos do momento que de outra forma não ouviríamos tão facilmente.

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Por exemplo, ele revela o seguinte:

– Como e por que o Papa Francisco não se encontrou com Boff em Roma, conforme planejado, na véspera do segundo Sínodo sobre a Família em 2015 — porque o Papa estava furioso com a Carta dos Treze Cardeais e tentava acalmar a situação (e ele próprio? ) à frente do Sínodo;

– Como o Cardeal Walter Kasper disse recentemente a Boff que o Papa Francisco tem algumas “grandes surpresas” planejadas;

– Como o Papa Francisco pretende permitir que a Igreja Católica no Brasil permita padres casados, conforme seu amigo, o Cardeal Claudio Hummes, vem pedindo há algum tempo;

– Como o Papa Francisco havia pedido o material de Boff para a escrita de sua própria encíclica Laudato Si e como o papa o agradeceu posteriormente;

– Como Boff considera o Papa Francisco “um de nós”, ou seja, um dos simpatizantes solidários com a teologia da libertação.

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A seguir, portanto, traduzirei partes desta importante entrevista. As palavras de Leonardo Boff falam por si mesmas. É importante notar, neste contexto, que Boff foi criticado publicamente e silenciado em 1985 pelo Cardeal Joseph Ratzinger — então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) — por seus escritos heterodoxos que audaciosamente vão muito longe contra a doutrina da Igreja. Assim, em 1992, deixou formalmente a Ordem Franciscana à qual pertencia e também abandonou publicamente o sacerdócio católico.

P: A Teologia da Libertação da América Latina — da qual você certamente é um dos representantes mais proeminentes — recebeu agora novas honras [e apoio encorajador] de e através do Papa Francisco. Uma reabilitação também para você pessoalmente, após seus longos anos de luta com o próprio Papa João Paulo II e com o seu maior defensor da Doutrina, Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornou Papa Bento XVI?

Francisco é um de nós. Transformou a Teologia da Libertação em propriedade comum da Igreja. E ele a estendeu. Quem hoje fala dos pobres, também tem que falar da terra, porque ela também está agora sendo saqueada e abusada. “Ouvir o grito dos pobres”, ou seja, ouvir o grito dos animais, das florestas, de toda a criação torturada. Toda a terra grita. Além disso, diz o Papa — e ele assim cita um dos títulos de um dos meus livros — temos que ouvir simultaneamente o grito dos pobres e o clamor da terra. E, com certeza, ambos precisam ser libertados. Eu mesmo tenho lidado no passado recente com esse alargamento da Teologia da Libertação. E que [esta dimensão ambiental] é também o aspecto fundamentalmente novo em Laudato Si.

P: … .que está agora na “encíclica ecológica” do papa, promulgada no ano 2015. Quanto de Leonardo Boff está em Jorge Mario Bergoglio?

A encíclica pertence ao papa. Mas ele consultou muitos especialistas.

P: Ele leu seus livros?

Mais que isso. Ele me pediu material para Laudato Si. Dei-lhe o meu conselho e enviei-lhe um pouco do que escrevi. Que ele também usou. Algumas pessoas me disseram que estavam pensando enquanto liam: “Espere, isso é Boff!” A propósito, o Papa Francisco me disse diretamente: “Boff, não envie os papéis diretamente para mim.”

P: Por que não?

Ele disse: “Caso contrário, os Sottosegretari (os funcionários da administração do Vaticano, editores [da Kölner Stadt-Anzeiger]) irão interceptá-los e eu não os receberei. Em vez disso, envie as coisas para o embaixador argentino [na Santa Sé] com quem tenho uma boa conexão, então, elas chegarão em minhas mãos com segurança”. Por isso, é preciso saber que o atual embaixador na Santa Sé é um velho amigo do papa de seu tempo em Buenos Aires. Muitas vezes beberam mate juntos [mate é uma bebida especial da Argentina, uma espécie de chá]. Então, um dia antes da publicação da encíclica, o papa mandou alguém chamar-me para agradecer a minha ajuda.

P: Uma reunião pessoal com o papa ainda está pendente?

Ele [Papa Francisco] buscou uma reconciliação com os mais importantes representantes da Teologia da Libertação: com Gustavo Gutiérrez, Jon Sobrino, e também comigo. Eu lhe disse a respeito do Papa Bento XVI —, respectivamente, Joseph Ratzinger — “Mas aquele outro ainda está vivo, afinal!” Ele não aceitou isso. “Não”, ele disse, “Il Papa sono io” — “O papa, sou eu!” Fomos convidados a voltar. É aí que você vê sua coragem e sua determinação.

P: Por que sua visita ainda não foi elaborada?

Eu recebera um convite e havia desembarcado em Roma. Mas justamente naquele dia, imediatamente antes do início do [segundo] Sínodo sobre a Família em 2015, 13 cardeais — entre eles o cardeal alemão Gerhard Müller — ensaiaram uma rebelião contra o papa com uma carta dirigida a ele que, então, oh, surpresa!, foi publicada em um jornal. O papa estava zangado e me disse: “Boff, não tenho tempo. Eu tenho que estabelecer a calma antes que o sínodo comece. Nos veremos outra vez”.

P: Mas também com a esperada calma, que, por sua vez, também ainda não deu certo, não é?

O papa sente com nitidez os ventos contrários em suas próprias fileiras, especialmente vindos dos Estados Unidos. Este Cardeal Burke, Leo Burke, que agora — juntamente com o seu aposentado Cardeal Meisner de Colônia — já escreveu outra carta [ao papa]; ele é o Donald Trump da Igreja Católica (risos). Mas, ao contrário de Trump, Burke agora foi neutralizado dentro da Cúria. Graças a Deus. Essas pessoas realmente acreditam que cabe a elas corrigir o papa. Como se estivessem acima do papa. Algo assim é incomum [sic!], se não sem precedentes na história da Igreja. Pode-se criticar o papa, pode-se ter discussões com ele. Isso é o que tenho feito muitas vezes. Mas, que os cardeais publicamente acusem o papa de propagar erros teológicos ou até mesmo heresias, isto é —penso eu — demais. Isso é uma afronta com a qual um papa não pode tolerar. O papa não pode ser julgado, este é o ensinamento da Igreja.

P: Com todo o seu entusiasmo pelo Papa — o que há com essas reformas da Igreja que tantos católicos têm esperado de Francisco; onde, de fato, ainda não aconteceram?

Você sabe, tanto quanto eu entendo, o centro de seu interesse não é mais a Igreja — e certamente não o funcionamento interno da Igreja — mas, sim, a sobrevivência da humanidade, o futuro da Terra. […] Acredito que há uma hierarquia de problemas para ele. Quando a Terra perece, todos os outros problemas também terão sido atendidos. Mas, em relação às questões dentro e sobre a Igreja: espere e veja! Só recentemente, o cardeal Walter Kasper, um confidente próximo do papa, disse-me que em breve haverá algumas grandes surpresas.

P: O que você espera?

Quem sabe? Talvez um diaconato para as mulheres, afinal. Ou a possibilidade de que os padres casados possam estar de novo envolvidos no cuidado pastoral. Esse é um pedido explícito dos bispos brasileiros ao papa, especialmente de seu amigo brasileiro, o aposentado Curial Cardeal Claudio Hummes. Ouvi dizer que o papa quer atender a este pedido — por enquanto e por um determinado período experimental no Brasil. Este país, com seus 140 milhões de católicos, deveria ter pelo menos 100 mil sacerdotes. Mas, há apenas 18.000. Institucionalmente, isso é uma catástrofe. Não é de admirar que os fiéis agora vão em massa para os evangélicos e os pentecostais, que preenchem este vácuo pessoal. Se agora todos estes milhares de sacerdotes já casados pudessem exercer novamente o seu cargo, este seria um primeiro passo para uma melhoria da situação — e, ao mesmo tempo, seria um impulso [e um sinal] de que a Igreja Católica agora solta os grilhões do celibato obrigatório. [ênfase da autora]

P: Se o papa tomasse uma decisão nesse sentido e nessa direção — você mesmo, como ex-padre franciscano, também reassumiria os deveres sacerdotais?

Eu, pessoalmente, não preciso de tal decisão. Isso não mudaria nada para mim, porque eu ainda faço o que sempre fiz: eu batizo, realizo funerais cristãos, e se eu chegar a uma paróquia sem um sacerdote, então, eu também celebro a missa junto com o povo.

P: É muito “alemão” perguntar se você tem permissão para fazer isso?

Até agora, nenhum bispo que eu conheça criticou ou proibiu. Os bispos, pelo contrário, estão felizes e me dizem: “o povo tem direito [sic] à Eucaristia. Continue fazendo isso!” Meu professor de teologia, o Cardeal Paulo Evaristo Arns — que faleceu há poucos dias — foi, por exemplo, de uma abertura muito grande. Ele foi tão longe que, quando viu os padres casados sentados no banco durante a missa, mandou-os para o altar e concelebrou a Eucaristia com eles. Ele o fazia com frequência e dizia: “Vocês são, afinal de contas, ainda sacerdotes — e vocês permanecerão assim!”

[Fim da tradução]

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Comentário:

No contexto dessa contundente entrevista— e com as aparentemente recém-descobertas críticas “ortodoxas” de Boff a essas pessoas que agora se atrevem a criticar um papa — talvez valha a pena lembrar e ler o que Leonardo Boff disse anteriormente, em 2001.

Pois, naquela entrevista de 2001 para o site Communità Italiana, ele também falou sem rodeios sobre o próprio Cardeal Joseph Ratzinger — então Chefe da Congregação para a Doutrina da Fé no reinado do Papa João Paulo II — e a defesa presumivelmente provocativa de Ratzinger a determinadas posições tradições e doutrinas da Igreja Católica:

O que posso dizer é que a tendência dominante no Vaticano sob este pontificado [de João Paulo II] é altamente fundamentalista. Um Cardeal como J. Ratzinger que publica um documento oficial do Vaticano no qual diz que a única Igreja verdadeira é a Igreja Católica e que as outras não são igrejas, que a única religião legítima é a religião católica e que as outras não têm fé (eles têm apenas convicções e crenças) — ele comete terrorismo religioso [sic] e está em grave erro teológico também. [ênfase da autora]

A pungência — e a ironia — desses comentários de Boff aumenta quando se considera que, em 1970, em Munique, foi o próprio Cardeal Ratzinger um dos responsáveis pelos comitês de seleção de guias de professores para dissertação de tese de doutorado do próprio Leonardo Boff de Ecclesia: concernente a “Igreja como Sacramento”[1] à luz de algumas das supostas experiências do mundo. O principal título da dissertação de Boff, em alemão, foi: Die Kirche als Sakorp im Horizont der Welterfahrung.

No contexto mais amplo desta recente entrevista de 25 de dezembro de 2016 com Leonardo Boff, gostaríamos também de lembrar aos nossos leitores o trabalho do especialista do Vaticano, Dr. Sandro Magister, que repetidamente apontou a possibilidade, mesmo a probabilidade, de que o próprio Papa Francisco concederá ao Brasil a permissão para a reabilitação de padres casados. Lembramos que também nós mesmos já publicamos anteriormente — logo após a publicação da Carta dos 13 Cardeais por intermédio do próprio Dr. Magister —relatos confiáveis que surgiram sobre a própria explosão de raiva do Papa Francisco por causa dessa iniciativa educada, mas firmemente ortodoxa, da parte dos cardeais. Assim, em sua franqueza confiante, Leonardo Boff agora confirma inesperadamente o trabalho anterior dos jornalistas, tanto do próprio Dr. Magister como, em menor proporção, do meu.

Publicado originalmente: OnePeterFive – Liberation Theologian Boff: “Francis is One of Us”

Fonte: www.sensusfidei.com.br  via  www.rainhamaria.com.br

 

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