08.12.2016 -
O Verbo viria ao mundo sem contrair culpa, e nasceria puro e virgem, de uma Virgem, pura e imaculada, para fazer-se o “Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”, a fim de expiar satisfatoriamente o pecado no grande Sacrifício do Gólgota.
O homem, pelo pecado, contraiu uma dívida imensa para com Deus; e pobre criatura finita, não poderia saldá-la por si. Os Sacrifícios do Antigo Testamento ainda que aceitos pela Divindade, somados aos de todos os povos infiéis, eram insuficientes e até inúteis, em face do pecado que é um mal infinito aos olhos de Deus. Todos sentiam-se culpados e eram impelidos a oferecer sacrifícios sobre sacrifícios, para desagravar a justiça divina ofendida.
Insatisfeitos, contudo, eles continuavam a oferecer suas dádivas a Deus, e, no intuito de aplacar o Céu e obter a reconciliação da Divindade com os homens, fizeram, como os judeus, verdadeiras hecatombes: Enquanto estes na inauguração do Templo de Jerusalém imolaram vinte e dois mil bois e cento e vinte mil ovelhas num só dia, os infiéis chegaram à insensatez de imolar, como os fenícios, seus filhos a Baal ou a Maloch, ou como os romanos que sacrificaram crianças à mãe dos deuses Lares. Por outro lado, conta-se que em Cartago, todos os anos era sacrificado um cidadão para aplacar a ira dos deuses.
Pois bem: Isto tudo vinha manifestar a insuficiência frisante de todos os sacrifícios aceitáveis ou não, e de tanto sangue derramado para aplacar a justiça divina. Culpada, a humanidade sabia ser incapaz de oferecer a Deus uma oblação pura e digna, e de valor infinito e único.
Por isso não só os judeus, mas até os outros povos por seus oráculos, esperavam a vinda do Messias.
Só um Deus poderia remitir a nossa dívida, mas Ele, em essência, era insacrificável, porque todo o sacrifício exige a morte e a efusão do sangue. Entretanto, Deus não pode morrer porque é eterno, e sangue não podia derramar porque é puro espírito.
Era necessário, pois, que Deus se fizesse homem. Mas não é possível admitir que um Deus encarnado, puro e imaculado, viesse a nascer de uma Mãe algum tempo manchada pela culpa. Deus e o pecado são incompatíveis. O Verbo se faria homem e nasceria de uma Virgem Imaculada.
Como para Deus não há impossíveis, assim Ele quis e assim foi: Maria Imaculada, concebida sem pecado é que dá a Deus a Carne pura e o Sangue límpido, para que a Vítima fosse Santa, na ara da Cruz.
E Maria já era no mundo, como lírio entre os espinhos: Fora concebida, pura como um anjo, imaculada como um lírio.
Agora sim, o Verbo viria ao mundo sem contrair culpa, e nasceria puro e virgem, de uma Virgem, pura e imaculada, para fazer-se o “Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”, a fim de expiar satisfatoriamente o pecado no grande Sacrifício do Gólgota.
E não poderia ser de outra forma; assim, Deus cumpriria a grande promessa que fez a nossos pais, no paraíso, ao amaldiçoar a serpente infernal: “Porei inimizade, entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a sua. Ela te esmagará a cerviz para sempre”.
E aí está uma Mulher prodigiosa e a sua descendência se vingaria da serpente e entre essa Mulher privilegiada e a serpente haveria inimizade perpétua. O demônio seria vencido pelo triunfo sem igual dessa Mulher forte. Ora, se Maria não fosse Imaculada em sua Conceição e tivesse sido atingida pelo pecado, não teria sido perpétua essa inimizade com o “tirano do abismo”, porque o pecado é um ato de amizade com o inimigo de Deus, e por um instante que fosse Ela manchada, já não seria vencedora, mas vencida. E a dignidade de Jesus exige que sua Mãe seja Imaculada, mesmo nos primeiros momentos de sua vida, no seio de Santa Ana. E ainda mais: A vitória contra esse inimigo pertence à Mulher e à sua descendência, isto é, a Jesus Cristo, seu Filho, e nós que lhe somos irmãos, descendentes de Maria que nos é Mãe, e Mãe Imaculada.
Ângelo Antônio Dallegrave. Maria a flor entre os espinhos. pp. 13-15. 1958. Edições Paulinas. Fonte: Sensus Fidei