Apoiado em teorias de marketing, teólogo ajuda a Igreja a se modernizar
05.05.2007 - Parte da reportagem da Revista ISTOÉ, Maio 2007.
Na quarta-feira 9, quando o papa Bento XVI, chegar ao Brasil, vai encontrar uma Igreja Católica em transformação. Até então o Vaticano trabalhava com estimativas de que o catolicismo no País estava em decadência. Mas agora uma revolução movimenta templos católicos de norte a sul do País. Sem fazer alarde, padres, bispos e leigos tomam decisões radicais depois de reconhecerem que a Igreja trata mal seus fiéis. Para mudar essa situação, o prelado resolveu investir numa opção pouco ortodoxa aos católicos e muito comum ao mundo das grandes corporações: o marketing. A alma da mudança é tratar os fiéis não mais como meros devotos, e sim com o status reservado aos grandes consumidores. Assim como os bancos, as lojas ou as companhias aéreas tratam com qualidade seus fregueses, o clero resolveu fidelizar seus fiéis. Toda essa transformação se deu por obra e graça de um militante do Movimento da Renovação Carismática, o administrador de empresas Antônio Kater Filho, 58 anos.
Descendente de libanês, Kater, que é autor do livro O marketing aplicado à Igreja Católica, há 23 anos estuda o comportamento dos religiosos e seu rebanho. Foi justamente depois de ouvir, por acaso, uma pregação de um pastor pentecostal que Kater percebeu a eficiência do discurso das outras igrejas. Enquanto os pastores falam com emoção, os padres falam para o vazio, reconhece. Desde então, o marqueteiro resolveu peregrinar pelo País ensinando ao clérigo as técnicas do marketing. A estratégia deu certo. Na matemática dos católicos, nos últimos sete anos a Igreja Católica estabilizou o número de seus devotos em 73,89% da população brasileira.
Casado, pai de cinco filhos, Kater estudou teologia (para falar de igual com os sacerdotes) e fez mestrado na USP na área da comunicação. O marqueteiro, que foi professor do padre Marcelo Rossi, prega a eficiência do discurso. Mesmo com todas as rádios, tevês e jornais a serviço da Igreja, não sabemos nos comunicar, diz. Nas suas propostas, a homilia ganhou atenção especial. O clero fala um teologuês que ninguém entende. Seu lema é decodificar as missas para uma linguagem simples e direta. Kater explica a seus alunos, por exemplo, que, se Jesus Cristo fosse vivo, ele não diria aos fiéis que o reino de Deus é como um tesouro escondido, e sim o reino de Deus é como ganhar sozinho na loto, diz. É emoção.
Entre as novidades implementadas, o termo confissão é trocado por reencontro. Confissão é coisa de bandido, associa. Para o estudioso, que fundou a Associação Brasileira de Marketing Católico (ABMC), é uma dádiva poder escutar o que aflige o fiel e como ele batalha contra as tentações do pecado. As confidências são o feedback. Isso é pesquisa qualitativa, diz. O bom religioso é aquele que escuta a confissão, alimenta-se de informação e, como bom marqueteiro, explica como enfrentar as dificuldades.
A idéia de Kater é reformar sem quebrar. Nessa linha, o secular dízimo, que há anos é tratado como esmola, não ficou de fora. Na versão business, a contribuição passou a ter o peso de um investimento financeiro. A Igreja Católica é de todos nós, é nossa casa. Ela não é do pároco que a administra, temos que cuidar dos templos, diz. Ele vai além: Os padres não falam sobre o dízimo com a agressividade dos nossos irmãos evangélicos, conta. Dentro do universo de 73,8% de católicos, apenas três em cada dez contribuem com doações às igrejas. Entre os pentecostais, que constituem 12,5% da população, 44% contribuem.
Na cruzada de Kater, os bancos de madeira são substituídos por confortáveis assentos. O sofrimento da fé é coisa do passado, lembra. A pessoa fica duas horas sentada naqueles bancos duros e sai de lá com dor nas costas. Outra intervenção é na acolhida dos fiéis que vão à missa. Qualquer boa loja tem estacionamentos gratuitos, banheiros e até cafezinho. A Igreja Católica não oferece nada, argumenta. Muitas das 120 dioceses orientadas por Kater já estão implementando seus pedidos. Fé e conforto não são opostos, garante. E diz mais: A Igreja Católica tem mais de dois mil anos de história porque tem o melhor logotipo, a cruz; o melhor outdoor, as torres das igrejas, e o grande produto, a salvação. (fim)
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Nota do Portal Anjo, www.portalanjo.com
OBS: Mais um pontapé doloroso na Igreja que nasceu numa manjedoura emprestada, morreu cravada numa cruz de pau e foi enterrada num túmulo emprestado. Sim aquela que teve repartidas as vestes, e sorteada a túnica. Esta, a verdadeira, entre os pobres dos pobres, rumo as riquezas celestiais, aquela acima, a fantasia de tais padres, a torpe máquina de arrecadar das seitas, o nefando comércio da fé. Ai deles no dia em que voltar o Homem da Cruz, armado de cordas para expulsar tais vendilhões do templo.
Cadeiras estofadas, ao invés do tome a sua cruz e me siga. Neste ambiente, de que adianta o resgate da confissão, se a salvação é impossível sem a cruz? Não será também uma fórmula de marketing para arrecadar mais? Ó mercenários, ó marqueteiros da fé, não tereis muito tempo de negócios ainda.
Por Arnaldo Haas, de Vidal Ramos SC.
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