24.11.2015 -
Logo na entrada da cidade de Barra Longa (MG), quem recebe visitantes não é a estátua de um personagem histórico, mas a de um monstro esverdeado de boca aberta com longos dentes, pele escamosa e barbatanas nas costas. A lenda do Caboclo d'Água nasceu do medo do rio.
Os pais usavam a história para aterrorizar as crianças e, assim, evitar que elas fossem perto da água sozinhas. Hoje, o terror é outro. É a lama quem tira o sono de boa parte dos 6 mil habitantes do município.
Em visita ao local no último final de semana, o G1 presenciou cenários trágicos de uma das cidades mais atingidas pelo desastre ambiental causado pelo estouro da represa de Fundão, em Mariana, que fica a 60 km dali. E conversou com moradores tanto da área urbana quanto da zona rural, que ainda terão que lidar com as consequências do desastre por um longo tempo.
Em uma esquina da praça de Barra Longa, o Restaurante e Pizzaria do Fernandão chama atenção por ser um dos poucos estabelecimentos que seguem com a placa à mostra e as mesas no andar de cima aparentemente esperando o horário de abrir.
Mas quando se sobe as escadas laterais, o que se vê é uma sala de estar improvisada ao lado das várias mesas do salão.
Fernando Pimenta Trindade morava no andar térreo, sob a pizzaria, com a mulher, Maria da Conceição Severino (apelidada Titita, ou Tita), os filhos Manoel Carlos, de 3 anos, e João Marcos, de 2, e o enteado, David, de 12. Eles estavam em casa quando a cheia do rio começou. "A gente viu descer de tudo aí: carro, gado, ônibus, poste... Só mais tarde a água e a lama começaram a entrar na praça lá pela outra ponta", lembra, apontando a esquina oposta, à beira-rio.
Segundo ele, durante a cheia vizinhos conversavam sobre a possibilidade de a lama atingir as casas ou não, sem saber se deveriam começar a esvaziá-las ou só subir os móveis e eletrodomésticos rentes ao chão. "Não teve qualquer aviso oficial do risco, então muita gente perdeu muita coisa aqui na praça", explica o comerciante, que também trabalha como secretário administrativo da Câmara Legislativa da cidade.
"Todos nós fomos afetados de certa forma, mas os mais afetados não estão recebendo o apoio devido", diz Titita, que acredita em falta de vontade política para ajudar a população.
Além dos sérios prejuízos na casa, o casal está com o negócio parado e começa a sofrer com problemas decorrentes da enchente, como o sistema de esgoto, que começa a entupir. A família já teve aprovado o aluguel provisório de outra casa pela Samarco e deve se mudar em breve.
"O que eu cobro deles é uma resposta quanto às nossas perdas, com o negócio parado, mas sempre me respondem que a prioridade é colocar famílias atingidas em outras casas. Agora, até que dia vai essa prioridade? E as outras prioridades? A gente está sem trabalhar e a gente não quer assistencialismo. A gente quer trabalhar", afirma Fernando.
Na manhã de sábado (21), a reportagem do G1 foi abordada no centro de Barra Longa pela autônoma Sandra Maria da Silva, de 40 anos, que queria mostrar a situação em que sua família se encontra. Seu quintal foi destruído, a lama chegou à beira da casa e, segundo a moradora, rachaduras têm surgido na parede lateral nos últimos dias. A família teme agora que a casa desabe dentro do rio.
Com uma caminhada de 20 minutos partindo do centro se chega à rua Primeiro de Abril, que tem um dos lados com casas voltadas para o Rio do Carmo. É na última casa da rua que moram Sandra e seu companheiro, Renato dos Passos, de 38 anos, ajudante de pedreiro, além dos filhos Athur e Ana Clara
.
"Achei que o risco era por causa da parte de baixo, mas um engenheiro da Prefeitura veio ontem à tarde e disse que o barranco de cima também pode cair a qualquer momento", conta Sandra. Cerca de 15 metros acima da casa passa a via principal de entrada na cidade, que tem recebido muito tráfego de máquinas pesadas devido às operações de retirada de lama.
Renato mostrou pequenas rachaduras que também já são visíveis no asfalto. Uma árvore próxima, que fica diante da casa, também representa uma ameaça para a família. O morador teme o rompimento do asfalto e a queda dela.
Depois de falar com a reportagem, Sandra conseguiu contato com um representante da Samarco que lhe disse que a empresa pagaria o aluguel de uma casa para a família sair dali, mas que seria necessária antes a constatação do risco por alguém do Conselho Tutelar.
Na tarde de segunda-feira (23), Sandra informou ao G1 por telefone que o processo já estava seguindo, mas que talvez a família tenha que sair de Barra Longa, porque praticamente todas as casas antes disponíveis já estão alugadas. "Agora corre o risco de a gente ter que ir para Acaiaca", contou a autônoma, referindo-se a uma cidade vizinha a 20 km de distância.
Entrando na zona rural de Barra Longa, logo depois de passar pelo povoado de Gesteira a estrada chega ao Sítio da Pamonha, à beira do rio Gualaxo do Norte, propriedade do agricultor Vítor José Cota, o Seu Vitinho. Ele e a mulher tiravam o sustento principalmente da venda de leite de suas vacas.
Com a devastação trazida pelo Gualaxo, parte do pasto e da plantação de cana-de-açúcar foi tomada pelo barro. Das 95 vacas da fazenda, pelo menos 30 foram levadas pelo rio ou desapareceram. Uma ponte que ligava a região à sede do município foi arrancada pela força da lama, e o acesso passou a ser feito só por veículos com tração 4x4 quando a lama se acumula com a chuva.
"As vacas estão sem trato, o leite não está saindo (sendo vendido)... Não tem como pegar. O acesso aqui está ruim. Quando o caminhão vem, se está chovendo ele não passa. A máquina vem, tira a lama. Vem chuva, outra lama. Estou perdendo [leite]", conta Seu Vitinho.
Uma das maiores dores com que o casal tem de lidar diariamente é ver do outro lado do rio uma de suas vacas ainda viva, atolada com as quatro patas presas à lama acumulada. Já bastante magra, a vaca resiste há dias apenas movimentando o pescoço para olhar ao redor.
Equipes de voluntários cogitaram fazer uma operação para tentar resgatar o animal, mas o acesso está quase impossível já que há muita lama ainda fofa ali.
Gesteira, o povoado vizinho ao sítio de Seu Vitinho, teve casas destruídas por uma enchente do Rio Gualaxo do Norte em 1979, o que motivou sua mudança de um lado para o outro do rio, em um ponto mais alto. Quem relatou essas memórias ao G1 foi Selmo Magalhães Gomes, de 74 anos, nascido ali mesmo na região e dono de uma vendinha no povoado.
De uma casa de Gesteira invadida pela lama na beira do rio, onde memórias de uma família ainda são vistas nas paredes, é possível ver toda a área da igreja tomada pelo barro. A marca do nível que a água e a lama atingiram é vista a mais de 3 metros de altura na fachada do templo.
A escola que ficava à direita do prédio chegou a ficar completamente submersa antes de o rio voltar a baixar.
A comparação entre os dois desastres é inevitável, mas fica fácil dizer qual foi o pior. "A de 79 foi mais agradável. Essa agora foi muito pior. Pior porque o nível da enchente foi muito mais alto, e uma lama...", diz Selmo sentado à porta de sua venda, com vista para a lama do Gualaxo.
Fonte: G1 - imagens internet.
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Diz na Sagrada Escritura:
"Ouvi a palavra do Senhor, filhos de Israel! Porque o Senhor está em litígio com os habitantes da terra. Não há sinceridade nem bondade, nem conhecimento de Deus na terra. Juram falso, assassinam, roubam, cometem adultério, usam de violência e acumulam homicídio sobre homicídio. Por isso, a terra está de luto e todos os seus habitantes perecem; os animais selvagens, as aves do céu, e até mesmo os peixes do mar desaparecem". (Oséias 4, 1-3)
"Para que ainda nos determos? Reuni-vos, e vamos para as cidades fortificadas: lá havemos de perecer. Porquanto o Senhor, nosso Deus, decidiu que pereçamos, fazendo-nos beber água envenenada, já que pecamos contra ele". (Jeremias 8, 14)
"Então, por que não encontrei pessoa alguma quando vim? Por que ninguém respondeu ao meu apelo? Tenho eu realmente a mão demasiado curta para libertar, ou não tenho bastante força para salvar? Contudo, com uma simples ameaça, seco o mar e transformo as ondas em terra firme, de forma tal a faltar água para seus peixes, e seus animais perecerem de sede". (Isaias 50,2)
"Porque estes serão dias de castigo, para que se cumpra tudo o que está escrito". (São Lucas 21, 22)
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