Maria Valtorta, mística italiana, que teve revelações de Jesus: O Mestre mostra o Caminho


18.08.2015 - Nota de www.rainhamaria.com.br

A Igreja Católica define de forma muito clara (CIC 65, 66) que a revelação pública, oficial, está concluída e é a que vemos nos livros canônicos da Bíblia. Corresponde à fé cristã compreender gradualmente seu conteúdo.

Isso não impede que haja revelações privadas (CIC 67), que não melhoram nem completam a Revelação definitiva de Cristo, mas sim podem ajudar a vivê-la mais plenamente em uma determinada época histórica. Ou seja, pode haver livros inspirados, mas não canônicos.

O especialista François Michel Debroise nos dá uma informação muito completa sobre o tema.

Maria Valtorta, mística italiana falecida em 1961, foi um exemplo de alma extraordinária com vida extraordinária. Foi uma das 18 grandes místicas marianas. Aos 23 anos, um anarquista a espancou com uma barra de ferro, deixando-a com limitações físicas. Ficou 9 anos de cama. E uniu todas as suas dores à paixão de Jesus.

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Seu confessor, ao ver a grandeza dessa alma, pediu-lhe que escrevesse sua biografia. Tudo isso aconteceu em plena guerra mundial. Depois de escrever sua biografia, de 1943 a 1950, ela começou a receber uma série de visões, que transcreveu em 17 volumes, entre eles sua obra mais conhecida e polêmica: “O Evangelho como me foi revelado”. Em 4800 páginas, ela relata a vida de Cristo, dia a dia.

O Papa Paulo VI apoiou a leitura da obra de Maria Valtorta, assim como o Padre Pio. A Madre Teresa de Calcutá era uma leitora assídua dos seus escritos. A celebração dos 50 anos da morte de Maria Valtorta foi acompanhado por altas personalidades da Igreja.

Do ponto de vista histórico, os biblistas se surpreendem com como uma pessoa que não teve estudos possa ter um conhecimento tão detalhado.

O leitor desta narração fica preso, porque a obra o introduz nas cenas da vida de Jesus como um espectador presente. É uma narração extraordinária do ponto de vista teológico, histórico e científico. (Fonte: Aleteia)

 

 O MESTRE MOSTRA O CAMINHO

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A paz esteja com todos vós, e a sabedoria sobre vós.

Escutai, Foi-me perguntado um dia, faz muito tempo, até que ponto Deus é misericordioso para com os pecadores. Quem fazia aquela pergunta era um pecador perdoado que não conseguia  persuadir-se do completo perdão de Deus. E Eu, com algumas palavras, o tranqüilizei, e lhe garanti e lhe prometi que para ele Eu teria sempre falado da misericórdia, para que o seu coração arrependido, que dentro dele parecia o de um menino perdido que chorava, se sentisse na certeza de estar já entre os que pertencem ao seu Pai do Céu.
Deus é Misericórdia, porque Deus é Amor. O servo de Deus deve ser misericordioso para imitar Deus.
Deus se serve da misericórdia como de um meio para atrair a Si os filhos desviados. O preceito do amor é obrigatório para todos. Mas deve ser três vezes mais nos servos de Deus.
Não se conquista o Céu, se não se ama. Mas basta dizê-lo aos que crêem. Aos servos de Deus Eu digo: “ Não se faz que os que crêem conquistem o Céu, se não se amam com perfeição.”

E vós, que sois? Vós que vos aglomerais aqui ao redor de Mim?
Em vossa maior parte, sois criaturas que vos inclinais para a vida perfeita, para a vida bendita, cansativa, luminosa do servo de Deus, do ministro de Cristo. E, que deveres tendes nessa vida de servos e ministros? Um amor total a Deus, um amor total ao próximo. A vossa meta: servir. Como? Restituindo a Deus aqueles que o mundo, a carne e o demônio arrebentaram a Deus. De que modo? Com amor. O amor que tem mil formas para manifestar-se, e um único fim: fazer amar.

Pensemos em nosso belo Jordão. Como é imponente em Jericó. Mas, era ele assim na nascente? Não. Era um fio de água, e assim teria ficado, se tivesse ficado sempre só. Mas, eis que dos montes e colinas, de uma e outra margem do seu vale, descem milhares e milhares de afluentes, uns deles solitários outros formados por centenas de córregos, vão despejar-se em seu leito, que cresce, cresce, cresce sempre mais, até se transformar no doce regato de prata azulada, que se ria e brincava em sua meninice de rio, o largo, solene e plácido rio, que enxerta uma fita azul celeste por entre suas ubertosas e esmeraldinas margens.

Assim é o amor. É um fio inicial para as crianças que estão começando o Caminho da Vida, as quais mal sabem salvar-se do pecado grave, eis que das montanhas da humanidade, escabrosas, áridas, soberbas e duras, surgem por um desejo de amor, córregos e mais córregos desta virtude principal, e tudo serve para fazê-la nascer e jorrar as dores e as alegrias, assim como nos montes servem para formar os arroios, as neves geladas e o sol que as derrete. Tudo serve para abrir-lhes o caminho: tanto a humildade, como o arrependimento. Tudo serve para canalizá-las para o córrego inicial. Porque a alma, impelida para aquele caminho, gosta das descidas para o aniquilamento do eu, aspirando reerguer-se, atraída pelo Sol-Deus, depois de ter-se transformado em um rio poderoso, belo e benfeitor.
Os riachos que nutrem o rio embrionário do amor temeroso são, além das virtudes, as obras que as virtudes ensinam a praticar. As obras que, justamente para serem rios de amor, são obras de misericórdia. Vamos percorrê-las juntos. Algumas já eram conhecidas de Israel, enquanto outras, Eu as torno conhecidas, porque a minha Lei é perfeição de amor.

DAR DE COMER A QUEM TEM FOME.

É um dever de reconhecimento e de amor. Dever de imitação. Os filhos são agradecidos ao pai pelo pão que ele lhes dá e, quando homens feito, eles imitam ao darem o pão aos seus filhos e ao pai que já não pode trabalhar, por causa de sua idade, e lhes dão o pão com o seu próprio trabalho, como uma amorosa restituição, uma restituição devida dos bens adquiridos. O quarto preceito diz: “ Honra a teu pai e á tua mãe.” É um modo de honrar os seus cabelos brancos o que se faz para não deixá-los ir pedir a outros o pão por esmola.
Mas, antes do quarto, diz-nos o primeiro preceito: “ Ama a Deus com todo o teu ser”, e o segundo: “ Ama a teu próximo como a ti mesmo”. Amar a Deus por ser quem é, e amá-lo no próximo, é perfeição.

Ama-se ao próximo dando pão a quem tem fome, em lembrança das muitas vezes que Ele matou a fome do homem por meio do milagre. Mas sem ficar olhando só para o maná e as codornizes, olhemos para o milagre contínuo do grão que germina pela bondade de Deus, que nos deu terra própria para a cultura, e controla os ventos, chuvas, calor e estações, a fim de que a semente se vá transformando em espiga, e a espiga em pão.
E não foi um milagre da sua misericórdia o fato de ter o Senhor, com uma luz sobrenatural, ensinando ao filho culpado que aquelas ervas altas e esguias, que terminavam produzindo frutos de sementes douradas pelo quente cheiro do sol, fechadas dentro da dura faixa de escamas espinhentas, eram um alimento que haveria de ser colhido, descascado, transformado em farinha, amassado e assado. Deus ensinou tudo isso. Foi Ele que ensinou com colhê-lo, limpá-lo, moê-lo, amassá-lo e assá-lo. Ele pôs as pedras perto das espigas, a água perto das pedras, acendeu com os reflexos da água e do sol o primeiro fogo sobre a terra e, sobre o fogo, o vento levou alguns grãos que, ao se queimarem, exalaram um odor agradável, a fim de que o homem compreendesse que, melhor do que quando eles são tirados da espiga, como sabem fazer os passarinhos, ou só molhado com água, depois de ter virado farinha, e ter sido transformado em uma massa grudenta, muito melhor é quando o fogo o assa. Não pensais nisso, vós que hoje comeis o pão gostoso, assado no forno de vossa casa, não pensais o quanto é bom podermos ter chegado a esta perfeição no modo de assar, e quanto caminho teve que ser percorrido pelo conhecimento humano, desde a primeira espiga, que foi mastigada, como faz o cavalo, até chegarmos ao pão que hoje temos. Por quem fomos ensinados? Pelo doador do pão. E assim aconteceu com todas as espécies de alimento que o homem soube por meio de uma luz benfazeja, descobrir e separar, dentre as plantas e animais com que o Criador cobriu a terra, paterno para o filho culpado.
Portanto, dar de comer a quem tem fome é uma oração de reconhecimento ao Senhor e Pai, que mata a fome, e é bom imitar o Pai, do qual recebemos esta semelhança gratuita, que é preciso aumentar sempre, com a imitação de suas ações.

DAR DE BEBER A QUEM TEM SEDE.

Já pensastes que aconteceria, se o Pai não fizesse mais chover as águas do céu? Ou, então, se Ele dissesse: “ Pela vossa dureza para com quem está com sede, Eu vou impedir as nuvens de descerem sobre a terra”, poderíamos nós protestar e falar mal dele? A água, mais ainda do que o trigo, é de Deus. Porque o trigo é cultivado pelo homem, mas só Deus é quem cultiva os campos das nuvens, que descem em forma de chuva ou de orvalho, como névoa ou neve, nutrem os campos e abastecem as cisternas, enchem os rios e os lagos, dão abrigo aos peixes, que matam a fome dos homens e de outros animais. Portanto, podeis vós responder a quem vos diz: “ Dá-me de beber”, dizendo-lhe: “Não. Esta água é minha, e eu não te dou?”
Mentirosos! Quem de vós já fez um só floco de neve, ou um só pingo de chuva? Quem já fez evaporar um só dos diamantes do orvalho com o seu calor astral? Ninguém. É Deus quem faz isso. E, se as águas descem do céu, e voltam a subir, somente Deus regula esta parte da criação, assim como tudo mais.
Daí, pois, a boa água fresca dos lençóis do subsolo, ou a água limpa do vosso poço, ou a que encheu as vossas cisternas, dai-a a quem tem sede. São águas de Deus. São para todos. Dai-as a quem tiver sede. Por uma tão pequena boa obra, que não custa o vosso dinheiro, que não exige outro trabalho senão o de estender com a mão um copo ou uma vasilha. Eu vo-lo digo, tereis uma recompensa no Céu. Porque não é a água, mas é o ato de caridade que é grande, diante dos olhos e do julgamento de Deus.

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VESTIR OS NUS.

Vêem-se pelas estradas deste mundo pessoas em estado vergonhoso por uma nudez que nos causa dó. São velhos abandonados, são inválidos por doenças ou por outras desventuras, são prole numerosa, são feridos por acidentes que os privaram de toda comodidade, são órfãos inocentes. Se Eu lançar um olhar por toda a vastidão da terra, verei por toda parte pessoas nuas, ou cobertas com trapos, que mal lhes salvam a decência, e não as protegem contra o frio. E essas pessoas ficam olhando, com um olhar humilhado, para os ricos, que vão passando, com um olhar humilhado, para os ricos, que vão passando com suas roupas macias e com os pés calçados com sapatos delicados. Humilhados com a bondade dos bons e com o ódio dos menos bons. Mas por que não os auxilias no aviltamento em que se acham, tornando-os melhores, se já são bons, e destruindo-lhes o ódio, se não são menos bons, com o vosso amor?

Não digais: “O que eu tenho é só para mim.” Como acontece com o pão, sempre tendes alguma coisa a mais do que o necessário, nas mesas e nos armários de quem não está completamente abandonado. Entre estes que Me estão ouvindo, há mais de um que sabe, de uma roupa que ele deixou de usar por estar muito batida, tirar uma roupinha para um órfão ou algum menino pobrezinho e, de um lençol velho, fazer faixas para algum inocente que não as tem, soube repartir, durante muitos anos, o pão esmolado cansativamente com quem, por estar leproso, não podia ir estender a mão ás soleiras dos ricos. E, em verdade, Eu vos digo que esses misericordiosos não devem ser procurados entre os possuidores de bens, mas por entre as fileiras humildes dos pobres que, por serem assim é que sabem quão penosa é a pobreza.

Também aqui, como para a água e o pão, pensai que a lã e o linho com que vos vestis provêm dos animais e das plantas, que o Pai criou não somente para os ricos entre os homens, mas para todos os homens. Porque Deus deu somente uma riqueza ao homem: a da sua Graça, da Salvação, da inteligência. Mas não a riqueza suja que é o ouro, que vós andastes enaltecendo, fazendo dele, que é um metal não melhor do que os outros, muito menos útil que o ferro, com que se fazem as pás e os arados, as grades e as foices, os escopros, os martelos, os serrotes, as plainas, as santas ferramentas do santo trabalho, fazeis dele o nobre metal, que vós elevastes a uma nobreza inútil, mentirosa, por uma instigação de Satanás que, de filhos de Deus, vos tornou selvagens como feras. A riqueza daquilo que é santo vos havia dado com que vós pudésseis tornar-vos sempre mais santos! Mas não esta riqueza homicida, que tanto sangue e lágrimas derrama.

Daí, pois, como vos foi dado. Daí em nome do Senhor, sem terdes medo de ficar nus. Melhor seria morrer de frio, por sermos despojados em favor do mendigo, do que fazer enregelar-se o coração, mesmo por baixo de vestes cômodas, pela falta de caridade. O leve calor que sentimos pelo bem feito é mais doce do que aquele de um manto da mais pura lã. E as carnes do pobre, agora por nós cobertas, falam a Deus, e lhe dizem: “ Abençoa a quem nos vestiu.”

Se matar a fome, a sede, vestir, tirando de si para dar aos outros são atos que unem a santa temperança á santíssima caridade, e vós mesmos á bem-aventurada justiça, pela qual se modifica com santidade, a sorte dos nossos irmãos infelizes, dando daquilo que temos em quantidade, por permissão de Deus, a favor de quem, ou por malvadez dos homens, ou por doenças, daquilo tiver ficado privado, nesse caso albergar os peregrinos que une a caridade a confiança e aos bons pensamentos do próximo a nosso respeito. Esta também é uma virtude, sabeis? Uma virtude que derrota em quem a possui, além da caridade, a honestidade. Porque quem é honesto, age bem e, visto que age bem tem o costume de pensar que assim também ajam os outros, acontece então, que a confiança, a simplicidade com que se acredita sempre que as palavras dos outros sejam verdadeiras, mostram que aquele que as ouve é alguém que diz a verdade nas grandes e nas pequenas coisas, não chegando por isso, a desconfiar do que os outros dizem.

Por que pensar, diante do peregrino que nos pede abrigo: “ E se ele for um ladrão ou um assassino?” Será que estais tão apegados ás vossas riquezas, que temeis, por causa delas, cada vez que chega até vós um estranho? Será que estais tão apegados á vossa vida, que ficais arrepiados de medo, ao pensardes que podeis dela ficar privados? E, então? Achais que Deus não vos pode defender dos ladrões? Será?
Temeis no passante um ladrão, e não tendes medo do hóspede tenebroso, que vos pode roubar o que é insubstituível? Quantos dão hospedagem em seus corações ao demônio? Eu poderia dizer-vos: todos dão hospedagem aos pecados capitais e, no entanto, ninguém fica tremendo por isso. Será, então, só o bem da riqueza e da existência que é precioso? Não será mais preciosa a eternidade, que vós deixais que vos seja roubada e morta pelo pecado? Pobres, bem pobres essas almas roubadas em seu tesouro, postas nas mãos de seus assassinos, como se fossem coisa de pouco valor, ao passo que se fazem barricadas ao redor das casas, põem-se ferrolhos nas portas, cães e cofres são usados para guardar e defender muitas coisas que nós não iremos levar para a outra vida!
Por que querer ver em cada peregrino um ladrão? Nós somos irmãos. A casa se abre para os irmãos que estão de passagem. O peregrino não é do nosso sangue? Oh! Sim! É do sangue de Adão e Eva. Não é nosso irmão? E, como não?

O Pai é um só: Deus que nos deu uma alma igual, assim como os filhos de um mesmo leito o pai dá um sangue igual. E um pobre? Procurai que não seja mais pobre do que ele o vosso espírito privado da amizade do Senhor. A veste dele está rasgada? Fazei que não esteja ainda mais rasgada a vossa alma, pelo pecado. Estão enlameados ou empoeirados os pés dele? Fazei que mais do que a sandália dele, suja pela longa viagem, e rota pelo muito andar, não esteja o vosso eu, consumido pelos vícios. É feia a aparência dele? Fazei que não seja mais feia ainda a vossa, aos olhos de Deus. É estranho o seu modo de falar? Fazei que não tenhais vós a linguagem do coração incompreensível na cidade de Deus.

Vede no peregrino um irmão. Todos nós somos peregrinos em caminho para o Céu, e todos nós batemos ás portas que estão ao longo do caminho do que vai para o Céu. Essas portas são os patriarcas e os justos, os anjos e os arcanjos, aos quais nos recomendamos, para termos a ajuda e a proteção deles, a fim de podermos chegar á nossa meta, sem que caiamos no escuro da noite, no rigor do frio, presas das ciladas dos lobos e dos chacais, que são as paixões malvadas e os demônios. Como queremos que os anjos e os santos nos demonstrem o seu amor para hospedar-nos e dar-nos de novo o alento para continuarmos o caminho, assim façamos nós para com os peregrinos deste mundo. E cada vez que abrirmos a casa e os braços para saudarmos com doce nome de irmão a um desconhecido, pensando em Deus que o conhece, Eu vos digo que tereis percorrido muitas milhas do caminho que vai para os céus.

VISITAR OS ENFERMOS.

Oh! Como é verdade que, sendo todos peregrinos, todos são enfermos! E suas doenças mais graves são as do espírito, que são invisíveis e as mais mortais. E, no entanto, ele não tomam cuidado. Não lhes repugna a chaga moral. Não lhes causa nojo o fedor do vício. Não lhes faz medo a loucura diabólica. Não lhe causa horror a gangrena de alguém que é leproso em seu espírito. Não os faz fugir o sepulcro cheio da podridão de um homem morto e putrefacto em seu espírito. Não é anátema aproximar-se dessas impurezas. Como é pobre e restrito o pensamento do homem!

Dizei-me: que tem mais valor, o espírito ou a carne e o sangue?
Terá o que é material o poder de corromper, por sua proximidade, o que é incorpóreo? Não. Eu vos digo que não. O espírito tem um valor infinito, se comparado com a carne e o sangue, isto sim. Mas a carne não tem maior poder do que o espírito. O espírito pode ser corrompido, mas não por coisa materiais, e, sim pelas espirituais. Se até alguém, que trata de leprosos não fica leproso em seu espírito, mas pelo contrário, por causa da caridade, que ele praticou heroicamente, chegando até a segregar-se nos vales da morte, por piedade para com seu irmão, caem dele todas as manchas de pecado. Porque a caridade absolve o pecado, e é a primeira das purificações.
Parti sempre deste pensamento: “O que eu gostaria que me fosse feito, se eu estivesse como está esse aí? E, como tu gostarias que te fosse feito, faze-o tu.

Agora Israel ainda tem as suas antigas leis. Mas dia virá, e a sua aurora não está mais muito longe, quando se venerará, como um símbolo de perfeita beleza a imagem de Um no qual estará reproduzindo materialmente o homem das dores de Isaías, e o torturado do Salmo de Davi, Aquele que, por se ter feito semelhante a um leproso, tornar-se-á o Redentor do gênero humano, a ás suas chagas acorrerão, como uns cervos que vão á fonte, todos os sedentos, os doentes, os exaustos, os chorosos da terra, e Ele os dessedentará, os curará, e os restaurará, os consolará em seus espíritos e em suas carnes, e o anseio, dos melhores será o de se tornarem semelhantes a Ele, também cheios de feridas, esvaídos em sangue, espancados, coroados de espinhos, crucificados por amor dos homens, que precisam ser remidos, continuando assim a obra do Rei dos reis e Redentor do mundo.

Vós, que ainda sois Israel, mas já estais levantando as asas, a fim de voar para o Reino dos Céus, começai desde agora esta concepção e avaliação nova das enfermidades, e, bendizendo a Deus, que vos conserva sãos, inclinai-vos sobre os que estão sofrendo e morrendo.
Um dos meus apóstolos disse um dia: “ Não tenhas medo de tocar nos leprosos. Nenhum mal se apegará a nós, por vontade de Deus.” Ele falou bem. Deus guarda os seus servos. Mas, ainda que ficásseis contagiados, ao cuidardes dos enfermos, seríeis colocados na lista dos mártires por amor, na outra vida.

VISITAR OS ENCARCERADOS.

Credes vós que nas galeras estão somente os criminosos? A justiça humana tem um olho cego e o outro perturbado por distúrbios visuais, pelos quais vê camelos onde há apenas nuvens, ou toma uma serpente por um ramo florido. Ela julga mal. E, pior ainda, porque muitas vezes, quem a guia, cria de propósito nuvens de fumaça, para que ela veja menos ainda. Mas, ainda que os encarcerados fossem todos ladrões e homicidas, não é justo que nós façamos ladrões e homicidas, tirando deles a esperança de perdão com o nosso desprezo.
Pobres prisioneiros! Nem ousam levantar os olhos para Deus, pesados como estão pelos delitos deles. Seus grilhões, em verdade, estão mais em seu espírito do que nos pés. Mas, ai deles, se perdem a esperança em Deus! Ao delito contra o próximo eles unem o do desespero do perdão. A galera é expiação, assim como o é a morte no patíbulo. Mas não basta pagar a parte que é devida á sociedade humana pelo delito cometido se necessário pagar também, e em primeiro lugar, a parte que deve ser paga a Deus, para expiar e ter a vida eterna. E, quem é rebelde e desesperado, expia somente o que deve á sociedade. Que ao condenado ou ao prisioneiro chegue o amor dos irmãos. Será para ele uma luz nas trevas. Será uma voz. Será uma mão que mostra o alto, enquanto a voz diz: “ Que o meu amor te diga que Deus também te ama. Ele colocou em meu coração este amor por ti, meu irmão desventurado”, e essa luz permite a Deus como Pai piedoso.

Que a vossa caridade vá, com maior razão, consolar os mártires da injustiça humana. Os que são inculpáveis de fato, ou os que uma força cruel levou a matar. Não julgueis, porém, o que já foi julgado. Vós não sabeis porque o homem teve que matar. Não sabeis que muitas vezes não é mais do que um morto aquele que mata, ele é autômato, privado da razão, porque um assassinato sem sangue tirou-lhe o juízo, por causa da velhacaria de alguma traição cruel. Deus o sabe. E basta. Na outra vida se verão muitos das galeras, muitos que mataram e roubaram, no Céu, e se verão muitos, que pareciam ter sido roubados ou mortos, no Inferno, porque na verdade, os verdadeiros ladrões da paz dos outros, da honestidade, da confiança, os verdadeiros assassinos terão sido aqueles que passaram por vítimas. Vítimas, só porque foram feridos por último, mas depois de terem ferido, sem que ninguém falasse nada, durante muitos anos. O homicídio e o furto são pecados. Mas, entre o que mata e rouba, porque é levado a isso por outros, e depois se arrepende, e o que induz outros ao pecado, e não se arrepende disso, terá mais castigo aquele que leva outro ao pecado, e disso não sente remorso.

Por isso, não julgueis nunca, e sede compassivos com os encarcerados. Pensai sempre que, se devessem ser punidos todos os homicídios e furtos do homem, poucos homens e poucas mulheres não morreriam nas galeras ou nos patíbulos.

Aquelas mães, que conceberam, e depois não querem dar á luz o seu fruto, com que nome é que deverão ser chamadas? Oh! Não façamos jogos de palavras. Digamos sinceramente a elas o seu nome: “Assassinas.”
Aqueles homens que roubam reputações ou postos, como os chamaremos? Simplesmente “ladrões.” Aqueles homens e mulheres que, sendo adúlteros ou atormentadores familiares daqueles com quem convivem, e os levam ao homicídio ou ao suicídio, e também aqueles sujeitos a eles, e, com o desespero, á violência, que nome é que eles têm? É este: “Homicidas”. E, então? Ninguém foge? Vós estais vendo que entre esses condenados, que escaparam da justiça, que enchem as casas e as cidades, que esbarram em nós pelos caminhos, que dormem conosco nos albergues, dividem a mesa conosco, e vive-se sem pensar nisso. E, no entanto, quem é sem pecado?

Se o dedo de Deus escrevesse na parede do quarto, onde se reúnem para o banquete, os pensamentos do homem, na frente estariam as palavras acusadoras do que vós fostes, do que sois e do que sereis, e poucas paredes trariam escrita com letras luminosas a palavra “Inocente”. As outras paredes, com letras verdes como a inveja, ou pretas como a traição, ou vermelhas como o delito, trariam estes nomes: “Adúlteros”, “Assassinos”, “Ladrões”, “Homicidas”.
Sede pois, misericordiosos, sem soberba, para com os irmãos menos afortunados, de um modo humano, com os que estão na galera expiando o que vós não expiais, tendo vós a mesma culpa que eles. Disso poderá tirar proveito a vossa humildade.

SEPULTAR OS MORTOS

A contemplação da morte é uma escola de vida. Eu gostaria de poder levar-vos para diante da morte e dizer: “ Aprendei a viver como santos, para não terdes outra morte, senão esta: uma separação temporária do corpo e da alma, para depois ressurgirdes triunfalmente para sempre, reunidos e felizes.”
Todos nós nascemos nus. Todos morremos, tornando-nos despojos mortais, destinados á corrupção. Reis ou mendigos, como todos nascemos, todos morremos. E, se o fausto dos reis permite uma mais longa preservação do cadáver, a sorte da carne que morreu é a de se desfazer. Até as próprias múmias, que são? Serão de carne? Não. São matéria fossilizada por meio de resinas lignificadas. Ela não é mais presa dos vermes, porque está vazia e queimada pelas essências, mas é presa de carunchos, como qualquer madeira velha.

Mas o pó volta ao pó, como disse Deus. E, no entanto, só porque esse pó enfaixou o espírito e por ele foi vivificado, então, como coisa que tocou na glória de Deus--- e assim é a alma do homem --- é preciso pensar que esse pó é santificado, e não de modo diferente dos objetos que estiverem em contato com o Tabernáculo. Pelo menos um momento houve em que a alma foi perfeita: o momento em que o Criador a criou. E se depois a mancha a deturpou, tisnando-lhe a perfeição, só por sua origem ela já comunica beleza á matéria e, por essa beleza que vem de Deus, o corpo também fica embelezado e merece respeito. Nós somos templos e, como tais, merecemos honra, como sempre são honrados os lugares onde se deteve o Tabernáculo.

Daí, pois, aos mortos a caridade de um repouso honrado, enquanto ele espera a ressurreição, vendo nas admiráveis harmonias do corpo humano a mente e o dedo de Deus, que o idealizou e modelou com perfeição, e venerando até nos despojos mortais a obra do Senhor.
Mas o homem não é só carne e sangue. É também alma e pensamento. Estes últimos também sofrem e são misericordiosamente socorridos.

Há ignorantes, que praticam o mal só porque não conhecem o bem. Quantos não sabem, ou sabem mal as coisas de Deus e também as leis morais! Como estão enfraquecidos pela fome, porque não há quem mate, e caem em marasmo, por falta das verdades que os nutram. Ide vós instruí-los, pois para isso Eu vos reúno e vos mando.
Daí o pão do espírito á fome dos espíritos.
Instruir os ignorantes corresponde, no campo espiritual, a matar a fome dos esfomeados e, se um prêmio é dado pelo pão oferecido ao corpo enfraquecido, para que não morra naquele dia, que prêmio não será dado, então, a quem mata a fome que um espírito sente das verdades eternas, dando-lhe a vida eterna? Não sejais avarentos com o que sabeis. Tudo vos foi dado sem despesas para vós, e sem medida. Dai-o sem avareza, porque é coisa de Deus, como a água do céu, que é dada, assim como nos foi dada.

Não sejais avarentos nem soberbos daquilo que sabeis. Mas daí com humilde generosidade. E daí o refrigério puro e benéfico da oração aos vivos e aos mortos, que sentem sede de graças. Não se deve recusar água ás faces sedentas. E, então, aos corações dos vivos angustiados e aos espíritos sofredores dos mortos? Orações, orações fecundas por serem atos de amor, feitos com espírito de sacrifício.

A oração há de ser verdadeira, não mecânica, como o som de uma roda na estrada. Será o som ou será a roda que faz o carro ir para a frente? É a roda que se desgasta para levar o carro para a frente. A mesma coisa se diga da oração vocal e mecânica e da oração ativa. A primeira é som, e nada mais. A segunda age, enquanto se desgastam as forças e cresce o sofrimento, mas consegue o que se deseja. Rezai mais com o sacrifício do que com os lábios, e dareis um refrigério aos vivos e aos mortos, praticando a segunda obra de misericórdia espiritual. O mundo será mais salvo pelas orações dos que sabem orar do que pelas fragorosas, inúteis e mortíferas batalhas.
Muitas pessoas do mundo sabem disso. Mas não sabem crer com firmeza. Como se estivessem presas entre dois campos opostos. Elas ficam movendo-se de um lado para outro, sem conseguirem dar um passo a frente e esgotam suas forças, sem nenhum resultado. Estes são os duvidosos. São os que vivem dizendo: “mas”, ou “se”, ou “depois”. São os que vivem fazendo perguntas: “ Depois vai ser assim?”, “ E se não for?”, “Poderei eu?”, “ E se não conseguir?”, e assim por diante. São como as trepadeiras que, se não acharem onde agarrar-se, não sobem, ou que, mesmo se o encontrarem, vão se pendurando aqui e ali, mas não só ainda precisam que se lhes dê uma escora, mas é preciso guiá-las ao longo da escora, ao correr das horas, ao passar dos dias. Oh! Como elas fazem realmente que exercitemos nossa paciência e caridade, mais do que o faz um menino retardado!

Mas, em nome do Senhor, não as abandoneis. Daí de vós uma fé cheia de luz, uma fortaleza ardorosa a estes prisioneiros de si mesmos e de sua nebulosa doença. Guia-os para o sol e para o alto. Sede mestres e pais para esses duvidosos, não tenhais com eles canseiras nem impaciências. Eles vos fazem cair os braços? Tudo bem. Vós também Me fazeis cair os meus tantas vezes, e mais ainda, ao Pai, que está nos Céus, que deve muitas vezes pensar que inutilmente sua Palavra deve ter-se feito carne, até mesmo agora que Ele está ouvindo falar o Verbo de Deus. Não querereis já ficar presumir que vós sois mais do que Deus, e mais do que Eu!

Portanto, abri os cárceres a estes prisioneiros dos “mas” e dos “se”. Soltai-os dos grilhões dos “poderei”, “e se não consigo?” Procurai persuadi-los de que basta fazer tudo na melhor maneira que puder e Deus fica contente. E, se estais vendo que eles estão escorregando para longe da escora, não vades adiante, mas tornai a erguê-los. Fazei como fazem as mamães, que não vão para diante, se o seu pequenino cai, mas param, e o reerguem, o limpam, o consolam, e o seguram até que lhe tenha passado o medo de um novo tombo. E elas fazem isso durante meses e anos, se o pequenino ainda está com as pernas fracas.

VESTI OS NUS NO ESPÍRITO, COM O PERDÃO A QUEM VOS OFENDE.

A ofensa é uma falta de caridade. A falta de caridade nos esvazia de Deus. Por isso, quem ofende se torna nu, e só o perdão do ofendido recoloca vestes na nudez dele. Pois Deus as dá de novo. Para perdoar, Deus espera que o ofendido haja perdoado. Perdoar tanto ao que foi ofendido pelo homem, como ao ofensor do homem e de Deus. Porque podeis crer, ninguém há sem ofensas ao Senhor. Mas Deus nos perdoa a nós, se nós perdoamos ao próximo, e perdoa ao próximo, se o ofendido pelo seu próximo lhe perdoa. Ser-vos-á feito conforme fizerdes.
Perdoai, pois, se quereis o perdão. E vos alegrareis no Céu pela caridade que tiverdes praticado, como se um manto de estrelas tivesse sido posto sobre vossos ombros santos.

SEDE MISERICORDIOSOS COM OS QUE CHORAM.

São os feridos da vida, os doentes do coração com os seus afetos.
Não vos fecheis na vossa serenidade, como em um fortaleza. Sabei chorar com quem chora, consolar os que estão aflitos, encher o vazio de quem pela morte ficou sem um parente. Sede pais com os filhos, filhos com seus progenitores, irmãos uns com os outros.
Amai. Por que haveremos de amar só os que são felizes? Estes já têm a sua parte ao sol. Amai os que choram. Para o mundo são eles os menos amáveis. Mas o mundo não sabe qual o valor da lágrimas. Vós o sabeis. Amai, portanto, os que choram. Amai-os se em seu choro estiverem resignados. Amai-os, e ainda, se em sua dor estiverem revoltados. Não useis de censura, mas de doçura, ao quererdes persuadi-los da verdade da dor e da própria dor. Podem eles, por entre o véu do pranto, estar vendo deformado o rosto de Deus, reduzido á expressão de uma prepotência vingativa. Não. Não vos escandalizeis. Não é mais do que uma alucinação produzida pela febre da dor.

Socorrei-os, até que a febre baixe. A vossa fé serena seja como o gelo que se aplica em quem está delirando.
E, quando a febre mais aguda baixa, e começa o abatimento e a alienação cheia de surpresa de quem está voltando de um trauma, então como a crianças, a quem uma doença impediu de se desenvolverem intelectualmente, voltai a falar-lhes de Deus, como de uma coisa nova, com doçura e paciência...Oh! alguma bela história, contada para entreter o eterno menino que é o homem! Depois calai-vos. Não importais nada... A alma trabalha por si. Ajudai-a com carícias e com a oração. E, quando ela diz: “ Então, não foi Deus?”, dizei-lhe: “Não. Ele não te queria fazer mal, porque Ele te ama, até por quem já não te ama, porque morreu, ou por outras causas.”
E, quando a alma diz: “ Mas eu o acusei”, dizei-lhe: “ Ele já se esqueceu disso, pois foi por causa da febre.” E quando ela diz: “ Então, eu quereria?”, dizei-lhe: “Ei-lo! Está á porta do teu coração, só esperando que tu lhe abras.”

SUPORTAI AS PESSOAS ABORRECIDAS.

Elas entram para perturbar a pequena casa do nosso eu, assim como os peregrinos entram para perturbar a casa em que moramos. Mas, assim como Eu já vos disse que acolhais aqueles, assim vos digo que acolhais estes.
Vos aborrecem? Mas, se vós não amais pelo incômodo que vos dão, elas, ,ais ou menos bem, vos amam. Por este amor, acolhei-as. E, ainda que elas viessem indagando, odiando, insultando, exercitai paciência e caridade. Podeis melhorá-las com vossa falta de caridade. Podeis melhorá-las com a vossa paciência. Podeis escandalizá-las com vossa falta de caridade. Que vos entristeça que elas pecam por si mesmas, mas, que vos cause mais tristeza fazê-las pecar e vós mesmos pecardes. Recebei-as em meu nome, caso não as podeis receber por vosso amor. E Deus vos recompensará, vindo Ele depois, a retribuir a visita e a apagar a lembrança desagradável com as suas carícias espirituais.
Finalmente, procurai:

SEPULTAR OS PECADORES, PARA PREPARAR A VOLTA À VIDA DA GRAÇA.

Sabeis quando fazeis isso? Quando admoestais os mesmos com uma fraterna, paciente e amorosa insistência. É como se vós sepultásseis pouco a pouco as feiuras do corpo, antes de entregá-lo ao sepulcro para ficar à espera da ordem de Deus: “ Levanta-te, e vem a Mim.”
Não purificamos os mortos, nós hebreus, por respeito ao corpo que haverá de ressuscitar? Admoestar os pecadores é como que purificá-los em seus membros, primeira operação para o sepultamento. O resto, a Graça do Senhor o fará. Purificai-os com caridade, lágrimas e sacrifícios. Sede heróicos em arrebatar uma alma da corrupção. Sede heróicos. Isto não ficará sem prêmio. Porque, se vai ser dado um Prêmio por um copo de água dado a um sedento de corpo, que não será dado a quem tira da sede infernal uma alma?
Tenho dito.
Estas são as obras de misericórdia corporais e espirituais que aumentam o amor. Ide e praticai-as.
E a paz de Deus e a minha esteja convosco agora e sempre.

(O Evangelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol 4, pgs 333 a 347)

Fonte: www.provasdaexistenciadedeus.blogspot.com.br  (do amigo Antonio Calciolari)

 

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