17.08.2015 -
Cor durum male habebit in novissimo; et qui amat periculum, in illo peribit — «O coração endurecido será oprimido de males no fim da vida; e quem ama o perigo perecerá nele» (Eclo 3, 27).
Sumário. Ai do que resiste durante a vida aos convites de Deus! Desgraçado do que cai no leito com a alma em pecado, e dali passa à eternidade! O anúncio da morte já próxima, o pensamento de ter de deixar o mundo, as tentações do demônio, os remorsos da consciência, o tempo que já falta, o rigor da justiça divina e mil outras coisas produzirão uma perturbação tão horrível, que pela confusão do espírito a conversão será quase impossível. Meu irmão, para não morreres de morte tão triste, teme agora viver vida pecaminosa!
I. Presentemente os pecadores afastam a lembrança e o pensamento da morte, e assim procuram a paz na vida pecaminosa que levam, muito embora nunca a hajam de encontrar. Quando, porém, estiverem nas angústias da morte, próximos a entrar na eternidade: «ao sobrevir-lhes a angústia, buscarão a paz, e não haverá paz» — angustia superveniente, requirent pacem, et non erit (Ez 7, 25). Então não poderão escapar aos tormentos de sua má consciência. Procurarão a paz; mas que paz poderá encontrar uma alma, vendo-se carregada de pecados, que, como outras tantas víboras, a mordem por toda a parte? Que paz, em pensar que dentro de poucos instantes deve comparecer perante o Juiz, Jesus Cristo, cujas leis e amizade desprezou até então!
Conturbatio super conturbationem veniet (Ez 7, 26) — «A um susto sucederá outro susto». O anúncio já recebido da morte próxima, o pensamento de se dever separar de todas as coisas do mundo, as tentações do demônio, os remorsos da consciência, o tempo perdido, o tempo que falta, o rigor do juízo divino, a eternidade desgraçada reservada aos pecadores, todas estas coisas produzirão uma perturbação terrível, que lançará a confusão no espírito e aumentará a desconfiança. E é neste estado de confusão e de desconfiança que o moribundo passará à outra vida. — Com efeito, a experiência ensina que as almas desleixadas na hora da morte nem sabem responder às perguntas que o sacerdote faz, e se confundem. Assim muitas vezes o confessor lhes dá a absolvição, já não porque as julga bem dispostas, mas porque não há mais tempo a perder.
Se alguma vez se têm visto pecadores moribundos chorarem, fazerem promessas e pedir perdão a Deus, diz com razão um autor que, geralmente falando, tais promessas, lágrimas e orações são como as de um homem atacado pelo seu inimigo, que lhe põe o punhal sobre o coração e o ameaça de morte. — Desgraçado, pois, do que em vida se endurece e resiste aos apelos de Deus; desgraçado do que cai no leito com pecado mortal na alma, e dali passa à eternidade!
II. Meu irmão, se porventura tu também és uma daquelas almas que têm a consciência desmazelada, procura quanto antes remediar tão grave mal. Para não morreres má morte, teme viver má vida. Quem te dá a certeza de que não morrerás fulminado por um raio, de uma sufocação, de um ataque de apoplexia? E ainda que na morte tivesses tempo para te converter, quem te garante que deveras te converterás e farás uma boa confissão? Oh, quantos daqueles que se iludiram com a ideia de se converterem na hora da morte, estão agora ardendo no inferno!
Ó chagas de meu Jesus, vós sois minha esperança. Desperaria do perdão de meus pecados e da minha salvação eterna, se não erguesse os olhos para vós, fontes de misericórdia e de graça, pelas quais um Deus derramou todo o seu sangue, para lavar a minha alma de tantas faltas cometidas. Adoro-vos, ó chagas sagradas, e em vós confio. Detesto mil vezes e amaldiçoo os prazeres indignos, pelos quais causei desgosto a meu Redentor e perdi miseravelmente a sua amizade. Olhando para vós, avivam-se as minhas esperanças, e para vós dirijo os meus afetos.
Meu amado Jesus, mereceis que todos os homens Vos amem, e vos amem de todo o coração; e eu Vos ofendi tanto e tanto desprezei o vosso amor. Não obstante isso, Vós me tendes suportado e com tão grande piedade convidado ao perdão. Ah, meu Salvador, não permitais que Vos ofenda outra vez e que me condene. Que tormento seria para mim no inferno a vista de vosso sangue e de tantas misericórdias que me fizestes! Amo-Vos e sempre quero amar-Vos. Dai-me a santa perseverança. Desprendei o meu coração de todo o amor que não seja para Vós, e inspirai-me um verdadeiro desejo e a resolução de não amar de hoje em diante senão a Vós, ó meu soberano Bem! — Ó Maria, minha Mãe, atraí-me para Deus, e fazei que eu seja todo dele antes de morrer.
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso de Ligólrio
Fonte: Dominus Est
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Se estes mortos voltassem ao mundo, que não fariam pela vida eterna?