09.08.2015 - Nota de www.rainhamaria.com.br
A Igreja Católica define de forma muito clara (CIC 65, 66) que a revelação pública, oficial, está concluída e é a que vemos nos livros canônicos da Bíblia. Corresponde à fé cristã compreender gradualmente seu conteúdo.
Isso não impede que haja revelações privadas (CIC 67), que não melhoram nem completam a Revelação definitiva de Cristo, mas sim podem ajudar a vivê-la mais plenamente em uma determinada época histórica. Ou seja, pode haver livros inspirados, mas não canônicos.
O especialista François Michel Debroise nos dá uma informação muito completa sobre o tema.
Maria Valtorta, mística italiana falecida em 1961, foi um exemplo de alma extraordinária com vida extraordinária. Foi uma das 18 grandes místicas marianas. Aos 23 anos, um anarquista a espancou com uma barra de ferro, deixando-a com limitações físicas. Ficou 9 anos de cama. E uniu todas as suas dores à paixão de Jesus.
Seu confessor, ao ver a grandeza dessa alma, pediu-lhe que escrevesse sua biografia. Tudo isso aconteceu em plena guerra mundial. Depois de escrever sua biografia, de 1943 a 1950, ela começou a receber uma série de visões, que transcreveu em 17 volumes, entre eles sua obra mais conhecida e polêmica: “O Evangelho como me foi revelado”. Em 4800 páginas, ela relata a vida de Cristo, dia a dia.
O Papa Paulo VI apoiou a leitura da obra de Maria Valtorta, assim como o Padre Pio. A Madre Teresa de Calcutá era uma leitora assídua dos seus escritos. A celebração dos 50 anos da morte de Maria Valtorta foi acompanhado por altas personalidades da Igreja.
Do ponto de vista histórico, os biblistas se surpreendem com como uma pessoa que não teve estudos possa ter um conhecimento tão detalhado.
O leitor desta narração fica preso, porque a obra o introduz nas cenas da vida de Jesus como um espectador presente. É uma narração extraordinária do ponto de vista teológico, histórico e científico. (Fonte: Aleteia)
AS TRÊS VIRTUDES DIVINAS
Fé, Esperança e Caridade
A paz esteja nesta casa e com quem nela mora, diz Jesus, ao entrar, levantando a mão para abençoar e abaixando-a depois para acariciar um pequenino seminu, que olha para Ele extasiado, de uma beleza encantadora, vestido com uma camisa sem mangas, que desliza pelas costas gorduchas e está de pé sobre os pezinhos descalços com um dedinho na boca e uma crosta de pão untado com óleo na outra mãozinha.
É Davi, o filho do meu irmão menor, explica Gamala, enquanto um outro dos vinhateiros entra na casa mais próxima para dar o aviso, e depois sai dela para entrar em outra e assim faz com todas as outras, de sorte que aparecem rostos de todas as idades e depois desaparecem para tornarem a aparecer, logo que puderam arrumar-se um pouco.
Sentado á sombra de um telheiro saliente, coberto por uma gigantesca figueira, está um velho com uma bengala nas mãos. Ele nem levanta a cabeça, como se nada mais lhe interessasse.
É nosso pai, explica Gamala. É um dos velhos da casa, porque também a mulher de Jacó trouxe para cá seu pai, que tinha ficado sozinho e depois veio a mãe da Lia, a mais nova das casadas.
Nosso Pai é cego. Formou-se um véu sobre as pupilas dele. Com tanto sol nos campos! Com tanto calor na terra! Pobre pai! Ele vive muito entristecido. Mas ele é muito bom. Agora está esperando os netinhos, que são sua única alegria.
Jesus se dirige ao velho: Deus te abençoe, pai.
Sejas tu quem fores, que Deus te dê a mesma bênção, responde o velho, levantando a cabeça na direção da voz.
É triste a tua sorte, não é mesmo? Pergunta-lhe Jesus e faz sinal para que ninguém diga quem é que está falando.
Ela vem de Deus, depois de tanto bem que Ele me deu, durante minha longa vida. Como eu recebi o bem de Deus, devo receber também a desventura de estar sem a vista. Mas, afinal, ela não é eterna. Ela acabará no seio de Abraão.
Dizes bem. Pior seria se fosse cega a alma.
Eu sempre procurei conservá-la com a vista.
Como foi que fizeste?
Deves ser jovem, tu que estás falando, pois a tua voz o diz. Não serás como esses jovens de agora, que são todos cegos, porque são sem religião, não é? Olha que é uma grande desventura não crer nem cumprir o que Deus mandou. É um velho quem te diz isso, rapaz. Se abandonares a Lei, estarás cego nesta terra e na outra vida. Nunca mais verás a Deus. Porque chegará um dia em que o Messias Redentor nos abrirá as portas de Deus. Eu já estou velho demais para ver chegar esse dia sobre a terra. Mas eu o verei, lá do seio de Abraão. Por isso, eu não me queixo de nada. Porque eu espero que, com estas minhas sombras eu hei de descontar o que eu tiver feito que não agradou a Deus, e ter algum merecimento para a vida eterna. Mas tu és jovem. Sê fiel, meu filho, de modo que possas ver o Messias. Porque o tempo dele está perto. O Batista já o disse. Tu o verás. Mas, se tiveres a alma cega, serás como aqueles de que nos fala Isaías. Terás olhos, e não verás.
Tu gostarias de vê-lo, pai? Pergunta Jesus, pousando-lhe uma das mãos pela cabeça branca.
Eu gostaria de vê-lo, sim. Mas eu prefiro ir-me embora sem vê-lo, antes que eu o veja, mas temo que meus filhos não o reconheçam. Eu ainda tenho a fé antiga e isso me basta. Eles... Oh! Este mundo de hoje...
Pai, vê, pois o Messias, e que a tua tarde fique coroada de alegria, e Jesus faz deslizar sua mão, dos cabelos brancos para baixo, descendo pela fronte até o queixo barbudo do velho, como se estivesse fazendo-lhe uma carícia e, ao mesmo tempo, se inclina para colocar-se á altura do seu rosto de ancião.
Oh! Altíssimo Senhor! Mas eu estou vendo! Estou vendo... Quem és tu, com este rosto desconhecido, mas que me parece tão familiar, como se eu já o tivesse visto? Mas..Oh! Que tolo sou eu! Tu, que me restituíste a vista, és o Messias bendito! Oh! Oh!
O velho chora sobre as mãos de Jesus, que ele agarrou, cobrindo-as de beijos e de lágrimas. Todos os parentes dele estão alvoroçados.
Jesus solta uma das mãos e acaricia ainda o velho, dizendo: Sim, sou Eu. Vem, para que, além de recuperar a vista, fiques conhecendo a minha palavra. E Jesus se dirige para uma escada, que leva a um terraço sombreado por um frondoso suporte, que o cobre todo. E todos o acompanham.
Eu havia prometido aos meus discípulos falar sobre a esperança e que teria trazido para a explicação uma parábola. A parábola é esta: este velho israelita. Quem a dá é o Pai do Céu, como um tema, a fim de ensinar a todos vós a grande virtude que, como os braços de um jugo, sustenta a Fé e a Caridade.
Doce é este jugo. Patíbulo da humanidade, como braço que atravessa a cruz, trono da salvação, como apoio da serpente, que dava saúde, quando foi elevada no deserto. Patíbulo da humanidade. Ponte para a alma, de onde ela pode fazer a decolagem de seu vôo para a Luz. E ela está colocada no meio, entre a indispensável Fé e a perfeitíssima Caridade, porque, sem a Esperança não pode haver Fé, sem Esperança, morre a Caridade.
Fé pressupõe esperança firme. Como crer que se chega a Deus, se não se espera em sua Bondade? Como manter-se nesta vida, se não se espera uma eternidade? Como pode persistir na justiça, se não se anima a esperança de que toda nossa ação esteja sendo vista por Deus, que nos dará por ela? Igualmente, como fazer viver a Caridade, se não houver esperança em nós? A Esperança vem antes da Caridade e a prepara. Porque um homem tem necessidade de esperar para poder amar. Os desesperados já não amam mais. A escada é esta, feita com degraus e parapeito: a Fé são os degraus, a Esperança o parapeito. No alto está a Caridade, para a qual se sobe por meio de outras duas. O homem espera para crer. E crê para amar.
Este homem soube esperar. Ele nasceu. Foi um dos meninos de Israel, como todos os outros. Cresceu recebendo os mesmos ensinamentos que os outros. Tornou-se filho da Lei, como todos os outros. Tornou-se homem, esposo, pai, velho, sempre esperando nas promessas feitas aos Patriarcas e repetidas pelos Profetas. Na velhice, desceram sombras sobre suas pipilas, mas não sobre seu coração. Neste, sempre ficou acesa a Esperança. Esperança de ver a Deus. De ver a Deus na outra vida. E, na esperança desta vista eterna, uma outra, mais íntima e querida, a de “ver o Messias”. E ele me disse, sem saber ainda quem era o jovem que lhe falava: Se abandonares a Lei, ficarás cego na terra e no Céu. Não verás a Deus, nem reconhecerás o Messias.
Ele falou como sábio.
Muitíssimos há agora em Israel que estão cegos. Eles não têm mais esperança, porque a matou neles a rebelião contra a Lei, que é sempre rebelião, mesmo quando revestida de paramentos sagrados, se não estiver com a aceitação integral da palavra de Deus, Eu digo de Deus, e não dessas superestruturas que nela foram colocadas pelo homem e que, por serem muitas, e todas humanas, acabam sendo desprezadas por aqueles mesmos que as colocaram e são cumpridas maquinalmente, forçadamente, cansadamente, de modo estéril pelos outros. Eles não têm mais esperança. Tratam com irrisão as verdades eternas. Não têm, pois, nem mais Fé, nem Caridade. O divino jugo de Deus dado ao homem para que fizesse dele um motivo de obediência e merecimento, a celeste cruz que Deus deu ao homem para ser um esconjuro contra as serpentes do Mal, a fim de que com ela conseguisse saúde e vida, perdeu o seu braço transversal, o que segurava a chama cândida e a chama vermelha: a Fé e a Caridade e, então as trevas desceram aos corações.
O velho me disse: É uma grande desventura não crer e não cumprir o que Deus mandou.
É verdade. Eu o confirmo. E pior do que a cegueira material, que ainda pode ser curada, para dar a um justo a alegria de tornar a ver o sol, os prados, os frutos da terra, os rostos dos filhos e dos netos e, sobretudo o que era a esperança de sua esperança: Ver o Messias do Senhor. Eu desejaria que uma virtude semelhante estivesse viva na alma de todo Israel, e especialmente nas daqueles que são os mais instruídos na Lei. Não basta ter estado no Templo, ou ter sido do Templo. Não basta saber de cor as palavras do Livro. É necessário saber fazer delas a nossa vida, por meio das três virtudes divinas.
Vós tendes disso um exemplo: onde estas estão vivas, tudo é fácil, até uma vida de desventura. Porque o jugo de Deus é sempre um jugo leve, que aperta somente sobre a carne, sem abater o espírito.
Ide em paz, vós que estais em casa de bons israelitas. Vai em paz velho pai. De que Deus te ama, disso tens certeza. Fecha até o fim os teus dias, depositando a tua sabedoria no coração dos pequeninos nascidos do teu sangue. Não posso permanecer, mas minha bênção fica entre estas paredes com abundância de graças, como abundantes são os cachos desta vinha.
(O Evngelho como me foi Revelado – Maria Valtorta, Vol 4 pgs. 198,199,200,201)
Fonte: www.provasdaexistenciadedeus.blogspot.com.br (do amigo Antonio Calciolari)
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