Sinal dos Tempos: Indigentes de São Paulo são enterrados nus e em caixões abertos


03.08.2015 - 

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É na última quadra, no fim da colina do cemitério Dom Bosco, em São Paulo, que estão enterrados os “indigentes” da maior cidade brasileira. Seus corpos chegam nus e em caixões de compensado que não são lacrados. Algumas dessas caixas de madeira sequer possuem tampa, atraindo curiosos aos enterros, que acontecem quase diariamente.

Ali os cadáveres ganham uma identificação no livro de registros, uma estaca com um número e uma cova rasa.

Chamá-los de “indigentes” não passa de simplificação, já que boa parte deles possui documento de identidade, mas teve o azar de morrer longe das famílias, sem o conhecimento delas.

Entre junho de 2014 e junho de 2015, São Paulo enterrou 791 pessoas em valas para “indigentes”, de acordo com uma lista criada há um ano pelo serviço funerário da prefeitura. Desse total, 422 são os chamados “desconhecidos”, que são as pessoas encontradas mortas sem documentos. Os 369 restantes possuem nome, RG e endereço, mas não tiveram as famílias contatadas pelo poder público.

A responsabilidade para isso seria do SVOC (Serviço de Verificação de Óbitos da Capital), órgão vinculado à USP, além dos sete IMLs (Instituto Médico Legal) da cidade, ligados à Secretaria de Estado da Segurança Pública. São esses dois órgãos que encaminham os cadáveres para a prefeitura realizar os enterros. Nenhum deles, no entanto, presta o serviço de encontrar familiares das pessoas identificadas.

Existem três situações quem levam uma pessoa a ser enterrada como “indigente”. A primeira é justamente a dos desconhecidos. Como são encontrados mortos sem documentos, seus corpos são enviados ao IML para necropsia e, em seguida, encaminhados para enterro em terreno público.

No segundo caso estão as pessoas identificadas que sofreram morte violenta, mas sem o conhecimento da família. Os corpos também são encaminhados para o IML para a necropsia. É aberto um boletim de ocorrência para investigar a morte, mas isso não é garantia de que as famílias serão contatadas.

No terceiro caso estão os “não reclamados”: pessoas identificadas que sofreram morte natural. Seus corpos são enviados para o SVOC, que faz a necropsia para o controle de doenças do município. O órgão espera por dez dias até que algum familiar reclame pelo corpo. Se isso não acontecer, o cadáver é enviado ao serviço funerário municipal. Pelo menos 3.000 pessoas não reclamadas foram enterradas como indigentes na cidade desde 2000, segundo investigação do Ministério Público de São Paulo.

Há três cemitérios em São Paulo que realizam enterro de desconhecidos e não reclamados: o São Luiz, na zona sul, o Vila Formosa, na zona leste, além do Dom Bosco, em Perus, no extremo norte da cidade.

O cemitério de Perus, como é conhecido, é o principal deles. Dos 791 casos analisados pela reportagem, 639 foram enterrados lá, uma média de 49 por mês.

Amontoados

Atualmente, não há dia nem horário exatos para o enterro de indigentes, embora aconteçam com maior frequência às terças e sextas-feiras, entre 11h e 15h.

Os corpos chegam em um furgão azul chamado “rabecão”, que é o veículo do IML utilizado para os transporte de cadáveres.

Os caixões ficam amontoados no rabecão. Como as urnas não são lacradas e os corpos não são cobertos, é possível ver as pernas e pés de alguns dos cadáveres saindo das caixas de madeira.

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A exposição dos corpos atrai curiosos ao Dom Bosco, o que exige dos coveiros não somente o trabalho de carregar e enterrar os corpos, mas também o de monitorar o “público” para impedir que fotos e vídeos sejam gravados.

No dia em que a reportagem esteve no local, um casal visitou a quadra dos indigentes por volta do meio-dia à espera dos corpos. “Minha irmã disse que dá pra ver tudo, então eu vim ver”, disse a mulher. Com a demora do rabecão, o casal acabou desistindo.

Naquele dia foram enterrados três homens, além de outros dois pequenos caixões contendo membros de corpos. Segundo os coveiros e outros funcionários do cemitério, o número é considerado baixo, já que há dias em que são enterradas até 20 pessoas. Por isso, é preciso que 30 covas estejam abertas diariamente em Perus.

Antes de levar os corpos até a última quadra do cemitério, o rabecão faz uma parada na quadra anterior, a chamada “quadra dos anjinhos”, reservada ao enterro de crianças e bebês. É ali onde são enterrados os dois pequenos caixões.

Em seguida, o rabecão entra na quadra dos indigentes, passando por um terreno acidentado e evitando as covas antigas que, com a ação do tempo, afundam e formam buracos.

O cemitério de Perus não possui túmulos de cimento ou mármore.

A quadra dos indigentes, no entanto, possui apenas estacas com números, que identificam uma sequência de cinco cadáveres. Quando uma família encontra um parente enterrado ali, ela tem a opção de entrar na Justiça para pedir a exumação do corpo, ou, então, esperar o período de três anos até que o corpo seja exumado pelo próprio cemitério. Em poucos casos, os familiares erguem jardins no local onde está o corpo do parente.

O enterro é rápido. Com auxílio de cordas, quatro homens erguem as urnas e caminham por uma distância de cerca de cinco metros entre o rabecão e as valas. O procedimento foi gravado pela reportagem utilizando uma câmera escondida.

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O caixão é enterrado diretamente na cova, sem cobertura, com a terra despejada em cima do corpo.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, falta um padrão para o enterro de indigentes na capital.

A promotora Eliana Vendramini é coordenadora do Plid (Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos) e está há um ano e meio tentando fechar um acordo com SVOC e SSP para evitar que mais pessoas identificadas e reclamadas sejam enterradas como indigentes.

Em meio a esse trabalho, ela também assumiu a tarefa de verificar como são feitos esses enterros. Ela acionou o serviço funerário municipal e agora está elaborando uma proposta aos três órgãos para criar um padrão sobre como devem ser enviados os corpos aos cemitérios e como devem ser as inumações.

Para Eliana, o primeiro erro atualmente é o enterro de pessoas “desconhecidas” e “não reclamadas” no mesmo local.

─ Indigente é quem não tem capacidade econômica pra pagar os custos da inumação. Não reclamado é um corpo que ninguém reclamou, é um corpo que não se sabe a quem pertence.

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Ela também questiona a exposição dos corpos e a profundidade das valas.

─ Nós ficamos muito impressionados com o tamanho da cova. É muito rasa. (...) A Cruz Vermelha criou um padrão [para enterros] em caso de catástrofe ou de mortes em [grande] número. Ou seja, nós podemos fazer o mesmo padrão, mas com muito mais tempo, porque não são 400 num dia. Num dia que vi muito eu vi 18.

Segundo a promotora, as covas em Perus possuem 70 cm de profundidade. Ela afirma ainda que o cemitério não utiliza toda a quadra dos indigentes antes de voltar ao começo e reaproveitar as covas, procedimento padrão chamado de “refunda”. Em vez disso, diz, são enterrados até quatro corpos por vala e em datas próximas.

─ Eles põem quatro corpos por terreno, quando eles podiam esgotar o terreno e voltar, porque assim você preserva melhor a ossada. Não vou dizer que não vai usar uma vez só [a cova], mas por que quatro? Põe o corpo no compensando de madeira, joga a terra e vem outro. Mesmo que seja em outro dia, isso mistura a ossada. Diz para mim como vou encontrá-las separadas? E por que deixam a ossada no terreno depois de três anos e não deixam num ossário? Eles me responderam e agora vou começar a demandar. Acreditamos que pode ser mudado, que não precisa ficar como está.

Já o SVOC informa que só são vestidos os corpos de pessoas cujos parentes levaram as vestimentas, o que não inclui os “indigentes”.

“No momento do envio do corpo para sepultamento, o corpo é colocado no caixão fornecido pelo Serviço Funerário do Município de São Paulo que, então, é devidamente fechado pelos funcionários do SVOC. O caixão é colocado no camburão e levado para o cemitério determinado pelo Serviço Funerário do Município de São Paulo”, afirma o vice-diretor do SVOC, professor Carlos Augusto Pasqualucci.

Sobre o trabalho de buscar e encontrar os familiares das pessoas não reclamadas, ele diz que essa tarefa é responsabilidade da polícia.

Fonte: R7

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Nota de www.rainhamaria.com.br

Então, seu Moço:
Sou andarilho destes cantos da cidade.
Sou menino, sou menina, sou sem nome;
de nariz escorrendo e cabelo cumprido ou raspado.
Minhas fantasias de infância seu moço,
estão perdidas nas janelas, nas vitrines, no luxo desta sociedade impiedosa
.

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Canto, choro, brigo, viro-latas, lavo carros, durmo nos bancos destas praças espalhadas.
Sonho acordar num berço amigo e das calçadas em que amanheço sou o dono.

Eu pergunto:
- Seu moço, onde estão os homens indiferentes a esta minha miserável vida?

Procurei nas escolas - não pude entrar, descalço que estava.
Procurei nas igrejas - não fui aceito. Incrédulo muitos me tornaram.

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Procurei, nos parques de diversões, nos circos das pipocas e dos palhaços
o meu sorriso de criança que nunca tive.

E o que encontrei, moço?
No espelho, vi meu rosto magro, pálido, estampado e o estômago vazio.

Como um animal, vivo vagando de lixo em lixo a procura de alimentos.

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Ai, moço!
Que gosto amargo tenho desta vida.
Que já me fez roubar, cheirar cola, fumar, passar fome, sentir frio, anoitecer e amanhecer solitário...

Moço:
Não tenho argumentos contra a fome, o desemprego, a vida maltratada , sem esperanças de meus pais, e esta minha já tão perdida infância.

É... seu moço, “num tem jeito não”
Se você enxerga e não me vê
Se você escuta e não me ouve

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Tia, tia...estou aqui, uma moedinha pelo amor de DEUS...tende misericórdia de mim...

Estou abandonado, sem teto, sem lar, com sede e fome...tende misericórdia de mim.

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Quem sabe, seu Moço, brote uma esperança e possa germinar a semente da bondade, caridade e amor ao seu semelhante. Que o Bom DEUS Toque estes homens, de corações frios de pedra.

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ENTÃO, DIZ O SENHOR DEUS ATÍSSIMO, O SANTO DE ISRAEL

"Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, por em liberdade os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo.
É repartir seu alimento com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, em vez de desviar-se de seu semelhante.

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Então tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá na tua retaguarda.
Então às tuas invocações, o Senhor responderá, e a teus gritos dirá: Eis-me aqui! Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações; se deres do teu pão ao faminto, se alimentares os pobres, tua luz levantar-se-á na escuridão, e tua noite resplandecerá como o dia pleno.
O Senhor te guiará constantemente, alimentar-te-á no árido deserto, renovará teu vigor. Serás como um jardim bem irrigado, como uma fonte de águas inesgotáveis". (Isaías 58, 6-11)

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"Feliz quem se lembra do necessitado e do pobre, porque no dia da desgraça o Senhor o salvará". (Salmos 40, 2)

PORQUE...

"Quem ajuda o pobre empresta a Javé, que lhe dará a recompensa devida". (Provérbios 19, 17)

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"Haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento". (Tiago 2, 13)

"O pobre, porém, não ficará no eterno esquecimento; nem a esperança dos aflitos será frustrada para sempre". (Salmos 9,19)

Imagens e Adaptado por Dilson Kutscher  -- www.rainhamaria.com.br

 

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