19.06.2015 -
“Aquele que é amigo o é em todo tempo; e nos transes apertados conhece-se o irmão” (Pr 17, 17). Os amigos verdadeiros e os verdadeiros parentes não se conhecem no tempo de prosperidades, mas sim no das angústias e das desventuras. Os amigos do mundo não deixam o amigo, enquanto está em prosperidade. Mas o abandonam imediatamente, se lhe acontece uma desgraça ou dele se avizinha a morte. Tal não é o procedimento de Maria com seus devotos. Nas suas angústias e especialmente nas da morte, que de todas são as piores, essa boa Senhora e Mãe não abandona seus fiéis servos. Como é nossa vida no tempo do nosso degredo, assim também quer ser a nossa doçura no tempo da morte, obtendo-nos um suave e feliz trânsito. Desde aquele dia em que teve a dor e juntamente a felicidade de assistir à morte de Jesus, seu Filho, cabeça dos predestinados, obteve também a graça de assistir na morte todos os predestinados. Por isso a Santa Igreja manda rogar à bem-aventurada Virgem: Rogai por nós, pecadores, agora, e na hora de nossa morte.
Muito e muito grandes são as angústias dos pobres moribundos, já pelos remorsos dos pecados cometidos, já pelo horror do próximo juízo, já pela incerteza da salvação eterna. É então que o inferno lança mão de todas as armas e empenha todas as reservas para ganhar aquela alma que passa a eternidade. Bem sabe que pouco tempo lhe resta para obtê-la e que para sempre a perde, se então lhe escapar. “O demônio desceu a vós cheio de uma grande ira, sabendo que lhe resta pouco tempo” (Ap 12, 12). Costumado a tentá-la durante a vida, não se contenta de ser ele só que a tenta na morte, mas chama companheiros para o ajudarem. “Encher-se-ão as suas casas (de Babilônia) com dragões” (Is 14, 21). Quando alguém está para morrer, entram-lhe pela casa os demônios que à porfia tentam perdê-lo.
De S. André Avelino conta-se que, estando para morrer, vieram muitos demônios para tentá-lo. E de tal modo investiram contra ele, que deixaram horrorizados aos bons religiosos que o estavam assistindo. Viram eles que ao Santo se lhe inchou com grande agitação o rosto, de tal sorte que se fez de todo negro. Viram-no tremer e debater-se. De seus olhos corriam lágrimas e violentos lhe eram os movimentos da cabeça. Tudo sinais da horrível peleja que lhe dava o inferno. Os religiosos choravam de compaixão, redobravam de orações e tremiam de pavor, vendo que assim morria um Santo. Mas consolavam-se em ver que o Santo repetidas vezes movia os olhos para uma devota imagem de Maria, como quem procurava o seu socorro. Vinha-lhes à lembrança a frase na qual ele afirmara que a Mãe de Deus havia de ser o seu refúgio na hora da morte. Enfim, foi Deus servido que terminasse aquele combate com uma gloriosa vitória. Cessadas as convulsões do corpo, desinchado e tornado o rosto à sua cor antiga, viram-no, de olhos tranquilamente fixos naquela imagem, fazer uma devota inclinação a Maria (a qual se crê que então lhe apareceu). como em ação de graças, e expirar placidamente nos braços da Mãe de Deus, tendo no rosto a transfiguração dos eleitos. Ao mesmo tempo uma religiosa capuchinha, agonizante, voltou-se para as que a assistiam e lhes disse então: Rezai a Ave-Maria, porque agora morreu um Santo.
Ah! Como fogem os demônios à presença de Nossa Senhora! Se na hora da morte tivermos Maria a nosso favor, que poderemos recear de todo o inferno? Reanimava-se Davi para as terríveis angústias da sua morte, pondo sua confiança na morte do futuro Redentor e na intercessão da Virgem Mãe. “Pois ainda quando andar no meio da sombra da morte, não temerei males; porquanto tu estás comigo. A tua vara e o teu báculo, eles me consolaram” (Sl 22, 4-5). Pelo báculo entende o Cardeal que foi a vara profetizada por Isaias (11, 1). Esta divina Mãe, diz S. Pedro Damião, é aquela poderosa vara que vence todas as violências dos inimigos infernais. Anima-se por isso S. Antonio, dizendo: Se Maria é por nós, quem será contra nós? – Estando à morte o Padre Manuel Padial, da Companhia de Jesus, apareceu-lhe Maria, que, para consolá-lo, lhe disse: Eis, finalmente, chegada a hora, em que os anjos, congratulando-se contigo, vão dizer! Ó felizes trabalhos, ó bem recompensadas mortificações! E nisso foi visto um bando de demônios que, desesperados, fugiam, gritando: Ai! Que nada podemos, porque, aquela que não tem mancha o defende! Da mesma forma o Padre Gaspar Haywood foi assaltado por uma grande tentação contra a fé. Encomendou-se, porém, sem demora à Virgem Santíssima e ouviram-no exclamar: Sinceros agradecimentos, ó Maria, porque me viestes ajudar.
Como assevera Conrado de Saxônia, a Santíssima Virgem, em defesa dos fiéis moribundos, manda o príncipe S. Miguel com todos os seus anjos, para protegê-los contra as tentações do demônio e lhes receber as almas, com especialidade as daqueles seus servos que se recomendaram continuamente a ela.
Glorias de Maria – Santo Afonso
Fonte: Dominus Est
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