01.06.2015 -
Com olhar cansado, mãos calejadas e apenas 19 anos, Carlos Medeiros Almeida tem um sonho em comum com outras centenas de ex-catadores do antigo aterro sanitário de Gramacho: “O direito de ter direito”. Há três anos, enquanto um caminhão da Comlurb subia a rampa para descarregar a última caçamba dentro dos muros do maior aterro da América Latina – que fica no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense –, cerca de 1,4 mil catadores comemoravam a possibilidade de mudar de vida.
No entanto, desde o fechamento oficial do aterro, no dia 3 de junho de 2012, quando diversas autoridades trancaram com um cadeado os portões do lixão, a vida de catadores que continuam vivendo no entorno do local está ainda pior. Sem saneamento básico, moradia e condições dignas de sobrevivência, eles enfrentam agora a dificuldade da falta de trabalho e de água potável para o consumo.
De acordo com a Lei 12.305/10, que determinou o fechamento dos lixões e instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, além do reconhecimento profissional e da capacitação, está prevista a inclusão social dos catadores.
“O rapaz que tem bomba [que capta água de um cano da Cedae nas proximidades do aterro] vende água pra nós a R$ 20 o barril [cerca de 90 litros]. Dá pra quase um mês, porque eu sou sozinho. Eu também tomo banho no trabalho antes de sair [para economizar]”, diz Carlos, que, apesar de não ter recebido nenhum curso de capacitação, conseguiu emprego de auxiliar de serviços gerais em um hospital da Zona Norte do Rio.
Carlos vive num barraco de madeira que conseguiu construir quando ainda era menor de idade e subia a rampa de Gramacho de madrugada para catar material reciclável e madeira. Após o fechamento do lixão, as fábricas de reciclagem que existiam no entorno do aterro também pararam as atividades. Como muitos moradores utilizavam a água dos canos que abasteciam essas empresas, ficaram sem água potável para o consumo.
“Muitas pessoas pegavam água lá dentro, colocavam canos, sabe? Agora não tem água para beber e tomar banho. Quando as ONGs chegam para ajudar com os fardos de água, parece que você está na Somália, na Etiópia. É triste demais”, explica o ex-catador Sebastião.
Conhecido mundialmente após protagonizar o documentário "Lixo Extraordinário", que contou a história dos catadores do aterro, Tião lembra que antes as pessoas conseguiam ao menos sobreviver. “Gramacho [bairro] hoje é um bolsão de miséria e exclusão social. De certa forma, Gramacho [o antigo aterro sanitário] era onde as pessoas excluídas da sociedade conseguiam ser incluídas, pelo menos para sobreviver.”
Problemas de saúde
A falta de saneamento e condições mínimas de higiene já trouxeram inúmeros problemas e doenças aos moradores da região. Carlos, que tem um filho de três anos, conta que a mãe da criança não deixa ele levar o filho para casa dele com medo que a criança pegue alguma doença. “Às vezes, quando ele vem aqui, tem que ficar em cima da cama. Não dá para ele brincar no chão”, contou o rapaz.
A família de Natalie Pinheiro, 25 anos, que foi catadora dos 16 até os 22 anos, também já passou por dificuldade por conta de água contaminada.
“Às vezes as crianças têm muita dor de barriga, têm febre, o meu filho mais velho já ficou internado por causa da qualidade da água. Ele teve infecção urinária por causa da bactéria que tinha na água”, lembrou. Depois disso, Natalie comprou um filtro de barro para melhorar a qualidade da água que os três filhos usam para beber.
“Meu marido comprou uma bomba com o dinheiro que recebeu da indenização. É como a gente puxa a água, porque não tem encanação aqui dentro”, contou Daniele Áurea Mendes da Silva, de 31 anos, que tem sete filhos e vive num barraco de madeira de apenas um cômodo e sem banheiro. A família toma banho a céu aberto, no quintal de casa, utilizando galões de água que são abastecidos pela bomba que o marido comprou.
Natalie gastou quase todo o dinheiro da indenização com a alimentação do filho caçula, que nasceu com intolerância à lactose. “Cada lata de leite era muito cara, custava R$ 600. Coloquei ele no programa do hospital infantil de Duque de Caxias, mas não consegui ganhar o leite e eu tinha que comprar. O meu dinheiro foi para ele”, explicou Natalie.
Há três anos, quando a equipe de reportagem do G1 esteve em Gramacho, para conversar com os catadores, Daniele fez um desabafo: “Às vezes, tenho vergonha que minhas amigas venham aqui. Então, prefiro nem chamar”, contou ela na época, diante do barraco de madeira onde morava.
Moradores e crianças precisam caminhar no meio do lixo
Três anos depois e com um filho a mais, ela contou qual continua sendo o seu grande desejo. “O meu maior sonho é ter uma casa de tijolo para botar os meus filhos dentro e ter um emprego”, disse a jovem, que na época em que podia trabalhar no lixão e perto de casa revezava com o marido. Hoje, no entanto, como ele trabalha como pedreiro fora de Gramacho, a única renda da casa é a dele. “Alguém precisa ficar aqui com as crianças”.
Fonte: G1
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Então, seu Moço:
Sou andarilho destes cantos da cidade.
Sou menino, sou menina, sou sem nome;
de nariz escorrendo e cabelo cumprido ou raspado.
Minhas fantasias de infância seu moço,
estão perdidas nas janelas, nas vitrines, no luxo desta sociedade impiedosa.
Canto, choro, brigo, viro-latas, lavo carros, durmo nos bancos destas praças espalhadas.
Sonho acordar num berço amigo e das calçadas em que amanheço sou o dono.
Eu pergunto:
- Seu moço, onde estão os homens indiferentes a esta minha miserável vida?
Procurei nas escolas - não pude entrar, descalço que estava.
Procurei nas igrejas - não fui aceito. Incrédulo muitos me tornaram.
Procurei, nos parques de diversões, nos circos das pipocas e dos palhaços
o meu sorriso de criança que nunca tive.
E o que encontrei, moço?
No espelho, vi meu rosto magro, pálido, estampado e o estômago vazio.
Como um animal, vivo vagando de lixo em lixo a procura de alimentos.
Ai, moço!
Que gosto amargo tenho desta vida.
Que já me fez roubar, cheirar cola, fumar, passar fome, sentir frio, anoitecer e amanhecer solitário...
Moço:
Não tenho argumentos contra a fome, o desemprego, a vida maltratada , sem esperanças de meus pais, e esta minha já tão perdida infância.
É... seu moço, “num tem jeito não”
Se você enxerga e não me vê
Se você escuta e não me ouve
Tia, tia...estou aqui, uma moedinha pelo amor de DEUS...tende misericórdia de mim...
Estou abandonado, sem teto, sem lar, com sede e fome...tende misericórdia de mim.
Quem sabe, seu Moço, brote uma esperança e possa germinar a semente da bondade, caridade e amor ao seu semelhante. Que o Bom DEUS Toque estes homens, de corações frios de pedra.
ENTÃO, DIZ O SENHOR DEUS ATÍSSIMO, O SANTO DE ISRAEL
"Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, por em liberdade os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo.
É repartir seu alimento com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, em vez de desviar-se de seu semelhante.
Então tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá na tua retaguarda.
Então às tuas invocações, o Senhor responderá, e a teus gritos dirá: Eis-me aqui! Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações; se deres do teu pão ao faminto, se alimentares os pobres, tua luz levantar-se-á na escuridão, e tua noite resplandecerá como o dia pleno. O Senhor te guiará constantemente, alimentar-te-á no árido deserto, renovará teu vigor. Serás como um jardim bem irrigado, como uma fonte de águas inesgotáveis". (Isaías 58, 6-11)
"Feliz quem se lembra do necessitado e do pobre, porque no dia da desgraça o Senhor o salvará". (Salmos 40, 2)
PORQUE...
"Quem ajuda o pobre empresta a Javé, que lhe dará a recompensa devida". (Provérbios 19, 17)
"Haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento". (Tiago 2, 13)
Imagens e Adaptado por Dilson Kutscher -- www.rainhamaria.com.br
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