Santo Afonso de Ligório: A Salvação é a única coisa necessária


30.04.2015 -

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Porro unum est necessarium – “Uma só coisa é necessária” (Lucas 10, 42).

Sumário. Não é preciso que neste mundo sejamos cumulados de dignidades, que tenhamos riquezas, boa saúde, gozos terrestres; é necessário tão somente que nos salvemos. Não há meio termo: se não nos salvarmos, seremos condenados; estaremos ou sempre felizes no céu, ou sempre infelizes no inferno! Por isso avisa-nos o Senhor, que amontoemos tesouros, já não neste mundo, mas no céu, onde a ferrugem e os vermes não os consomem, nem os desenterram e roubam os ladrões.

I. Não é necessário que neste mundo sejamos cumulados de dignidades, que tenhamos riquezas, boa saúde e gozos terrestres; mas necessário é que nos salvemos. Não há meio termo: se não nos salvarmos, seremos condenados. Depois desta breve vida seremos ou para sempre felizes no paraíso, ou para sempre desgraçados no inferno.

Quantos mundanos, que outrora gozaram abundância de riquezas e honras, foram elevados às mais altas dignidades, quiçá a tronos, estão agora no inferno! Ali todas as prosperidades gozadas neste mundo só lhes servem para sua maior dor e desesperação. – Eis o que nos avisa o Senhor: Nolite thesaurizare vobis thesauros in terra – Não queirais ajuntar tesouros na terra; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem a ferrugem e os vermes, e onde os ladrões não os desenterram nem roubam (1). Todos os bens terrestres se perdem na hora da morte; mas os bens espirituais são tesouros incomparavelmente mais preciosos e duram eternamente.

Deus manifestou-nos a vontade de que todos sejam salvos, e a todos dá o auxílio para se salvarem. Quem se perder, perder-se-á por culpa própria, e isto será a sua pena mais grave no inferno. Vindicta carnis impii, ignis et vermis (2) – “A vingança da carne do ímpio será o fogo e o verme”. O fogo e o verme roedor (isto é, o remorso da consciência), serão os algozes do réprobo para vingança de seus pecados; mas o verme roedor o atormentará eternamente muito mais que o fogo. – Que dor não causa neste mundo a perda de um objeto de valor, de um diamante, de um relógio, de uma bolsa com dinheiro, mormente quando a perda se deu por descuido próprio? A lembrança da perda faz perder o apetite e o sono, posto que haja esperança de remediá-la de outra maneira. Qual não será então o tormento do réprobo ao lembrar-se que por sua culpa própria perdeu o seu Deus e o paraíso, sem esperança de poder ainda possuí-los?

II. Ergo erravimus (3) – “Logo nos extraviamos do caminho”. Eis aí o que fará os desgraçados réprobos chorarem eternamente: extraviamo-nos do caminho perdendo-nos voluntariamente, e não há mais remédio para o nosso erro. Para todas as desgraças que nos podem sobrevir neste mundo, acha-se com o tempo algum remédio, ou na mudança das circunstâncias ou ao menos na santa resignação à vontade divina. Mas chegados que formos à eternidade, nenhum remédio nos poderá valer, se para desgraça nossa tivéssemos errado o caminho do céu.

Por isso exorta-nos o apóstolo São Paulo a que nos empenhemos na obra da salvação com temor e tremor, isto é, com medo de a perdermos: Cum metu et tremore vestram salutem operamini (4). Este medo fará com que andemos com cautela no caminho do céu e fujamos das ocasiões perigosas e nos recomendemos continuamente a Deus, e deste modo sermos salvos. Roguemos ao Senhor, queira gravar bem fundo em nosso espírito este pensamento, que do último suspiro na hora da morte dependerá o sermos eternamente bem-aventurados ou eternamente desgraçados sem esperança de remédio.

Ó meu Deus, tenho muitas vezes desprezado a vossa graça; mas o Profeta assegura-me que sois misericordioso para com aquele que Vos procura: Bonus est Dominus animae quaerenti illum (5). Outrora fugia de Vós, mas agora Vos procuro; não desejo e não amo senão a Vós; por piedade, não me desprezeis, lembrai-Vos do sangue que por mim derramastes. Esse sangue e a vossa intercessão, ó Mãe de Deus, Maria, são todas as minhas esperanças. (II 277.)

1. Matth. 6, 19.
2. Ecclus. 7, 19.
3. Sap. 5, 6.
4. Phil. 2, 12.
5. Thren. 3, 25.

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II – Santo Afonso

Fonte: Dominus Est

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Nota de www.rainhamaria.com.br

Lembrando...

Artigo Publicado no Site em 27.08.2014

São Francisco de Borja: Isabel, para onde foi vossa majestade, vossa beleza?

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Davi compara a felicidade na vida presente ao sonho de um homem que desperta.

"Como de um sonho ao se despertar, Senhor, levantando-vos, desprezais a sombra deles".(Sl 72,20)

Comentando estas palavras, escreve um autor: “Parecem grandes os bens deste mundo; mas, na realidade, nada são, e duram pouco, semelhante ao sonho, que se esvai.

O pensamento de que com a morte tudo se acaba, inspirou a São Francisco de Borja a resolução de dar-se inteiramente a Deus. Incumbiram-no de acompanhar o cadáver da imperatriz Isabel de Granada. Quando abriram o ataúde, foi tal o aspecto horrível que ofereceu e o cheiro que exalou, que afugentou toda a gente.

Só São Francisco, guiado pela luz divina, ficou a contemplar nesse cadáver a vaidade do mundo, e olhando- o disse: “Sois, então, a minha imperatriz? Sois aquela, diante da qual tantos grandes reverentes te ajoelharam? Isabel, para onde foi vossa majestade, vossa beleza?

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É assim — concluiu ele de si para consigo — que acabam as grandezas e as coroas do mundo! Não sirvo mais a um senhor que me possa ser roubado pela morte! E desde então se consagrou inteiramente ao amor do Crucificado, fazendo voto de abraçar o estado religioso quando sua esposa morresse, o que depois efetivamente cumpriu, entrando na Companhia de Jesus. Tinha razão, portanto, esse homem desiludido, quando escreveu sobre um crânio humano: “Quem pensa na morte, tudo lhe parece vil”.

Quem medita na morte, não pode amar a terra. Por que, entretanto, há tantos desgraçados que amam este mundo? Porque não pensam na morte. Míseros filhos de Adão — diz-nos o Espírito Santo, — por que não arrancais do coração os afetos terrenos, que fazem amar a vaidade e a mentira?

"Ó poderosos, até quando tereis o coração endurecido, no amor das vaidades e na busca da mentira"? (Sl 4,3).

O que aconteceu a teus antepassados, sucederá também a ti; eles moraram nesta mesma casa, dormiram nesse mesmo leito, mas já não existiu: o mesmo acontecerá a ti.

Entrega-te, pois, a Deus, meu caro irmão, antes que chegue a morte.

Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje, porque o dia presente passa e não volta; e amanhã a morte poderia apresentar-se e nada te permitiria fazer. Procura, sem demora, libertar-te do que te afasta de Deus. Rompe, sem tardança, com todo laço que te prende aos bens da terra, antes que a morte os venha arrebatar. Bem-aventurados os que, ao morrer, já se acham mortos para as afeições terrenas

"Eu ouvi uma voz do céu, que dizia: Escreve: Felizes os mortos que doravante morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os seguem". (Ap 14,13).

Estes não temem a morte, antes a desejam e abraçam alegremente.

Em vez de separá-los dos bens que amam, une-os ao Sumo Bem, que é o único objeto digno de amor e que os tornará eternamente felizes.

Preparação para a morte, consideração V, ponto III

 

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