20.01.2014 -
A Coordenação nacional Summorum Pontificum, uma associação italiana para a aplicação do Motu Proprio de Bento XVI extremamente séria e ponderada, acaba de lançar um grito de alerta a propósito da situação criada na Península para os fiéis ligados ao rito tradicional.
Desde as medidas tomadas contra os Franciscanos da Imaculada, em 11 de julho, data do efeito do decreto que os atingiu, das 33 missas celebradas no rito extraordinário todos os domingos (e por vezes todos os dias) nas casas dos Franciscanos, ou por eles em outras igrejas (em Florença, Ferrara, Trieste, Teramo, no santuário mariano de Campocavallo, no seminário de Sassoferrato e em “la Nunziatina”, em Roma, às margens do Tibre, não distante do Vaticano), somente 3 missas ainda são celebradas hoje. Todavia não se trata apenas da Itália, pois os Franciscanos têm casas em certo número de outros países pelo mundo (especialmente nas Filipinas, no Benin, na Argentina, nos Estados Unidos). Quais autoridades romanas ficaram inquietas com esse dano injusto causado ao direito dos fiéis?
A Coordenação sublinha também a supressão emblemática (uma suspensão? uma supressão definitiva?) da missa celebrada desde 2001 pelo Instituto Cristo Rei Sumo Sacerdote, todos os primeiros sábados do mês, às 11h, na capela Cesi da Basílica Santa Maria Maior, onde estão presentes os Franciscanos da Imaculada da minoria que desencadeou as medidas romanas. Foi o arcipreste da Basílica, o cardeal espanhol Abril y Castelló, que tomou essa decisão, cuja todo mundo entendeu que ela tinha um ligação direta com a “condenação” dos Franciscanos.
Para dizer a verdade, essa questão dos Franciscanos da Imaculada toma o aspecto de uma pedra no sapato do pontificado. Lançada – devemos sempre recordá-lo – sob Bento XVI, ela foi conduzida com determinação pela Congregação pelos Institutos de vida consagrada e as Sociedades de vida apostólica do cardeal brasileiro Braz de Aviz, espantosamente nomeado a esse posto pelo próprio Bento XVI, em 2011, apesar de sua linha anti-Ratzinger. A carta circular, de 8 de dezembro de 2013, dirigida a todos os Franciscanos pelo comissário apostólico nomeado pelo cardeal Braz de Aviz, o pe. Fidenzio Volpi, levantou a indignação, de tanto que ela era parcial e ideológica (porém reveladora: o motivo da “condenação”, a saber, a ligação dos Franciscanos à liturgia tradicional e sua crítica reformista do Vaticano II, aparece aí quase ingenuamente). A tal ponto que o escritor e jornalista católico Antonio Socci, procedente da Comunhão e Libertação, assinou um artigo extremamente duro no cotidiano Libero do dia 5 de janeiro em defesa dos religiosos: “No Vaticano, há uma nova inquisição cato-progressista. Ela persegue com obstinação os Franciscanos da Imaculada porque eles têm a fé e tantas vocações. Isso é uma vergonha! O papa está a parte disso?” O artigo bem documentado de Guillaume Luyt no Présent de 11 de janeiro: “Franciscanos da Imaculada: silêncio, estamos purificando“, sublinha que a expressão de indignação ultrapassa amplamente o mundo tradicional desde o início do caso, e também que o velho assunto do “papa mal cercado” poderia revelar-se aqui correto. De acordo com o autor do artigo, o cardeal Aviz, por essas e outras razões, poderia ter caído em desgraça (o vaticanista Marco Tosatti relatava em outubro passado que ele poderia receber a sé arcebispal de Aparecida, no Brasil, com seu santuário nacional mariano).
“O papa está a parte disso?” É claro que o Papa Francisco não tinha uma simpatia a priori pelos Franciscanos, cujos diziam que ele criticava, na Argentina, o “rigorismo” pastoral. Ademais, o pe. Manelli e os seus não souberam se aproveitar da mudança que foi introduzida no governo romano com o advento do novo pontífice: um acusado pode doravante se apresentar diretamente ao papa por um contato pessoal, o que pode mudar completamente as coisas. Além disso, a questão levantada não deve ter parecido de uma importância primária ao papa Francisco, para o qual uma Congregação de 300 religiosos parece certamente muito modesta. No momento do decreto, ele ainda tinha tido a possibilidade de reconhecer o que é o catolicismo ocidental e o fato de que essa comunidade “identitária”, formada por membros em sua maioria jovens, que tinha vocações, e que se desenvolvia rapidamente, era, na Itália, emblemática do que qualificam de “forças vivas”, no seio de um catolicismo cada vez mais devastado. Enfim, é muito provável que tenham lhe apresentado a medida concernente à liturgia desse modo: visto que a missa tradicional é o pomo de discórdia no seio da Congregação, e que a minoria alega que “obrigam” os padres que não têm necessariamente o desejo de celebrá-la “manipulando-nos”, é necessário que uma permissão seja solicitada pessoalmente por cada um dos padres que quiserem celebrá-la.
A supressão da missa mensal em honra do Coração Imaculado de Maria na principal igreja da cristandade consagrada à Santa Virgem, atinge particularmente os fiéis tradicionais romanos. Fiéis de base decidiram organizar uma vigília de oração na própria Basílica, com recitação do rosário, no dia 25 de janeiro, para solicitar à Maria, que aqui invocam sob o título de Salus Populi Romani, a graça da retomada da missa nesse lugar. Isso se situa na linha das iniciativas do professor Roberto De Mattei. Depois que o vaticanista Sandro Magister advertiu por primeiro a opinião, Roberto De Mattei mostrou toda a importância dessa questão. Em seguida ele lançou uma petição de apoio aos Franciscanos. Podemos imaginar que a Virgem Maria está, quanto a ela, atenta ao direito dos christifideles…
Fonte: Riposte Catholique – Tradução: Dominus Est