Santo Afonso de Ligório: Dirija-se a Maria quem deseja graças


27.11.2013 - DIA DE NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS

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“Do Arcanjo São Gabriel ouviu a Santíssima Virgem que Isabel, sua prima, estava grávida de seis meses. Iluminada interiormente pelo Espírito Santo, conheceu que o Verbo humanado, e já feito seu Filho, queria começar a manifestar ao mundo as riquezas de sua misericórdia. E era resolução dele começá-lo pela distribuição das primícias àquela família de Isabel. Por isso sem demora e com pressa partiu a Virgem para as montanhas (cf. Lc 1, 39).

Levantando-se da tranquilidade de sua contemplação, a que estava sempre aplicada, e deixando a sua cara solidão, com grande pressa partiu para a casa de Isabel. E porque a caridade tudo suporta (cf. 1 Cor 1, 37), e não sabe sofrer demoras (como sobre o texto diz S. Ambrósio), pôs-se a tenra e delicada donzela a caminho, sem se atemorizar com as fadigas da viagem. Chegada que foi àquela casa, saudou sua prima.”

“Como reflete S. Ambrósio, foi Maria a primeira a saudar Isabel. Mas não foi a visita de Nossa Senhora como são as visitas dos mundanos, que pela maior parte se reduzem a cerimônias e falsas exibições. Sua visita trouxe àquela casa um cúmulo de graças. Com efeito, mal entrara e saudara seus habitantes, ficou já Isabel cheia do Espírito Santo, e João livre da culpa e santificado. Por isso deu aquele sinal de júbilo, exultando no ventre de sua mãe. Queria com isso manifestar as graças recebidas por meio de Maria, como declarou a mesma Isabel: Porque assim que chegou a voz da tua saudação aos meus ouvidos, logo o menino exultou de prazer em minhas entranhas (Lc 1, 44). Em virtude desta saudação, observa Bernardino de Busti, recebeu João a graça do Divino Espírito Santo, que o santificou.”

“Os primeiros frutos da redenção passaram, pois, pelas mãos de Maria. Foi ela o canal pelo qual foi comunicada a graça ao Batista, e o Espírito Santo a Isabel, o dom de profecia a Zacarias, e tantas outras bênçãos àquela casa. Foram estas as primeiras graças que sabemos terem sido distribuídas na terra pelo Verbo, depois que se encarnou. É muito justo e razoável crer que, desde então, Deus constituiu Maria o aqueduto universal, como a chama S. Bernardo, pelo qual, depois daquele tempo, passassem todas as outras graças que o Senhor quer dispensar-nos (…).”

“Acertadamente, portanto, chamam esta divina Mãe de tesouro, de tesoureira e de dispensadora das divinas mercês. Lembremos aqui Raimundo Jordão, Abade de Celes, S. Pedro Damião, S. Alberto Magno, S. Bernardino e Crisipo de Jerusalém, escritor grego que é citado por Petávio. O mesmo lemos nas Homilias sobre Maria, entre os escritos de S. Gregório Taumaturgo: É a Virgem chamada cheia de graça porque nela está oculto todo o tesouro das graças. Segundo Ricardo de S. Lourenço, Deus depositou em Maria, como num erário de misericórdia, todos os dons da graça e desse tesouro enriquece aos que o servem.”

“Conrado de Saxônia compara Maria ao campo em que está escondido um tesouro, que deve comprar-se por qualquer preço, como disse Jesus Cristo. Esse campo é Maria, diz ele, porque nela está o tesouro de Deus, isto é, Jesus Cristo, e em Cristo, a origem e fonte de todas as graças. Já antes afirmara S. Bernardo que o Senhor depositou nas mãos de Maria todos os tesouros que nos quer dispensar, a fim de que saibamos que quanto bem recebemos, todo é das mãos de Maria. O mesmo nos assegura também a Senhora, dizendo: Em mim está toda a graça do caminho e da verdade (Eclo 24, 25). Isto é: em mim estão, ó homens, todas as graças dos verdadeiros bens que em vossa vida podeis desejar.”

[Santo Afonso de Ligório, Glórias de Maria, p. 2, tratado I, capítulo V, ponto primeiro, Dirija-se a Maria quem deseja graças, pp. 300-302; Editora Santuário, 20ª edição, Aparecida, 1989]

 

Santo Afonso de Ligório: Glórias de Maria - aqueduto de graças

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Segundo São Bernardo, Deus encheu Maria com todas as graças para que por seu intermédio recebam os homens todos os bens que lhes são concedidos. Faz aqui o Santo uma profunda reflexão, acrescentando: Antes do nascimento da Santíssima Virgem, não existia para todos essa torrente de graças, porque não havia ainda esse desejado aqueduto: Maria foi dada ao mundo – continua ele – a fim de que por seu intermédio, como por um canal, até nós corresse sem cessar a torrente das graças divinas.

Que lhe arrebentassem os aquedutos, foi a ordem dada por Holofernes para tomar a cidade de Betúlia (Jt 7, 6). Assim o demônio também envida todos os esforços para acabar com a devoção à Mãe de Deus nas almas. Pois, cortado esse canal de graças, mui fácil se lhe torna a conquista. Consideremos, portanto, continua São Bernardo, com que afeto e devoção quer o Senhor que honremos esta nossa Rainha. Consideremos o quanto deseja que a ela sempre recorramos e em sua proteção confiemos. Pois em suas mãos depositou a plenitude de todos os bens, para nos tornar cientes de que toda esperança, toda graça, toda salvação, a nós chegam pelas mãos dela. A mesma coisa declara Santo Antônio. Todas as misericórdias dispensadas aos homens lhes têm vindo por meio de Maria.

É por isso Maria comparada à lua. Colocada entre o sol e a terra, a lua dá a esta o que recebe daquele, diz São Boaventura; do mesmo modo recebe Maria os influxos da graça para no-los transmitir aqui na terra.

Pelo mesmo motivo chama-lhe a Igreja “porta do Céu”. Como todo indulto do rei passa pela porta de seu palácio, observa São Bernardo, assim também graça nenhuma desce do céu à terra sem passar pelas mãos de Maria. Ajunta São Boaventura que Maria é chamada porta do céu porque ninguém pode entrar no céu, senão pela porta que é Maria.

Nesse sentimento confirma-nos São Jerônimo no sermão da Assunção, que vem inserido nas suas obras. Nele lemos que em Jesus Cristo reside a plenitude da graça, como na cabeça, de onde se transfunde para nós, que somos seus membros, o vivificador espírito dos auxílios divinos necessários à nossa salvação. Em Maria reside a mesma plenitude como no pescoço, pelo qual passa esse espírito para comunicar-se ao resto do corpo. Com cores mais vivas dá São Bernardo o mesmo pensamento: Por meio de Maria transmitem-se aos fiéis, que são o corpo místico de Jesus Cristo, todas as graças da vida espiritual emanadas de Jesus Cristo, que lhes é cabeça. E com as seguintes palavras procura confirmar isto: Tendo-se Deus dignado habitar no ventre desta Virgem Santíssima, adquiriu ela uma certa jurisdição sobre todas as graças: porque, saindo Jesus Cristo do seu ventre sacrossanto, dele saíram juntamente como de um oceano celeste todos os rios das divinas dádivas. Escrevendo com maior clareza ainda, diz o Santo: A partir do momento que esta Virgem Mãe concebeu em seu ventre o Divino Verbo, adquiriu, por assim dizer, um direito especial sobre os dons que nos provêm do Espírito Santo, de tal modo que criatura alguma recebe graças de Deus, senão por mãos de Maria.

(…)

Lê-se no profeta Isaías (11, 1) que da raiz de Jessé sairia uma haste, isto é, Maria, e dela, uma flor, isto é, o Verbo Encarnado. Sobre essa passagem tece Conrado de Saxônia este belo comentário: “Todo aquele que desejar obter a graça do Espírito Santo, busque a flor em sua haste, isto é, Jesus em Maria. Pois pela haste encontraremos a flor e pela flor chegaremos a Deus. – Se queres possuir a flor, procura com orações inclinar a teu favor a vara da flor e alcançá-la-ás. De outro lado, nota-te as palavras do seráfico São Boaventura, comentando o trecho “Eles encontraram a criança com Maria, sua Mãe”. Ninguém, diz ele, achará jamais a Jesus senão com Maria e por meio de Maria. E conclui que em vão procura Jesus quem não procura achá-lo com sua Mãe. Dizia por isso São Ildefonso: Quero ser servo do Filho; mas como ninguém pode servir ao Filho sem servir também a Mãe, esforço-me, por conseguinte, em servir a Maria.

[Santo Afonso de Ligório, Glórias de Maria, p. 1, cap. 5, I, Refutação e demonstração; pp. 135-139, Editora Santuário, 20ª edição, Aparecida, 1989]

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