São João Crisóstomo: Quanto é difícil salvar-se no mundo


24.11.2013 -

“Quanto é difícil salvar-se no mundo”

São João Crisóstomo

Então – me dirás – é verdade que se perdem e naufragam os que habitam as cidades e teremos que deixá-las e despovoá-las para irmos ao deserto e habitar os cumes das montanhas? E és tu quem isto ordenas e esta lei impões?

- Pelo contrário. Como já disse, melhor seria o oposto, e faço votos a Deus que gozemos de tanta paz e seja arrancada a tirania destes males pela raiz, que não só não tenham necessidade os que habitam as cidades de tomar de assalto as montanhas, mas que mesmo os que moram nos desertos, e, como desterrados por longo tempo, voltem a sua própria cidade. Porém o que iremos fazer! Eu temo que, ao empenhar-nos em devolvê-los a sua pátria, em lugar de entregá-los a esta, os coloquemos nas mãos dos malignos demônios e, querendo livrá-los da solidão e do desterro, os façamos perder sua filosofia e tranqüilidade.

E se puseres diante de mim a multidão dos que vivem nas cidades e se crês deste modo comover-me e espantar-me, pois não me importarei em condenar pouco menos que toda a face da terra, eu lançarei mão da sentença do Cristo e com ela farei frente a tua objeção. Para que não venhas a cometer tamanha temeridade como te opores ao voto de quem um dia há de nos julgar. O que disse, pois, Cristo?

“Estreita é a porta e apertado é o caminho que leva à vida e poucos são os que o encontram” (Mt 7, 14).

E se são poucos os que acham o caminho, muito menos são os que têm força para chegar até o término do mesmo. Com efeito, nem todos os que a princípio entram por ele, se mantêm firmes até o fim. Uns naufragam no começo, outros pelo meio, outros na própria boca do porto. E em outra ocasião disse o Senhor que “muitos são os chamados e pouco os escolhidos” (Mt 20, 16).

Pois bem, quando é o próprio Cristo quem afirma que a maior parte se perde e limita a salvação a uns poucos, porque tu te revoltas contra mim? É como se contando a ti o que aconteceu no tempo de Noé, te admirasses que todos tivessem perecido e só dois ou três homens escapassem de tão grande castigo, esperando deste modo tapar-me a boca, como se eu não houvesse de me atrever a condenar tanta gente.

São João Crisóstomo

Contra os impugnadores da vida monástica”, disc. 1, c. 11

 

"Quanto alheios ao Evangelho vivem os mundanos".

São João Crisóstomo

 26.09.2009 - Não cometerei eu esta covardia nem preferirei o vulgar à verdade. Não são os pecados atuais menores do que os de então, mas tão mais abomináveis quanto os que nos ameaçam agora com o inferno e nem assim se corta pela raiz a maldade. Quem, dize-me, não chama de néscio ao seu irmão? Pois aquele que o faz é réu do fogo do inferno. Quem não olhou para uma mulher com olhos intemperantes? Pois isto é adultério consumado, e é forçoso que o adultério caia no inferno. Quem não jurou alguma vez? Pois o juramento vem absolutamente do maligno. E o que vem do maligno merece castigo absolutamente. Quem não teve alguma vez inveja de seu amigo? Pois isto nos faz piores que os gentios e os publicanos; e quem é pior que gentios e publicanos não há de escapar ao castigo, coisa patente a todo mundo. Quem desterrou de seu coração todo o rastro de rancor e perdoou os pecados de todos os que lhe ofenderam? Pois que quem não perdoar há de ser forçosamente entregue aos tormentos, nenhum ouvinte de Cristo ousará contradizer. Quem não serviu a Mammon? Pois quem serve a Mammom, forçosamente há de se negar ao serviço de Cristo, e aquele que renega o serviço de Cristo, forçosamente há de renegar sua própria salvação. Quem não maldisse ocultamente? Pois aos maledicentes, mesmo a antiga lei ordena que se lhes tire a vida e lhes passe a espada.

Pois bem, que consolo temos de nossos próprios males? Somente ver que todos, como que de comum acordo, se precipitam no abismo da maldade, quando isto justamente é a prova maior da enfermidade que nos aflige, pois tomamos como consolo de nossos males o que deveria ser motivo de maior dor! Na verdade, ter muitos como companheiros de pecado, não nos absolve de culpa, nem nos isenta de castigo.

Mas se alguém se desespera com o que já disse, aguarde um pouco e, quando lhe dissermos coisas ainda mais graves que estas, se desesperará ainda mais. Por exemplo, os perjúrios. Porque o jurar já é coisa diabólica, que castigo não nos acarretará o pisotear os juramentos? Se chamar alguém de néscio leva de pronto ao inferno, o que dizer de quem se desata em injúrias contra a seu irmão, que muitas vezes não lhe terá ofendido em nada? Se o mero rancor é digno de castigo, que tormento não merecerá o tomar vingança?

Porém não falemos ainda sobre isto, mas aguardemos para tratá-lo em seu devido tempo. Porque – deixando de lado as demais coisas – o próprio fato de estarmos obrigados a compor o presente discurso não é por si só prova suficiente da gravidade da enfermidade que nos aflige? Já é um limite extremo de malícia não sentir remorso dos próprios pecados e cometê-los sem dor alguma. Pois onde colocaremos estes novíssimos legisladores de uma nova e absurdíssima ordem de coisas que desterram com mais rigor aos mestres da virtude que outros aos do vício, e declaram uma guerra mais terrível aos que tentam corrigir o pecado e não àqueles que o cometem? Ou melhor dizendo, por estes não se incomodam nem pouco nem muito e nem lhes dirigem jamais uma reprovação; quanto aos outros, todavia, de boa vontade os comeriam vivos e só falta que se lancem pelas ruas gritando e pregando com seus ditos e feitos que é mister agarrar-se com unhas e dentes à maldade e não voltar jamais à virtude; e não parece que devam castigar só aos que a praticam, senão mesmo aos que se atrevem a abrir a boca em favor dela.

São João Crisóstomo

Contra os impugnadores da vida monástica”, d. I, c. 12

 

“O mundo sob a tirania do pecado”

São João Crisóstomo

Porque, na verdade, não penses que a situação do mundo é agora melhor que a de uma cidade sob o domínio de um tirano, mas muito pior. Não um homem, mas algum demônio maligno se apoderou como um tirano feroz de toda a terra e invadiu com toda a sua hoste as almas dos homens, e dali, como de uma cidadela, dita a todo o mundo suas ordens abomináveis e sacrílegas: Desfaz casamentos, saqueia riquezas, executa mortes iníquas e, o que é muito mais grave, separa do trato com Deus a alma que com Ele se desposara e a entrega a seus guardas impuros e a obriga que se una a eles.

E estes, uma vez que se tenham apoderado de uma destas almas, têm com ela trato tão vergonhoso e insolente qual se pode supor de demônios perversos, que ardente e furiosamente desejam nossa perdição e desonra. Despem-na de todas as vestes da virtude, e cobrem-na com os farrapos dos vícios, imundos, despedaçados e fedorentos que a deixam mais feia que a própria nudez e, depois de enchê-la com toda a sua impureza diabólica, ainda não se dão por satisfeitos em suas insolências contra ela.

E é assim que não conhecem saciedade neste sacrílego e adúltero convívio, senão o modo de agir de bêbados que quanto mais bebem mais ficam sedentos, assim estes, quanto mais abusam da alma, tanto mais se enfurecem e com mais violência e ferocidade saltam sobre ela, rasgando-a e mordendo-a por todas as partes, inoculando seu próprio veneno e não a abandonando, enfim, até vê-la convertida em demônio como eles separada do corpo.

Pois, que tirania, que prisão, que destruição, que escravidão, que guerra, que naufrágio, que fome pode ser mais dura que semelhante estado? E quem será tão cruel e feroz, quem tão tolo, quem tão desumano, tão alheio à dor e à compaixão que, o quanto estiver em suas mãos, não queira livrar uma alma assim ultrajada e maltratada daquela sacrílega fúria e insolência, mas que consinta vê-la sofrer tudo isso? Mas se o consentimento for de uma alma feroz e de pedra, onde colocaremos, dize-me, os que não só o consentem, mas os que cometem crimes muito maiores que este?

E é a quem tem coragem de se lançar no meio dos perigos e não se importam de meter a mão na cara da fera, sem considerar o mal cheiro e o perigo, para arrancar da garganta do demônio as almas que já tinham devorado; a estes, digo, não só não os louvam nem aprovam, mas os expulsam de todas as partes e lhes declaram a guerra.

São João Crisóstomo

Contra os impugnadores da vida monástica”, disc. 1, c. 10

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São João Crisóstomo,
rogai por nós

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com  e  www.rainhamaria.com.br

 


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