Eutanásia de crianças na rica e desenvolvida Holanda gera perplexidade!


27.06.2013 -

n/d

Carta de um jovem, Giovanni Bonizio, deficiente de 24 anos, da Comunidade de Santo Egídio, em Roma, ao jornal italiano católico “Avvenire”.

A carta refere-se a um debate sobre a aprovação da eutanásia, em particular após a aprovação dessa medida para crianças na Holanda.


Queridos leitores:

Chamo-me Giovanni Cicconi Bonizio: vivo em Roma, tenho 24 anos. Há um tempo, em vários jornais italianos, publicaram-se artigos sobre um pediatra holandês que pratica a eutanásia em crianças com distintas enfermidades ou deficiências a fim de livrar-lhes do destino de uma vida impossível e tal que não valha a pena ser vivida.

Ouvi falar de um referendo, de deixar passagem para a livre pesquisa cientifica: são outros terrenos, mas próximos ao do médico holandês. Falei com algumas pessoas e dei-me conta de que é um tema atual e que é uma posição defendida por muita gente.

Entre os casos em que o médico praticou a eutanásia está o de um menino nascido com espinha bífida (mielomeningocele). Eutanásia por “sentido profissional” e por “amor” segundo o relato. Perguntava o médico, de fato, quase com horror, num jornal: “Mas viram alguma vez um menino nascido com espinha bífida?”. Queria mudar a pergunta. Viram alguma vez crescer um menino com espinha bífida e converter-se em jovem, em adulto? Haverá visto alguma vez?

Acrescento outra: Quando é que uma vida vale a pena ser vivida? Parece-me que muitos falam como se a resposta fosse óbvia mas precisamente não é.

Evidentemente devo ser um sobrevivente. Não deveria existir: nasci com espinha bífida. Contudo, tenho uma vida feliz, intensa, também muitos amigos. Passei nos exames universitários e tenho meu diploma. Desde Junho passado trabalho Banco de interesse nacional. A minha vida é o que se diria ser “uma vida cheia de interesses”. O meu trabalho é bom, a minha família é a que muitos desejariam. Alguns problemas adicionais na vida criaram-me uma sensibilidade às dificuldades das outras pessoas e talvez por isso é que há anos saio ao encontro dos anciãos: a amizade também os ajuda a viver.

Leio, falo, escrevo, sei usar o computador como todos os jovens de minha idade. Quando nasci, poucos apostavam em mim. Felizmente houve quem me quis, verdadeiramente, e não se assustou. Pouco a pouco pude erguer-me, inclusive caminhar e fazê-lo bem. Movo-me por mim mesmo em uma cidade como Roma. Custou-me mais que aos demais, sou mais orgulhoso que os demais. Não calculo a minha inteligência (nem a do médico holandês), mas certamente posso falar, expressar o que penso, ainda que esse médico teorize que aqueles como eu não podem comunicar, e por isso seria melhor que desaparecessem.

A minha vida não é nem triste nem inútil. É certo que sofri várias intervenções cirúrgicas que me ajudaram a superar problemas de diferentes tipos e me permitiram viver o mais possível uma vida – como se diz – normal. Não foi sempre fácil; algumas vezes também sofri, mas nas camas próximas à minha havia sempre muitos outros jovens com o mesmo desejo de se curar, de comunicar, de fazer amigos e, sobretudo, de viver.

Existe, pelo contrário, uma incapacidade de conceber a vida quando há dificuldades a superar. O médico holandês, e os que pensam como ele, deverão questionar o seu medo da vida. Medo a uma vida que contém cansaço, conquista, lutas, derrotas, vitórias, e que não é só um simples crescimento biológico, talvez embriagado das últimas – mas satisfatórias – modas. Um postal “bonito” e “triunfante” que se dilui com as primeiras dificuldades da vida, onde todos exigem o seu grande sorriso e fazem “fitness” e “beach volley”.

Penso que nos deveríamos questionar um pouco mais sobre o que é verdadeiramente humano e o que não é, em lugar de ficarmos surpreendidos pelo facto de que, na nossa sociedade, aumenta o número de pessoas deprimidas, e que não se sabe o que importa de verdade aos jovens.

O problema é que nem sempre se faz tudo o que se poderia fazer para ajudar quem tem um problema, uma enfermidade, a viver melhor. É sobre isto que o médico holandês, que pensa que a eutanásia é um modo de dar dignidade à vida, deveria gastar mais energias e conhecimentos.

A eutanásia em crianças parece-me verdadeiramente horrível, porque elas não se sabem defender. Mata-se – porque é disso que se trata – os que têm defeitos sem esperar sequer que cresçam para ver o que ocorre, sem dar ao contrário aquilo que é necessário: mais ajuda a quem somente é mais fraco.

A proposta é esta: se precisamente queremos eliminar algo, então em lugar de abolir a fragilidade é melhor começarmos por abolir o medo da fragilidade que nos faz a todos mais desumanos (e mais indefesos).

Giovanni Bonizio
Comunidade de Santo Egídio, Roma

Fonte:http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/

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Na Bélgica e na Holanda a eutanásia pode ser aplicada em crianças com anomalias graves.

A Bélgica e os Países Baixos, denominados “civilizados”, rendem-se cada vez mais à eugenia.

Enquanto a prática da eutanásia pode ser aplicada na Bélgica diante das menores queixas de enfermos incuráveis, seus vizinhos holandeses não querem ficar de fora e publicaram um documento detalhado no qual os médicos explicam suas razões e oferecem diretivas a ser seguidas quando chega a hora.

“Isso já não é um campo escorregadio, mas um precipício”, comenta Emanuela Vinai, em um editorial publicado no dia 18 de julho pela agência informativa da conferência episcopal italiana SIR, no qual apresenta e analisa o documento.

O artigo explica que, com o Protocolo de Groningen, que permite aplicar a eutanásia em bebês com alguma deficiência, a Royal Dutch Medical Association (KNMG), que representa os médicos dos Países Baixos, emitiu um comunicado intitulado “Decisões médicas relativas à vida dos neonatos com anomalias graves”, que explica por que seria aceitável, e às vezes necessário, praticar a eutanásia com crianças.

Neste surpreendente documento, a associação de médicos elaborou um relatório sobre as diretrizes a serem seguidas com relação aos pequenos pacientes com doenças incuráveis.

Entre suas sugestões, dirigidas a encurtar o sofrimento das crianças e das suas famílias, é explícito o recurso à eutanásia, invocando um argumento objetivamente paradoxal: o sofrimento dos pais pode ser um motivo para aplicar a eutanásia ao filho.

De fato, diz-se, entre outras coisas, que uma injeção letal de relaxante muscular é possível sem que represente nenhum problema ético, quando “persiste uma respiração ainda ofegante e se prolonga uma morte inevitável, apesar de uma boa preparação, que provoca fortes sofrimentos nos pais”.

“A agonia é insuportável: então seria melhor ajudar a morrer do que fazer sofrer”, escreve Vinai. E acrescenta: “A pergunta que não quer calar: de quem estamos falando? Quem é o sujeito da frase?”.

“Alguns textos não são simples dissertações, mas documentos históricos – adverte o editorial. É fundamental entender esta inversão de valores: agora podemos matar um ser humano inocente pela simples razão de que a sua existência poderia ser dolorosa para os outros.”

Eduard Verhagen, um dos autores do informe KNMG e arquiteto do Protocolo de Groningen, explicou ao jornal holandês Volkskrant por que a angústia dos pais é importante: “Estas crianças são cinzas e frias; seus lábios se tornam azuis e, de repente, em minutos, têm respirações muito profundas. Esta situação é dolorosa de se ver; pode durar horas e, às vezes, dias”.

Então, a tarefa dos médicos é salvar os pais da “abominação” de ver seu próprio filho morrer de maneira dolorosa, segundo o Dr. Verhagen. E isso faz parte de um “cuidado paliativo” de qualidade.

No entanto, anos de estudo e de prática médica demonstraram que os cuidados paliativos são algo totalmente diferente.

O editorial do SIR acrescente que “adultos que se dizem sensatos decidem assim sobre a vida e a morte de pessoas às quais é impossível expressar seu desacordo. Hoje se fala de crianças com alguma deficiência grave; amanhã, poderão ser adolescentes com danos cerebrais; depois de amanhã, pessoas idosas com doenças degenerativas. Isso já não é um terreno escorregadio, mas um precipício!”.

Na Bélgica, 10 anos após a lei que descriminalizou parcialmente a eutanásia, o senado examina, desde 12 de junho, uma proposta de lei para estender esta possibilidade aos menores que dispuserem de “capacidade de discernimento”. Parece ter surgido uma maioria política a favor da proposta, apesar da oposição de dois partidos de inspiração cristã, membros da coalizão governamental.

Os bispos belgas, já opostos à de 2002, responderam com força a esta possível extensão. Considerados legalmente incapazes para certos atos, como comprar um imóvel, casar-se etc., os menores seriam de repente considerados maduros, aos olhos da lei, para causar a própria morte, “a decisão mais grave que poderia ser tomada com relação a eles”?, objeta o arcebispo André-Joseph Léonard.

Segundo uma enquete organizada por um grupo de jovens sobre a eutanásia em menores, à pergunta “Eutanásia: menor, mas livre para decidir?”, houve 13% de “sim” contra 87% de “não”.

Fonte:http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/

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