Cardeal Hummes: É difícil para o Papa aceitar tudo o que a sociedade pede


13.02.2013 - De malas prontas para viajar ao Vaticano, o cardeal dom Cláudio Hummes, 78, arcebispo emérito de São Paulo, disse que dificilmente o papa que substituirá Bento 16 mudará a forma como a igreja lida com temas considerados polêmicos, como o uso de métodos contraceptivos, a união civil entre homossexuais e as pesquisas com células-tronco.

 Dom Cláudio Hummes celebra missa em Aparecida (SP)

"Acredito que será difícil simplesmente dizer sim àquilo que é proposto pela sociedade ou pelos legisladores", disse em entrevista à Folha.

Ele defendeu, porém, o diálogo sobre os desafios contemporâneos nos campos da ciência, da medicina e da biologia, e disse que a igreja deve interpretar o Evangelho de acordo com as "situações diferenciadas da história".

D. Cláudio, que também é prefeito emérito da Congregação para o Clero, no Vaticano, é um dos cinco brasileiros que participarão do conclave para eleger o próximo papa e que também poderão ser escolhidos como substituto de Bento 16.

Leia a seguir trechos da entrevista concedida por d. Cláudio Hummes à Folha.

Folha - Como o próximo papa pode evitar a perda de fiéis em países como o Brasil, maior nação católica do mundo?

D. Cláudio Hummes - Quando o papa Bento 16 esteve aqui, foram traçadas muitas propostas nesse sentido. Depois ele insistiu muito na nova evangelização e em que a igreja deve estar muito perto do povo, sobretudo dos mais pobres. Penso que o novo papa continuará também nessa mesma linha, que aliás está sendo seguida aqui no Brasil.

Como funciona na prática?

Ir até o povo e não apenas esperar e atender aquelas pessoas que vêm à nossa paróquia, que vêm nos procurar. Nós é quem devemos organizadamente, de forma preparada, ir ao encontro do povo, visitar o povo, evangelizar o povo. Não numa forma de conflito com as igrejas evangélicas, mas fazendo o nosso trabalho com aqueles que nós batizamos.

O próximo papa poderá mudar a forma de lidar com temas como as pesquisas com células-tronco ou a união civil entre homossexuais?

A igreja não pode mudar o Evangelho que recebeu de Jesus Cristo. Ela deve procurar interpretá-lo e pôr em prática nas situações diferenciadas da história. Sabemos que hoje existem muitos desafios novos nos campos da ciência, da medicina, da biologia. São campos sobre os quais a gente tem que dialogar.
Mas acredito que será difícil simplesmente dizer sim àquilo que é proposto pela sociedade ou pelos legisladores hoje em dia.

O senhor participará do conclave para eleger o próximo papa e poderá inclusive ser votado. Acredita ter muitas chances de ser escolhido?

Eu não acredito. Independente disso, eu espero que [o papa eleito] seja um homem mais novo. Nós tivemos um papa muito jovem, João Paulo 2º, que foi eleito com 58 anos, e depois um papa muito idoso, o Bento 16, eleito com 78 anos. Espero agora que encontremos a média.

Qual seria a idade ideal?

Lá pelos 65 seria uma boa idade, mas isso é um critério menor, não é o prioritário. O importante é que o papa que seja eleito seja um homem de Deus, um homem de fé. Existem bons candidatos.

O senhor acredita que, a partir de agora, a renúncia de papas poderá ser mais frequente?

Acho que será mais fácil para eles tomarem eventualmente tal decisão. Era difícil uma primeira vez depois de quase 600 anos. A gente entende como deve ter sido difícil. Mas já que este papa é muito racional e ao mesmo tempo um santo homem, ele conseguiu tomar essa decisão. Isso de fato abre portas.

Qual será a importância da visita do próximo papa ao Brasil, prevista para julho?

Em primeiro lugar, a própria visita e o encontro com os jovens. Depois o fato de ser um papa recente, e certamente será uma das primeiras viagens, se não a primeira viagem internacional que ele fará, então tanto mais importante. E nós ficaremos muito felizes de tê-lo aqui, porque o Brasil é muito importante.

Fonte: Folha SP

============================================

Leia também...

Papa Bento XVI se despedirá de fiéis em audiência no dia 27 de fevereiro

Problemas políticos também motivaram renúncia do Papa, diz vaticanista

Papa Bento XVI anuncia sua renúncia no dia 28 de fevereiro

ão Malaquias e a Profecia dos Papas: Bento XVI é marcado como penúltimo

 


Rainha Maria - Todos os direitos reservados
É autorizada a divulgação de matérias desde que seja informada a fonte.
https://www.rainhamaria.com.br

PluGzOne