22.12.2012 - Reportagem da Revista ISTOÉ, edição de Dezembro 2012.
Milhões de católicos e evangélicos estão usando a internet para se aconselhar com padres e pastores, assistir a missas e cultos e tirar dúvidas sobre a doutrina cristã. Como esse novo hábito está mudando a relação dos fiéis com as igrejas
Em visita à Itália, há dez anos, o padre carmelita brasileiro Reginaldo Manzotti perambulava pela cidade do Vaticano, a sede mundial do catolicismo, quando resolveu entrar em uma igreja para fazer uma oração. Para sua surpresa, o religioso descobriu que era proibido acender velas de cera dentro daquele templo. Os fiéis só podiam se valer das artificiais, que funcionam com lâmpadas, acionadas por moedas. Imediatamente, Manzotti pensou: “Se em Roma é válido eu acender uma vela que não queima ou faz fumaça, por que não criar uma vela pela internet?” Uma década depois, o pároco do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba, no Paraná, é um dos sacerdotes brasileiros mais atentos às possibilidades da evangelização digital. Aos 42 anos, é dono de um blog, possui perfil no Facebook, conta no Twitter e atua em rádio e tevê. Seu site recebe cerca de 1,1 milhão de visitas por mês, de gente que se vale dos rituais online disponíveis em um santuário virtual. Nesse espaço, a procura por serviços religiosos digitais só cresce (leia quadro). No mês passado, por exemplo, 148 mil pessoas acenderam uma vela via computador, 12 mil a mais do que no mês anterior. “É um novo modo de ser religioso”, afirma o padre Evaldo César de Souza, 35 anos, que dirige o portal A12 do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo, outro que possibilita que sejam feitas novenas, vias-sacras e pedidos de orações virtuais.
AVATAR
Depois de criar um santuário virtual em seu site, o padre
Reginaldo Manzotti pensa em casar pessoas pela internet
Ainda não foram produzidas estatísticas capazes de medir o universo do fiel-internauta que procura Deus com o auxílio de um intermediário tecnológico. A rápida disseminação dessa prática entre católicos e evangélicos, porém, é visível e tem pautado estudiosos em comunicação religiosa. Somente nos dois últimos meses, quatro obras que investigam o tema passaram a ocupar as prateleiras do País. Autor de “E o Verbo Se Fez Bit”– a Comunicação e a Experiência Religiosas na Internet” (Editora Santuário), Moisés Sbardelotto verificou uma revolução ao pesquisar como se dava a manifestação religiosa em quatro sites católicos brasileiros. De acordo com ele, o fiel se transformou em coprodutor da própria fé, enquanto a Igreja, em vez de exigir obediência estrita, passou a conceder uma autonomia regulada e permitir, de certa forma, que um membro construa sua própria religiosidade.
Foi o que fez a católica Dulce Ponciano, 59 anos, da cidade de Governador Valadares (MG). Vivendo a cerca de três mil quilômetros de distância do santuário do padre Manzotti, ela criou um perfil no Facebook no ano passado, para interagir com esse sacerdote. Mas se viu, também, solta para dialogar sobre a sua religiosidade, inclusive com pessoas de outras denominações religiosas. Pela internet, então, Dulce ouve o programa de rádio do padre Manzotti ao mesmo tempo que posta as orações. Quase simultaneamente, seus textos são comentados pelo grupo de oração virtual criado por ela, composto por cinco mil membros. “Agora, posso expressar a minha fé de uma maneira mais livre”, diz. “Na igreja, a gente participa, mas não interage. Já a internet é uma grande catequese, uma sala de aula onde a gente debate e aprende.”
Essa desregulação social que marca os espaços disponíveis na rede coloca o fiel-internauta em contato com pessoas de diversas crenças, o que ocorreria em menor grau se ele estivesse dentro de uma igreja física. Está aí o ambiente perfeito para a pluralização religiosa. Sem a vigilância eclesiástica presente, aqueles que preferem não assumir compromissos institucionais com alguma denominação e querem crer sem pertencer se sentem em casa. Outro dado marcante desse novo modelo de vivenciar a fé: a possibilidade de o fiel se expressar de forma anônima via internet permite ao usuário confrontar posições de um líder religioso – ali, em forma de avatar – sem cerimônia, com audácia e coragem. A internet dá poder ao fiel perante as religiões. “No geral, uma denominação não fideliza o devoto por meio de rituais religiosos virtuais”, afirma José Rogério Lopes, da pós-graduação em ciências sociais na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). “Mas essas ferramentas são essenciais para a manutenção diária dos rebanhos.”
Padre Souza, do portal A12 de Nossa Senhora Aparecida, não acha que uma pessoa possa se satisfazer apenas com o consumo da religião pela internet. Mas há os que estreitam a relação com uma denominação religiosa depois de exercitar a fé no mundo virtual. Terapeuta pedagógica, a católica paulista Lourdes Santana, 47 anos, voltou a frequentar uma paróquia nas proximidades de sua casa após passar a acender velas, participar de novenas e escutar programas no ciberespaço. “Pela internet fortaleci a minha religiosidade”, diz ela, que agora vai à missa todos os domingos.
A evangélica paulista Amanda Santos frequenta a igreja Renascer em Cristo há oito meses. Fisicamente, faz isso toda quarta-feira e domingo. “Ir à igreja é necessário porque é lá que você ouve a voz de Deus”, diz ela, que é designer digital. Virtualmente, Amanda assiste às celebrações diariamente. “Enquanto trabalho, faço download de cultos no site e ainda envio as pregações para outras pessoas.” Aos 22 anos, Amanda também consegue se comunicar com líderes da Renascer via Facebook e SMS, quando precisa de alguma orientação espiritual para um assunto que a angustia. Ela não é a única que se utiliza de instrumentos desse tipo. Uma pesquisa recente mediu o alcance dos ambientes digitais a serviço da fé dos brasileiros. Depois de ouvir duas mil pessoas em oito países, o estudo, que investigou os hábitos dos usuários de dispositivos móveis e foi encomendado pela empresa de tecnologia Intel, apontou o Brasil como o lugar onde mais se discute religião por celular e tablet.
Os brasileiros lideram o ranking com 39% dos entrevistados, seguidos de australianos (8%), franceses (3%) e japoneses (1%). Ciente, portanto, de que precisa divulgar o evangelho também no mundo digital, até o papa Bento XVI, que tem o hábito de escrever à mão seus discursos e outros documentos, inaugurou este mês a sua conta no Twitter. No ano passado, ao passar a emprestar iPods aos peregrinos que visitassem a Basílica de São João de Latrão, o Vaticano já havia dado outro passo para se aproximar daqueles que se valem de recursos tecnológicos. Por meio de um aplicativo disponível no aparelho, o fiel passou a ser guiado de forma digital pela catedral da Diocese de Roma, considerada a mãe de todas as igrejas do mundo. Atrair a comunidade jovem seria uma das intenções desse novo recurso. Assim como fez o papa, que agora é seguido por mais de 1,2 milhão de pessoas no Twitter. Essa atitude do pontífice, porém, soa mais como uma mensagem de sintonia da Santa Sé com as novas tecnologias do que como uma estratégia de mercado, segundo o professor Airton Jungblut, da pós-graduação em ciências sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Para ele, mais do que procurar Jesus na internet, o fiel-internauta busca se sociabilizar para discutir os pontos de sua fé com outras pessoas, informar-se e dar sentido ao que crê.
Não à toa, portanto, disponibilizar ao cristão instrumentos tecnológicos que lhe permitam estabelecer relacionamentos tem mais impacto do que apenas passar informações sobre o Antigo e o Novo Testamento. “Não temos a intenção de conquistar fiéis pela internet, mas prolongar a experiência de fé das pessoas”, afirma o padre Souza, do portal A12. “Mas, nesse ambiente de secularismo, se o catolicismo quiser que a religião continue viva em alguém, tem de se fazer presente também no mundo virtual.” Católicos, no entanto, esbarram num entrave histórico. Muitos sacramentos no cristianismo têm sua essência na celebração da memória e da presença de Cristo. Dessa forma, batismos, crismas, unção dos enfermos, ordenações e confissões requerem a presença do fiel e, portanto, não são validados pela internet. Mesmo assim seguidores do padre Manzotti a todo momento pedem para que ele inaugure um canal de confissão online pela webcam.
No documento “A Igreja e a internet”, do Pontifício Conselho das Comunicações Sociais, a visão do Vaticano é incontestável: “A realidade virtual não pode substituir a real presença de Cristo na Eucaristia. Na internet não existem sacramentos.” O sacerdote Manzotti, porém, arrisca-se a dizer que seria viável o casamento pela internet. “A matéria do matrimônio está nos noivos e não no líder religioso. É possível que se dê a bênção a distância”, diz ele. Enquanto os católicos são engessados por sua doutrina, os evangélicos ousam mais. A igreja Renascer em Cristo, por exemplo, disponibiliza em seu portal um chat online, pelo qual o fiel pode receber conselhos de um presbítero ou pastor. Apesar do engajamento online, a internet não irá substituir a igreja concreta, asseguram os estudiosos de religião. Por outro lado, está claro que o fuso horário do ambiente virtual é diferente do mundo real. E, quando um templo fecha a sua porta no começo da noite, é cada vez mais de olho em uma tela de computador que o povo de Deus tem procurado apoio para curar as suas feridas. (fim)
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Diz na Sagrada Escritura:
"É, porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar aos homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Cristo". (Gálatas 1,10)
Nas aparições em Fátima, 1917, Nossa Senhora antecipou:
“Virão modas que ofenderão muito a Deus... O Céu não tem modas, o mundo as tem todas...”
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