06.11.2012 -
Embora almejemos a Pátria Celeste, e passemos por este mundo na condição de meros peregrinos, esta vida é, nas palavras do beato João Paulo II na carta encíclica Evangelium Vitae, uma “realidade sagrada”, cujo reconhecimento encontra eco no coração não só da comunidade dos crentes, mas também daqueles que não creem. Afinal,
“
Mesmo por entre dificuldades e incertezas, todo o homem sinceramente aberto à verdade e ao bem pode, pela luz da razão e com o secreto influxo da graça, chegar a reconhecer, na lei natural inscrita no coração (cf. Rm 2, 14-15), o valor sagrado da vida humana desde o seu início até ao seu termo, e afirmar o direito que todo o ser humano tem de ver plenamente respeitado este seu bem primário. Sobre o reconhecimento de tal direito é que se funda a convivência humana e a própria comunidade política.”
- Beato João Paulo II, Evangelium Vitae, n. 2
Por isto, a luta em defesa da dignidade da vida humana, desde a concepção até o seu fim natural, é algo do qual todos os homens de boa vontade não podem, sem grave culpa, se eximir – especialmente em nossos tempos, em que uma visão utilitarista sobre o ser humano se alastra despudoradamente pelos veículos promotores de cultura.
A própria noção de vida é barbaramente manipulada em favor de interesses pessoais ou políticos, como se aquela fosse um conceito puramente abstrato, como se fosse perfeitamente normal chamar algo que é marca escancarada da “cultura de morte” de direitos humanos – as grandes organizações internacionais que o digam. É isto o que podemos notar com relação ao discurso dos defensores da descriminalização do aborto, por exemplo. Não se pode nem mais chamá-los pelos termos que lhes são próprios, sob o risco de ser taxado de preconceituoso ou intolerante. Alegam, pegando exemplos particulares, que o sufixo “ismo” é característico de doenças ou fenômenos ruins – e, por isto, chamar-lhes de “abortistas” ou denunciarem o seu abortismo, seria, inclusive, conduta criminosa (!). Frequentemente dizem-se favoráveis à vida. No entanto, à pergunta objetiva “Você é a favor da legalização do aborto?”, respondem com um vago “Estou do lado da vida…”, mesmo que se siga a isto um discurso feminista, agressivo, assassino.
Foi o próprio João Paulo II que manifestou sua preocupação com relação a estas ideias perversas, que tentam justificar o injustificável, abonar o que é mau, legalizar o que é criminoso.
“Com as perspectivas abertas pelo progresso científico e tecnológico, nascem outras formas de atentados à dignidade do ser humano, enquanto se delineia e consolida uma nova situação cultural que dá aos crimes contra a vida um aspecto inédito e — se é possível — ainda mais iníquo, suscitando novas e graves preocupações: amplos setores da opinião pública justificam alguns crimes contra a vida em nome dos direitos da liberdade individual e, sobre tal pressuposto, pretendem não só a sua impunidade mas ainda a própria autorização da parte do Estado para os praticar com absoluta liberdade e, mais, com a colaboração gratuita dos Serviços de Saúde.”
- Evangelium Vitae, n. 4
Abre-se largamente a estrada em direção ao aborto, sustentando-se obstinadamente que “as mulheres tem direito sobre o seu próprio corpo” – mesmo que a genética e o estudo da embriologia já demonstrem que, desde o momento da concepção, há, no útero feminino, um ser humano completo, que já possui em seu material genético todos os genes que definirão suas características físicas, alguns aspectos de sua personalidade, e até mesmo doenças herdadas do pai ou da mãe.
Porém, ainda assim, há, por parte de alguns, a infame ousadia de dizer que as lutas destes movimentos pró-aborto são perfeitamente compatíveis com a vida…
Só que não, “aborto” – “eutanásia”, também – e “vida” não cabem juntos na mesma frase. Se uma pessoa deseja militar pela vida, deve ver além da liberdade das pessoas. Uma sociedade que contemple isto, mas, ao mesmo tempo, esqueça o inalienável direito à vida; que deixe de valorizar o homem pelo que ele realmente é – ser humano, de dignidade própria e intrínseca ao seu ser – para enxergar a humanidade através do prisma limitado de suas ações ou condutas, vai acabar por descartar seus membros mais frágeis. Como vem acontecendo na Europa… e como pode vir a acontecer no Brasil, caso continuemos aderindo ao relativismo moral ou hesitando em participar do debate político.
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com/