14.09.2012 - O Servo de Javé, figura misteriosa do Antigo Testamento em quem, alguns dos santos Padres vêem a figura de Cristo no mistério da Sua Paixão, é uma pregação viva sobre a virtude da fortaleza.
A fortaleza é uma virtude humana e cristã. «Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam.»
A fortaleza é uma das quatro virtudes cardiais e é também um dom do Espírito Santo que nos ajuda a participar da fortaleza de Jesus Cristo, levando-nos, nas situações de dificuldade, a assumir um comportamento como se Ele estivesse em nosso lugar.
Atua em dois sentidos: leva-nos a aguentar firmemente, quando tentam fazer-nos recuar do lugar onde o Senhor nos quer; e leva-nos a empreender coisas difíceis por Seu amor.
A nossa vontade foi enfraquecida pelo pecado original e pelos pecados pessoais. Muitas vezes acovardamo-nos e recuamos de uma posição em que Deus nos queria firmes; outras, renunciamos a fazer o bem quando a vontade de Deus no-lo pedia.
Um exemplo gráfico da virtude da Fortaleza são os mártires de todos os tempos. Conscientes de que Deus queria o seu testemunho – mártir quer dizer isto mesmo – nada os fez demover de confessar a sua fidelidade a Jesus Cristo.
Exemplos de Fortaleza são também os pais e os evangelizadores de todos os tempos, empreendendo coisas difíceis, rodeados de mil obstáculos, para fazer o que Deus quer.
Na verdade, não há qualquer virtude, se não houver a da Fortaleza, porque falta a constância no bem, condição para que haja uma virtude.
Sem a fortaleza não podemos seguir a Cristo. «Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio e por isso não fiquei envergonhado.»
A fortaleza é-nos indispensável nos caminhos de Deus e até no simples caminhar humano, porque estamos «doentes»: temos inclinações para o mal e custa-nos a perseverança no bem.
Cada um de nós experimenta a dura realidade de que fala S. Paulo: «Eu não faço todo o bem que quero e faço algum mal que não quero. Quem me libertará este corpo e morte?» (Romanos 7, 15).
Não se trata de andar à procura do que custa, mas de suportar com fortaleza no caminho do bem e da virtude, também quando nos passou o entusiasmo, estamos cansados ou sentimos a tentação de abandonar tudo.
Nos caminhos da vida, temos de imitar os atletas: com exercício sucessivos, eles vão conquistando o domínio sobre o corpo e o controle dos seus movimentos. Temos de exercitar e fortalecer a vontade, renunciando, de vez em quando, a pequenas coisas lícitas, para conseguirmos, quando é preciso, vencer em coisas ilícitas.
A Fortaleza vem-nos de Deus. Reconheçamo-lo com humildade e peçamo-la instantemente ao Senhor, especialmente quando se nos apresentar uma batalha difícil de vencer.
A virtude da Fortaleza nos leva a abraçar a cruz da vida. «O Senhor Deus vem em meu auxílio. Quem ousará condenar-me?»
Devemos compreender que o Senhor não nos propõe uma cruz ideal, mas a cruz real que temos aos ombros: a realidade nem sempre agradável dos que vivem conosco; a maior ou menor qualidade de vida, com as suas normais limitações; as exigências da vida em família que nos obrigam, muitas vezes, a renunciar aos próprios gostos; o trabalho, que nem sempre é aquele de que mais gostamos; as limitações pessoais e as do ambiente.
O que o Senhor nos propõe é que procuremos ser realistas, abraçando a cruz de cada dia, sem sonhos nem outros modos de fuga, procurando santificar-nos com as realidades de cada dia.
O Evangelho deste domingo coloca frente a frente a lógica dos homens (Pedro) e a lógica de Deus (Jesus).
A lógica dos homens aposta no poder, no domínio, no triunfo, no êxito; garante-nos que a vida só tem sentido se estivermos do lado dos vencedores, se tivermos dinheiro em abundância, se formos reconhecidos e incensados pelas multidões, se tivermos acesso às festas onde se reúne a alta sociedade, se tivermos lugar no conselho de administração da empresa.
A lógica de Deus aposta na entrega da vida a Deus e aos irmãos; garante-nos que a vida só faz sentido se assumirmos os valores do Reino e vivermos no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade, na humildade, na simplicidade.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo de Frederico Westphalen RS
Fonte: http://encontrocomobispo.blogspot.com.br
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