Artigo do Padre José do Vale: Perdas e Crescimento de Fiéis


13.07.2012 - Depois de duas décadas estudando o crescimento dos Novos Movimentos Religiosos, nada me surpreende e não vejo novidades no tamanho do rebanho das religiões, denominações e seitas.
É notório a perda de fiéis das Igrejas Tradicionais, ou Históricas, hoje e no futuro.

Para o crescimento dos adeptos são fundamentais:

1. Conhecimento e mística. A Religião do futuro é a do conhecimento e da mística abissal. Conectar espiritualidade com ciência. Fé e Razão para via contemplativa. Inteligência e transcendência hipotalássica.
2. Ortodoxia com caridade. Verdade, amor, justiça e solidariedade com os menos favorecidos. A fé e a felicidade para bem-estar total do ser humano. A meta é incluir no rebanho com amor.
3. Marketing. Profissionais gabaritados para passar a mensagem. Clérigos e leigos com alta formação em comunicação. Tendo retorno absoluto por ocupar a mídia com profissionalismo. Disse o Papa Bento XVI: “Há uma necessidade constante de equilibrar o rigor intelectual na comunicação eficaz, atraente e integral da riqueza da fé da Igreja” (L’osservatore Romano, 12/05/2012, p. 13).

BUROCRATIZAÇÃO E PERDAS

O Brasil, com frequência apontando como maior país católico do mundo registrou pela primeira vez na história dos Censos do IBGE queda no número absoluto de pessoas que se declaram assim. Nas décadas anteriores, o instituto já registrava uma diminuição proporcional, mas isso acontecia porque eles cresciam e ritmo menor do que outros, perdendo, portanto, espaço relativo no total da população. Desta vez, no entanto, houve diminuição de 1,6 milhões de fiéis de 2000 para 2010. No mesmo período, evangélicos aumentaram em 16 milhões, de 15% para 22%. Os sem religião também ganharam mais espaço: de 7,4% para8%. Apesar da queda, católicos ainda são o grupo predominante no país, com 65% do total. No Rio de Janeiro, no entanto, pela primeira vez eles aparecem com menos de 50% da população do estado (1).
Segundo o cientista político Cesar Romero Jacob, professor da Puc – Rio, o crescimento dos pentecostais no Brasil se deu nas periferias das regiões metropolitanas – o que Jacob chama de “anel pentecostal” – e na fronteira agrícola – mineral do país, no Norte.
“A Igreja Católica também não conseguiu acompanhar essa migração, por não ter estrutura nessas áreas e ter um perfil centralizado e burocrático”, diz Jacob.
Representante da CNBB, o padre Jesuíta Thirry Linard, que é demógrafo e geógrafo, admite que a Igreja Católica não soube acompanhar, por exemplo, migrações no pais e as mudanças que elas provocaram: “A Igreja se instalou confortavelmente nas paróquias, precisa voltar a ser mais missionária e menos centralizadora”, afirma Pe. Thierry (2).
Para o filósofo e professor de Ciências da religião na PUC-SP, Luiz Felipe Pondé: “A Igreja Católica sempre foi marcada por uma grande lentidão protocolar e burocrática que se manifesta por meio de ausência de verdade decisória” (3).
                  

OPÇÃO PENTECOSTAL

Segundo pesquisador Ricardo Mariano, professor de sociologia da PUC-RS, a queda da população que se diz católica se confunde com o crescimento das evangélicas. Para o sociólogo, “os pentecostais crescem na seara católica”.
O crescimento das denominações neopentecostais também vem junto com outro fenômeno, a chamada nova classe média. As neopentecostais têm uma teologia da prosperidade, que vai ao encontro dessa nova classe econômica. A pregação pentecostal alcança os corações das famílias que recebem a “Bolsa Família” e da nova classe média.
O livro para Entender o Catolicismo Hoje de Luiz Felipe de Pondé, está escrito na página 92.
“Enquanto a Igreja Católica se perdeu durante anos numa pastoral política, buscando doutrinar os fiéis em conceitos como revolução social (a chamada “opção pelos pobres” da Teologia da Libertação), os pentecostais trabalham o cotidiano da cozinha, ampliando seu poder de inserção na cultura concreta do dia a dia dos fiéis. Essa opção de mercado mais bem – sucedida da pastoral pentecostalismo é muitas vezes descrita ironicamente da seguinte maneira: “Enquanto a Igreja Católica fez uma opção pelos pobres, os pobres fizeram uma opção pelo pentecostalismo”.
“A Igreja Católica será obrigada a levar em conta o sucesso pentecostal em sua reação aos excessos da politização do catolicismo na América Latina, ainda que oficialmente ela jamais tenha reconhecido que teria aprendido algo com os pentecostais em termos de técnicas pastorais”.
                        

CONCLUSÃO

“O sábio conquista as pessoas” (Pr 11,30). “Todo aquele que tem será dado e terá em abundância” (Mt 25,29). A religião sábia e abundante é aquela com seus grandes templos, patrimônios, potentes meios de comunicação, excelentes centros de formação para seus líderes, crescimento consistente de fiéis, trabalhos em prol da justiça social e obras de caridades.
“Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos” (Mt 28,19). “Sereis minhas testemunha até os confins da terra” (At 1,8).
O crescimento dos fiéis é visto pelo tamanho da conquista da obra evangelística e missionária. Para todo empreendimento colossal requer mente sábia, visão grandiosa e muito trabalho. Na missão em prol da salvação das almas tudo deve ser posto sem demora e com esmero para o bem da humanidade.

Pe. Inácio José do Vale
Pesquisador de Seitas
Sociólogo em Ciência da Religião
Professor de História da Igreja
Instituto Teológico Bento XVI
EFOR - Escola de Formação de Resende
E-mail: [email protected]

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NOTAS

(1) O Globo, 30/06/2012, p.1.
(2) O Globo, 30/06/2012, p.3
(3) Pondé, Luiz Felipe. Para entender o catolicismo hoje. São Paulo: Benvirá, 2011, p.87.
 


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