09.07.2012 - O profeta é chamado por Deus para uma missão, quase sempre exigente, trabalhosa e difícil.
Apesar da sua fragilidade, Deus o escolheu e o enviou. A mensagem que irá transmitir não é sua. Por isso Deus lhe pede escuta, docilidade e fidelidade no anúncio, no ensino e no testemunho.
Perante tal missão e na consciência da sua pobreza e fragilidade ele deve munir-se de profunda confiança em Deus; ser pessoa de oração e de escuta da Palavra de Deus; deve possuir consciência de solidariedade e se preocupar com o destino dos outros. E na fidelidade à verdade da mensagem, estar disponível para se fazer doação total, dando se for necessário, a própria vida.
A mensagem que Deus lhe pede é de convite à conversão: purificador da Aliança, anunciador da santidade e beleza de Deus, trabalhador incansável da dignidade humana, libertador dos esquemas de morte, dinâmico colaborador no apontar para Jesus Cristo.
Quase sempre, na boa tradição profética, o esperará o desprezo, a rejeição, a eliminação, a perseguição e, às vezes, a própria morte.
Jesus Cristo apresenta-se com uma beleza magnífica. O quadro do Evangelho de hoje apresenta-nos a sua dignidade humana, a serenidade e novidade das suas atitudes e palavras, o cumprimento da mais genuína tradição profética.
O filho do carpinteiro, sem nome, talvez a fazer referência a que José já não vivia. E o salientar do «filho de Maria» em que o evangelista apela à sua concepção virginal e sua divindade, realçam quanto o nosso Deus amou a nossa humanidade e se fez igual a nós.
Deus fala-nos por seu Filho. E quantas vezes o Pai dá testemunho d’Ele e nos pede para O escutarmos! E também o Espírito Santo dá testemunho ao conduzir-nos ao ato mais belo da nossa fé: crer que Jesus Cristo é o verdadeiro Filho de Deus e Filho de Maria. E Paulo nos dá um testemunho belo de profunda confiança e entrega.
Em Cristo mensageiro e mensagem se identificam. Ele comunica por palavras e por gestos a novidade do amor de Deus.
A Palavra de Deus chega hoje até nós através da palavra humana, de pessoas que apresentam garantias e são testemunhas credíveis.
Pelo batismo, em nós nasceu a vocação de profeta. Ser pessoa em quem Deus confia os seus mistérios de amor: anunciando e denunciando; construindo e destruindo.
O encontro com Cristo não é um acontecimento meramente pessoal, fechado no âmbito de uma espiritualidade amuralhada e egoísta. Pelo contrário o encontro e a relação pessoal com Cristo é dinamismo de caminhada, de construção e de anúncio de uma maravilhosa noticia: o Evangelho ao serviço e como proposta para todos.
A consciência de ser profeta desperta a pessoa para um cristianismo vivo, dinâmico e audaz.
A nossa vida e missão devem ser compromisso e consciência de que somos enviados a um mundo, muitas vezes, fechado à fé, fechado a Cristo. E ter em conta que apesar das nossas limitações e fragilidades Deus quer contar conosco, desde que nós contemos com Ele.
Mas é preciso ser profeta para ser livre! Convidar à conversão, chamando o pecado pelo seu nome, assinalar os perigos, enfrentar os poderosos ou esquemas de pecado exige verdadeira liberdade. Liberdade dos filhos de Deus!
Ao profeta não se lhe pedem frutos, mas que seja fiel e que se apresente como profeta para que vejam que há um profeta entre eles.
Também não se pode esperar reconhecimento e gratidão. Esses, se Deus quiser, virão mais tarde, traduzindo e gravando, como a palavra foi guardada, acolhida e companheira de caminhada, no mais aparente fracasso!
É um convite fantástico a aceitarmos a graça de Deus. Só em Deus tudo podemos e a obra não é nossa! Somos, tantas vezes, tentados em colocar o êxito nas técnicas e nos talentos naturais, quando na verdade só Deus basta e quem a Deus tem nada lhe falta.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller - Bispo de Frederico Westphalen (RS)
Fonte: http://encontrocomobispo.blogspot.com.br
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