19.06.2012 - “Com base numa apreciação cada vez mais profunda das fontes da Liturgia, o Concílio promoveu a participação plena e ativa dos fiéis no Sacrifício Eucarístico. Hoje, olhando os desejos então expressos pelos Padres Conciliares sobre a renovação litúrgica à luz da experiência da Igreja universal no período transcorrido, é claro que uma grande parte foi alcançada; mas vê-se igualmente que houve muitos equívocos e irregularidades. A renovação das formas externas, desejada pelos Padres Conciliares, visava tornar mais fácil a penetração na profundidade íntima do mistério; o seu verdadeiro objetivo era levar as pessoas a um encontro pessoal com o Senhor presente na Eucaristia, e portanto com o Deus vivo, de modo que, através deste contato com o amor de Cristo, o amor mútuo dos seus irmãos e irmãs também pudesse crescer. Todavia, não raro, a revisão das formas litúrgicas manteve-se a um nível exterior e a ‘participação ativa’ foi confundida com o agitar-se externamente. Por isso, ainda há muito a fazer na senda duma real renovação litúrgica. Num mundo em mudança, obcecado cada vez mais com as coisas materiais, precisamos de aprender a reconhecer de novo a presença misteriosa do Senhor Ressuscitado, o único que pode dar respiração e profundidade à nossa vida.”
“A Eucaristia é o culto da Igreja inteira, mas requer também pleno empenho de cada cristão na missão da Igreja; encerra um apelo a sermos o povo santo de Deus, mas chama também cada um à santidade individual; deve ser celebrada com grande alegria e simplicidade, mas também de forma quanto possível digna e reverente; convida-nos a arrepender dos nossos pecados, mas também a perdoar aos nossos irmãos e irmãs; une-nos a todos no Espírito, mas também nos ordena, no mesmo Espírito, de levar a boa nova da salvação aos outros.”
- Papa Bento XVI, na conclusão do 50º Congresso
Eucarístico Internacional em Dublin
17 de junho de 2012
O Papa traça – como de costume – uma linha entre o que desejavam os padres conciliares e o que aconteceu efetivamente após a sua realização. Com a explosão da contracultura e da revolução sexual dos anos 70 moldou-se um certo “espírito do Concílio” – o aggiornamento proposto por João XXIII passaria de “transmissão da fé cristã ao mundo moderno” para uma completa “secularização do Evangelho”. Aquilo que pretendiam os bispos, em comunhão com o Santo Padre, foi totalmente deturpado. Os modernistas surgiram para fazer da mensagem de Cristo aquilo que bem entendiam, esquecendo-se da fidelidade à Tradição de dois mil anos da Igreja. O resultado foi devastador… Os frutos amargos de toda esta distorção do Vaticano II quem colhe somos nós.
Especificamente no que se refere à Liturgia, são visíveis os estragos feitos nesta realidade que deveria ser tratada com todo respeito e diligência. Os sacrários foram para o canto das igrejas: Jesus era tirado do centro; em seu lugar, deixava-se um solene vazio. A cruz foi tirada do altar: a Missa “deixava de ser” sacrifício, para representar uma mera celebração festiva, um banquete. O canto gregoriano foi substituído por algumas músicas animadas, de louvor – e a ideia de sacrifício caia definitivamente em ostracismo.
Como recuperar o verdadeiro espírito da Liturgia – ou seja, o espírito de sacrifício, de solenidade? O caminho é simples: passa pela senda da obediência. Ao falarmos de Liturgia, devemos recorrer à figura da sarça ardente. “Moisés notou que a sarça estava em chamas, mas não se consumia. (…) Vendo o Senhor que Moisés se aproximava para observar, Deus o chamou do meio da sarça: ‘Moisés, Moisés! (…) Não te aproximes daqui! Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é chão sagrado’.” (Ex 3, 2.4-5). Sacerdote, vais celebrar o Santo Sacrifício? Então, “tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é chão sagrado”. Vais rezar a Oração Eucarística? “Tira as sandálias dos pés”, não tenhas a pretensão de alterar uma vírgula do que lês, afinal “o lugar onde estás é chão sagrado”. Vais receber o Corpo e Sangue do Santíssimo Redentor, “tira as sandálias dos pés”… E esta atitude pode ser indicada não só aos sacerdotes, como também aos religiosos, aos leigos e a todos que, na Igreja, são chamados a assistir à Santa Missa. A Liturgia católica é um “chão sagrado” e qualquer um que pretenda, como Moisés, aproximar-se, deve imediatamente “tirar as sandálias”, reconhecer a sublimidade do mistério que vai contemplar: se Moisés ficara intrigado com uma sarça, quanto não deveríamos ficar extasiados com o milagre da transubstanciação, do pão e do vinho que se transformam na carne e no sangue do próprio Deus!
Que possamos participar sempre com mais devoção e fervor da Santa Missa, tendo em mente que foi por meio desta celebração que, ao longo dos séculos, inúmeros servos da Igreja se santificaram; que foi recebendo o Corpo e Sangue do Cordeiro que se sustentaram as almas dos bem-aventurados; que foi celebrando este Sacrifício que uma incontável legião de sacerdotes salvaram a si mesmos e aos seus.
Graça e paz.
Salve Maria Santíssima! - Everth Queiroz Oliveira
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com
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