Artigo de Dom Antonio Rossi Keller: A dificuldade em acreditar


11.04.2012 - O Evangelho deste domingo foi escrito especialmente para as comunidades cristãs que já não tinham conhecido nenhum dos doze apóstolos. Inseridos na sociedade paganizada, tinham dificuldade em acreditar na ressurreição de Jesus. Queriam, como muitos de nós o desejaríamos ainda hoje, ver, tocar, verificar se efetivamente o Senhor ressuscitara. Interrogavam-se se haveria provas de que Ele estava realmente vivo e, se assim era, por que razão não tornara a aparecer.

João quis dizer aos cristãos da sua comunidade (e a nós) que o Ressuscitado possui uma vida cuja natureza escapa aos nossos sentidos, que não se pode tocar com as mãos nem se pode observar com os olhos. Só pode ser objeto da fé. Isto é válido mesmo para os apóstolos que tiveram a felicidade de fazer uma experiência única do convívio com o Ressuscitado. Todos os apóstolos tiveram os seus instantes de dúvida, e não só Tomé. O seu caminho da fé foi demorado e difícil, embora Jesus lhes tivesse dado tantos sinais para provar que estava vivo. Tomé é o símbolo destas dificuldades vividas por todos.

Não se pode ter fé naquilo que se vê. Não se podem ter provas científicas da ressurreição. Se alguém quer ver, tocar, reconhecer, deve renunciar à fé. Quem possui a segurança da certeza, tem a prova incontestável dum fato, mas não a fé. Nós pensamos: «eles foram felizes porque viram». Mas Jesus diz que felizes são os que não viram, pois a sua fé é mais autêntica, mais límpida, ou melhor, é a única fé pura.
Perante a proposta do Evangelho, cada um de nós é chamado a transmitir a sua aceitação de fé em Jesus Cristo Ressuscitado, mas também a pode rejeitar, pois não existem outras provas além da própria Palavra.
É na comunidade eclesial que nos é possível repetir a experiência que os apóstolos fizeram no dia de Páscoa.
Não foi por acaso que as duas manifestações de Cristo aos apóstolos ocorreram ao domingo; que a experiência do Ressuscitado acontece com os mesmos; que o Senhor se mostra com as mesmas palavras: «A paz esteja convosco!»; e que em ambos os momentos mostra os vestígios da paixão.
É claramente o que se dá hoje no «dia do Senhor», em que a comunidade cristã é convidada a celebrar a Eucaristia. Pela boca do celebrante, saúda os presentes: «A paz do Senhor esteja convosco», e nós respondemos: «O amor de Cristo nos uniu». É nesse instante que Ele Se revela vivo à comunidade.
Quem está ausente destes encontros, como Tomé, não pode fazer a experiência do Ressuscitado, não pode ouvir a sua saudação e a sua Palavra, não pode receber a sua paz e o seu perdão, experimentar a sua alegria, receber o seu Espírito. Quem, no dia do Senhor, fica em casa, mesmo que seja para rezar sozinho, pode fazer a experiência de Deus, mas não a do Ressuscitado, pois este torna-se oferenda no lugar onde se reúne a comunidade.

Tomé somente conseguiu fazer a sua profissão de fé no Senhor quando estava em comunidade de irmãos. É a possibilidade que nos é dada também a nós «cada oito dias». E é nessa comunidade, e através dela, que poderemos dar testemunho de vida.
Na e com a comunidade seremos capazes de viver a fé demonstrando a ressurreição de Cristo. Se a comunidade estiver cimentada nas duas características aludidas na primeira leitura, isto é, «tendo um só coração e uma só alma» e «pondo tudo em comum» não sendo inspirada pelo egoísmo, mas sim pela lei do amor, da bondade, da oferta de si, então seremos capazes de atestar que o Espírito de Cristo ressuscitado também nos foi comunicado a nós.

Quem armazena só para si e para a própria família, quem quer se engrandecer, mesmo que vá sempre à igreja, não passa a notícia de que Jesus ressuscitou.
O sinal concreto da nossa fé é este verdadeiro testemunho de amor, de ajuda mútua, de fraternidade. O fundamento mais consistente de que todos somos filhos do mesmo Pai, como nos afirma a segunda leitura: são as obras de amor para com todos aqueles que são gerados por Deus, ou seja, todos os irmãos.
A verdadeira fé nunca se pode separar da vida.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller  -   Bispo de Frederico Westphalen (RS)

Fonte: http://acrkeller.blogspot.com/

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