02.04.2012 - Artigo enviado pelo amigo Padre José do Vale
Jerry Filteau- National Catholic Reporter
Em um estudo incomum cujos principais resultados foram divulgados em uma conferência na Catholic University of America, em Washington, no dia 22 de março, a Villanova University, na Filadélfia, perguntou aos ex-católicos da diocese de Trenton, Nova Jersey, por que eles abandonaram a Igreja.
Embora os resultados em si mesmos não sejam surpreendentes, segundo os pesquisadores, o estudo sugere novas formas pelas quais a Igreja pode se aproximar dos católicos que estão insatisfeitos com o que a Igreja ensina e com a forma como ela atua – incluindo aqueles tão insatisfeitos que decidiram ir embora.
Uma das suas principais recomendações foi que os párocos, bispos e outras autoridades da Igreja respondam, de forma consistente, com diálogo construtivo aos questionamentos de católicos irritados, e não com uma simples reiteração das regras ou políticas eclesiais.
O padre jesuíta William J. Byron, professor de administração da St. Joseph’s University, na Filadélfia – que colaborou no estudo com Charles Zech, fundador e diretor do Center for the Study of Church Management da Villanova’s School of Business –, citou diversas vezes uma resposta de um católico desfiliado que se queixou: “Faça uma pergunta a um padre e você receberá uma regra. Você não recebe uma resposta do tipo ‘Vamos sentar e conversar sobre isso’”.
Byron e Zech disseram aos participantes da conferência na Catholic University of America que muitas das respostas dos católicos não praticantes ou desfiliados da diocese de Trenton correspondiam ao que os pesquisadores sabiam a partir de outras pesquisas: a relação aos divorciados em segunda união; acham as homilias sem inspiração; a paróquia, não acolhedora; o pároco, arrogante; ou a equipe da paróquia, indiferente; ou sofreram terríveis experiências pessoais com um padre ou outra autoridade eclesial, como a rejeição por serem divorciados.
Alguns dos ex-católicos se queixaram do fato de os padres serem muito liberais, enquanto outros citaram “a verborragia extremamente conservadora” que ouviam nas homilias – refletindo as divisões políticas intracatólicas que refletem divisões semelhantes na sociedade norte-americana mais ampla.
Surpreendentemente, disse Byron, embora todos os que responderam à pesquisa abandonaram a Igreja por vários motivos de insatisfação, “apenas metade dos entrevistados foram marcadamente negativos” em sua avaliação do seu pároco mais recente. Havia “muitas respostas entusiastas e positivas” acerca dos pastores mais recentes, relatou.
Byron e Zech observaram que as respostas – às quais a Villanova teve acesso a partir de uma série de anúncio publicitários nas mídias católicas e seculares locais – não tinham a pretensão de representar uma pesquisa sociológica por amostragem aleatória. Elas eram o que Byron chamou de “pesquisa de conveniência”, representando apenas as respostas utilizáveis dos 298 ex-católicos da diocese de Trenton que ficaram sabendo da pesquisa através dos anúncios midiáticos locais e sentiram fortemente o convite a ponto de responder por correio ou pela Internet. Antes da conferência de três horas em Washington, por e-mail ao NCR, o bispo David M. O’Connell, de Trenton, disse que havia convidado Byron e Zechpara realizar a pesquisa com os ex-católicos da sua diocese depois de ler um artigo que Byron escreveu no ano passado na revista America, uma revista jesuíta nacional, sugerindo que “entrevistas de saída” com ex-católicos poderiam ajudar a Igreja a entender melhor por que os católicos abandonam a Igreja e a responder de forma mais eficaz às suas preocupações.
“Quando eu me tornei bispo de Trenton, em dezembro de 2010, eu fiquei sabendo que apenas 25% da nossa população católica participavam da missa regularmente”, escreveu O’Connell. “Essa porcentagem [a média mensal que a maioria das dioceses norte-americanas usa para contabilizar a participação nas missas e como norma para medir as tendências locais de participação nas missas] diminuiu um pouco em outubro de 2011. Isso me preocupou muito”.
O’Connell, que, como Byron, foi ex-reitor da Catholic University of America (Byron de 1982 a 1992; O’Connell de 1998 a 2010), disse ter perguntado a Byron como explorar na diocese de Trenton a ideia de Byron sobre as “entrevistas de saída” para ver por que os católicos abandonam a Igreja e o que poderia ser feito a respeito.
Byron disse em Washington que seu o artigo na revista America foi motivado por uma conversa que ele tivera com um proeminente líder empresarial católico de Nova Jersey, que sugeriu que, se qualquer loja perdesse clientes, sua primeira resposta deveria ser fazer entrevistas de saída para ver por que os clientes não estavam mais comprando lá.
Resposta pastoral criativa
Em seu e-mail ao NCR, O’Connell destacou uma das conclusões do estudo de Zech-Byron, a saber, que um dos desafios mais imediatos diante da Igreja dos EUA é esclarecer aos católicos a importância central da Eucaristia em suas vidas.
“Se apenas 25% ou menos dos nossos católicos participam da Eucaristia regularmente, eu acho que temos uma séria preocupação”, disse. “A média nacional é quase a mesma [que a da diocese de Trenton]. Precisamos engajar os nossos católicos de tal forma que vejamos a Eucaristia como a ‘fonte e o ápice’ da vida cristã, uma parte necessária do quem somos na Igreja”.
Zech e Byron recomendaram que O’Connell se concentre mais imediatamente em “uma explicação renovada da natureza da Eucaristia” e em “uma criativa resposta litúrgica, pastoral, doutrinária e prática” às queixas sobre a qualidade das liturgias católicas do fim de semana, especialmente acerca da música e das homilias.
Uma questão lateral sobre as homilias – nem mesmo observada no estudo ou em sua apresentação na conferência – foi citada depois ao NCR por Mary Gautier, antiga pesquisadora do Centro para Pesquisa Aplicada no Apostolado, com sede na Georgetown University, em Washington. Ela disse ao NCR que, atualmente, um terço dos padres ativos nas dioceses dos EUA – 6.000 de um total de 18.000 sacerdotes – são estrangeiros, e muitas vezes suas homilias não são compreendidas por muitos membros da comunidade.
Mais relacionada com o estudo da Villanova e a conferência é a questão de como as práticas paroquiais convidam ou deixam de convidar os católicos a fazer parte de uma comunidade de fiéis que compartilham um compromisso como discípulos de Cristo.
William Dinges, professor do departamento de teologia e de estudos religiosos da Catholic University, disse que as pesquisas da década de 1940 e 1950 indicavam que os católicos norte-americanos e os aderentes a outras religiões eram bastante idênticos em termos de sua adesão a crenças e práticas religiosas dos seus antepassados.
Isso começou a mudar para os católicos depois do Concílio Vaticano II, na década de 1960, disse ele, embora tenha ressaltado que isso não se deveu só ao Concílio, mas também a uma grande variedade de outros fatores que influenciaram a filiação, a participação e o senso de filiação à Igreja Católica dos EUA nos anos do pós-Concílio.
Byron disse que as descobertas de Trenton exortam as lideranças católicas a serem mais sensíveis às preocupações dos leigos católicos.
Byron disse ao NCR que ele e Zech já receberam alguns convites para realizar estudos semelhantes em outras dioceses, e ele espera que mais pedidos surjam depois de um artigo que deverá ser publicado na revista America em abril sobre os resultados do estudo de Trenton.
"Todos os sacerdotes se dediquem com generosidade, empenho e competência à administração do sacramento da Reconciliação. A propósito, procure-se que, nas nossas igrejas, os confessionários sejam bem visíveis e expressivos do significado deste sacramento. Peço aos pastores que vigiem atentamente sobre a celebração do sacramento da Reconciliação, limitando a prática da absolvição geral exclusivamente aos casos previstos, permanecendo como forma ordinária de absolvição apenas a pessoal." (Bento XVI - Exortação Apostolica Sacramentum Caritatis - Março 2007).