01.04.2012 - Já enviei a resposta abaixo ao Jornal, esperando que publiquem no próximo sábado. Enquanto isso, adianto...
Como fui citado diretamente, na edição de 31 de março de 2012, em uma coluna especial do Jornal " O Alto Uruguai", tenho o direito de responder...
Interessante que quem acusa os outros, especialmente a Igreja Católica, de preconceituosa, destila, contra a mesma e contra a população católica, as mais raivosas invectivas, mostrando todo o azedume do que é, verdadeiramente, ser preconceituoso. Tempos difíceis mesmo estes que vivemos. Cada um, fala o que quer.
Em primeiro lugar, a questão de minha “Nota Pastoral”, em relação à ordem de retirada dos crucifixos e imagens sacras dos ambientes da Justiça gaúcha não exige o “amém” de ninguém, especialmente de quem não professa a fé católica, por opção. Tem visão equivocada quem entende uma “Nota Pastoral” ou uma manifestação dos legítimos pastores da Igreja Católica como uma imposição vinculante àqueles que não tem fé. A Igreja não pretende “dar ordens” à sociedade civil. Mas a Igreja não pode aceitar que a opinião da maioria da população seja vergonhosamente ignorada e desrespeitada. A maioria da população, incluindo boa parte daqueles que não professam a fé católica, é contra o laicismo que, pouco a pouco, grupos barulhentos vão impingindo à sociedade civil. Vivemos em uma democracia, ao menos nominal (será ela real?). Portanto, como católicos temos o direito de nos manifestar e de exigir o respeito às nossas convicções, que fazem parte do substrato da cultura que moldou este país. Negar as raízes de fé e de cultura do país é, na verdade, um suicídio da civilização. Há quem pretenda apagar as raízes históricas do Brasil. Pobre do povo que esquece seu passado, que dele não tira inspirações para o seu presente e desafios para o seu futuro.
Em segundo lugar, as acusações feitas contra a Igreja em relação a uma pretensa postura preconceituosa contra homossexuais, mães solteiras, uniões entre pessoas do mesmo sexo, etc.. peca, isto sim, por uma visão absolutamente preconceituosa,visão esta derivada da ignorância de tudo aquilo que a Igreja ensina em relação a estas questões que envolvem a moral. Há inúmeros documentos oficiais do Magistério da Igreja que tratam com responsabilidade destas questões. Esta postura oficial e vinculante busca salvaguardar sempre e em primeiro lugar, aquilo que no Direito Canônico chama-se o “bem das almas”, ou seja, o bem verdadeiro, autêntico, fundado em sadia antropologia (não o pseudo bem, o bem fundado nos modismos de uma moral que samba e dança ao gosto de grupos barulhentos...). Em todos estes documentos, e na postura pastoral derivada deles, a Igreja olha sempre o ser humano e o respeito que qualquer um, seja lá a postura moral que tenha, mereça. O fato de que a Igreja tenha uma doutrina moral fundamentada na Palavra da Vida que é o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, de forma alguma significa um desrespeito às pessoas e à sua situação moral. Mas a Igreja não pode ensinar outro Evangelho... As palavras de Nosso Senhor, dirigidas amorosamente à mulher pecadora “Ninguém te condenou? Nem eu te condeno”, não terminam simplesmente assim... Há uma exigência posterior: “Vai, e não tornes a pecar”. Antes, Nosso Senhor havia pronunciado desconfortáveis palavras “Aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra”. Assim, a Igreja que procura seguir seu Mestre Divino, pedindo perdão de seus pecados, pronuncia sobre cada pessoa que toma consciência de suas falhas as palavras do perdão e a exigência derivada da mesma Palavra.
O fato de que existam aqueles que não se sentem nem pecadores e nem errados, não absolve a Igreja de sua missão de denúncia do pecado e do mal e do anúncio do perdão. Quem transforma e converte as almas não são as nossas palavras: é a Graça de Deus.
Sobre a questão do uso de métodos contraceptivos, etc. basta um mínimo de bom senso para que se possa perceber a falácia da mentalidade anticonceptiva. É preciso muita coragem para se acreditar que exista relação direta entre as raízes da pobreza, endêmica em uma sociedade organizada a partir da exclusão social dos mais pobres, e o número de filhos de uma família. Ao mesmo tempo é preocupante ver alguém, que deve defender a lei e a sua aplicação para todos, ignorar que a Constituição deste país garanta o direito de cada família ter o número de filhos que quiser ter, cabendo ao Estado o dever de mantê-los com dignidade.
A legitimidade da Igreja, através de seus pastores em “falar de preconceito” cabalmente se justifica, especialmente após ler-se o que escreve alguém que “teve acesso a curso superior” e que escreve o que escreveu. Aí sim se demonstra sua raiva preconceituosa contra a Igreja. “Bem feito”, por terem ordenado a retirada dos crucifixos e das imagens sagradas dos locais da Justiça gaúcha? Um dia, quem sabe, você conseguirá entender que este mal também afeta a sua liberdade de expressão e de opinião. De que ele é um atentado àquilo que você nervosamente propugna em relação à liberdade de expressão e de pensamento. O veneno também te atingirá...
Dom Antonio Carlos Rossi Keller - Bispo de Frederico Westphalen RS
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