28.11.2006 - Os "piercings", as tatuagens, ou a suspensão corporal com ganchos hipodérmicos são alguns dos rituais da "Igreja da Modificação Corporal", uma congregação com quase 2 mil seguidores nos Estados Unidos, mas que se vê ameaçada por escândalos econômicos.
Criada na virada de século por Steve Haworth em Phoenix (Arizona, EUA), esta comunidade peculiar afirma em sua doutrina que existe "espiritualidade" no desejo de modificar o corpo humano. "Praticando as técnicas de manipulação e de modificação corporal reforçamos os laços entre mente, corpo e alma, e conseguimos viver nossa espiritualidade como indivíduos completos", assinala o site da organização.
Precisamente, a mente, o corpo e a alma, representados por três linhas brancas - denominadas "linhas ministeriais" -, são as senhas de identificação desta congregação, que seus "padres", como não poderia ser diferente, trazem tatuadas.
Segundo os últimos dados da Academia Americana de Dermatologia, quase 50% dos americanos "decoraram" o corpo com uma tatuagem ou um "piercing". Isso explica porque estes pastores têm um grande ''rebanho'' para o qual transmitir sua fé.
A "Igreja da Modificação Corporal" (CoBM, na sigla em inglês) se declara aconfessional, não discrimina fiéis de nenhuma fé ou religião, mas adverte que algumas de suas práticas podem ser contrárias a determinadas crenças.
A CoBM teve que esperar até 2001 para ter certa popularidade, que chegou de maneira inesperada por via judicial. O chamado "caso Costco contra Cloutier" foi até o momento o pleito mais famoso relacionado ao conflito entre a mentalidade empresarial e o desejo de individualidade.
Costco Wholesale é uma grande rede de supermercados de venda por atacado com mais de 200 pontos de venda em todo o país, que demitiu uma de suas empregadas - Kimberly Cloutier - por que esta se negou a ocultar o "piercing" de sua sobrancelha durante as horas de trabalho.
A jovem decidiu denunciar a empresa por demissão sem justa causa e alegou no tribunal que sua negativa tinha motivações religiosas, já que fazia parte da "Igreja da Modificação Corporal".
Apesar de a corte ter determinado em sua sentença que a ex-trabalhadora não tinha razão em seu pedido, a CoBM teve publicidade gratuita que resultou na sua expansão para outros estados como Flórida, Illinois, Kentucky e Virginia, além da aparição de outras delegações "irmãs" na Europa.
No entanto, mesmo tendo esta popularidade e sendo legalmente reconhecida pelo Governo dos EUA, nem tudo foram flores para a congregação hoje presidida por Rick Frueh, que se viu envolvida em vários escândalos, quase todos de âmbito econômico.
Alguns internautas, que aproveitam o anonimato propiciado pela internet, denunciaram a falta de transparência que a CoBM tem com as doações de seus membros. Além disso, em 2002 surgiu uma polêmica que até hoje persegue a organização.
Dois de seus ministros, Alva Richcreek e Steve Truitt foram detidos sob a acusação de praticar a medicina de maneira ilegal, após terem realizado uma operação de modificação genital sem a devida autorização.
A CoBM organizou uma campanha de arrecadação de fundos com a venda de camisetas para apoiar legalmente seus seguidores, mas até o momento o destino do dinheiro não foi esclarecido.
O presidente da congregação não quis fazer declarações e se remeteu a um comunicado publicado na Internet. Por estas razões, muitos pensaram que o fim da igreja estava próximo, só que pouco a pouco continua conquistando fiéis "cansados de ser discriminados ou ignorados" pela sociedade devido a sua decisão de modificar seu corpo, segundo aponta o comunicado.
Fonte: Terra notícias