Artigo do Padre José do Vale: O Silêncio e o Amor de Deus


03.03.2012 -  “Para se progredir, o que mais se necessita é saber calar diante de Deus (...) a linguagem que Ele melhor ouve é a do silêncio do amor”     São João da Cruz  -  Doutor da Igreja

Da Sagrada Escritura extraímos dois versículos para reflexão. O primeiro consta no Evangelho de São Mateus 15,23, e mostra que Jesus Cristo silenciou ante a mulher Cananéia: “Mas ele não lhe respondeu uma palavra...”. O segundo está no Antigo Testamento, em Sofonias 3,17, verificando-se aí a atitude do Senhor Deus para com o seu povo: “... calar-se-á por seu amor...”.
          O bondoso coração de Deus deve doer, muitas vezes, ao ouvir os tristes e queixosos lamentos saídos do nosso coração fraco e impaciente. Lamentamos porque não vemos que é por amor a nós que o Senhor não responde ou nos diz o contrário daquilo que parece melhor aos nossos olhos embaçados pelas lágrimas, olhos de tão curta visão!
          O silêncio de Cristo é tão eloqüente como a sua voz e pode ser um sinal não de reprovação, mas de aprovação e de profundo propósito de bênção para a nossa vida.
          “Por que estás abatida, ó minha alma?”, S1 43,5. Ainda o louvarei, sim, até no silêncio de Deus!

AMOR ALÉM DA EXPRESSÃO

          Uma cristã sonhou com três pessoas que oravam. Enquanto estavam de joelhos, o Senhor chegou-se a elas. Ao aproximar-se da primeira, inclinou-se para a cristã, e sorrindo com amor falou-lhe com suave voz. Deixando-a, dirigiu-se a segunda, todavia só pôs a mão sobre a sua cabeça curvada, dando-lhe um olhar de aprovação. Pela terceira mulher, Jesus passou quase abruptamente, sem se deter a proferir uma palavra ou a dirigir um olhar.
          A senhora, no seu sonho, pensou consigo mesma: Como Deus deverá amar a primeira mulher! A segunda o Senhor deu a sua aprovação, mas nenhuma das demonstrações de amor que deu a primeira. E a terceira mulher deverá tê-lo entristecido muito, pois o Senhor não lhe dirigiu qualquer palavra, nem se quer um simples olhar. Que teria feito essa mulher, e por que motivo Deus fez tanta diferença entre elas?
          Enquanto procurava interpretar a atitude do seu Senhor, Ele mesmo aproximou-se dela, no sonho dizendo: “Ó mulher, quão erradamente me interpretaste! A primeira mulher, prostrada de joelhos, precisa de toda a minha ternura e cuidado para conservá-la no meu caminho. Precisa sentir o meu amor, cuidado e auxílio a cada momento do dia. Sem isso, iria falhar e cairia. A segunda já possui uma fé mais forte e um amor mais profundo, e posso esperar dela que confie em mim quaisquer que sejam as circunstâncias e independente do que os outros façam. A terceira mulher, que eu parecia nem notar e quase negligenciar, tem fé amor da mais alta qualidade, e Eu estou a treiná-la mediante processos energéticos e drásticos para o mais alto e santo serviço. Ela me conhece tão de perto, e confia em mim tão inteiramente, que não depende de palavras, olhares ou de qualquer demonstração sensível da minha aprovação”.
          No sonho, o Senhor continua a falar acerca da terceira mulher: “Não desmaia nem desanima diante de nenhuma circunstância adversa; ela confia em mim, mesmo quando o sentimento, a razão e os mais fortes instintos do coração natural se rebelariam, pois sabe que Eu estou operando nela para a eternidade, e que aquilo que faço – conquanto ela não o saiba explicar agora – compreenderá mais tarde. Eu me calo, silencio em meu amor, porque amo além do poder de expressão das palavras e do poder do entendimento do coração humano. Faço-o também por causa de vós, a fim de poderdes aprender a me amar e confiar em mim correspondendo espontaneamente ao meu amor, com o amor dado pelo Espírito, sem o estímulo de nenhuma coisa exterior para fazê-lo brotar”.
          “Deus fará maravilhas se aprendermos o mistério do seu silêncio, se o louvarmos por todas as vezes que retira as suas dádivas para conhecermos melhor o doador e o amarmos mais!”, diz o missionário e escritor brasileiro Geziel Gomes.
          “Quando se recolhe no silêncio de sua alma; o religioso vai além de si mesmo e sobe naturalmente até Deus”, escreve de forma magistral Santo Alberto Magno.
          Temos que penetrar no mistério do silêncio; porque muita coisa será revelada para edificação da nossa alma. O silêncio é uma das principais asceses para o fortalecimento espiritual da nossa vida de amor com Deus e o próximo.


Pe. Inácio José do Vale
Professor de História da Igreja
Instituto de Teologia Bento XVI
E na Escola de Formação de Resende
Especialista em Ciência Social de Religião
E-mail: [email protected]  

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