Artigo do Padre José do Vale: Experiência com Cristo


03.03.2012 - “Nada é mais belo que ser surpreendido pelo Evangelho, pelo encontro com Cristo. Nada é mais belo que conhecê-lo e falar aos outros da nossa amizade com Ele” (1).  Papa Bento XVI

           Edwin Aldrin foi um dos tripulantes da nave espacial Apolo 11 que desceu na lua em 20 de julho de 1969. A noticia televisionada foi sucinta, informando entre outros dados que, após aquele feito memorável, Aldrin já não era o mesmo. Fora da Terra, pisando o solo lunar, sentira a presença grandiosa de Deus e voltara transformado.
          O fato na época foi amplamente divulgado na imprensa mundial, estampando em suas manchetes que o homem da ciência, Aldrin, era agora pregador do Evangelho. Ao que se saiba, foi o único caso de uma experiência extraterrestre do homem com o seu Criador. Longe dos liames de uma Terra manchada pelo pecado por culpa de seus habitantes, o espaço sideral, com seus planetas, estrelas e galáxias, revelava a glória de Deus àqueles homens dotados e conhecimentos científicos.
         “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz” (Sl 19,1-3).
           A experiência é um fato marcante na vida humana. Pode produzir bem ou mal, vitória ou fracasso, dependendo do que fazemos ou deixamos de fazer no decurso de nossa existência. Quantos, hoje, na velhice, amargam os erros e desregramentos cometidos na juventude? Quantos lamentam não terem aproveitado uma oportunidade que, uma vez perdida, não mais voltou? Porém, uma vida gasta no serviço de Cristo compensa nos frutos que produzem para a vida eterna.

PRESENÇA DO SENHOR DEUS

            Para encontrar Deus, ninguém precisa ter a experiência do astronauta no espaço sideral. Aqui mesmo nesta Terra, em qualquer lugar em que você se encontre, a presença divina o alcançará, pois Deus não está limitado aos espaços e ao tempo (Salmo 139,1-12).
            É somente de uma experiência pessoal com Deus que o ser humano atinge seu anelo de paz e esperança. Paulo, o grande apóstolo dos gentios e ex-perseguidor da Igreja, teve essa experiência. Santo Agostinho, um dos maiores teólogo e filósofo de todos os tempos e ex-libertino, depois de convertido resumiu sua experiência com as célebres palavras dirigidas a Deus: “Senhor, fomos feitos para ti e fora de ti não temos sossego; e tantos outros através dos séculos até a presente era atestam o poder do Evangelho para a salvação do ser humano e descortinar-lhe um novo horizonte espiritual”.  
              No Evangelho de São João 14,6, Jesus consola seus discípulos com a perspectiva de um lugar melhor para todos os que nele crerem. Aqui não se trata de um mundo físico, constituído de alguns planetas distantes do vasto Universo. A própria ciência, com suas naves espaciais e poderosos telescópios, não pôde comprovar a teoria de alguma forma de vida fora da Terra.
              Entretanto, ao homem, que foi criado para adorar seu Criador, lhe é oferecida a oportunidade de usufruir de um novo mundo, um lugar eterno onde reinará a justiça (2 Pedro 3,13). O acesso a esse lugar de felicidade sem fim começa agora, enquanto se vive, através do caminho que Cristo nos abriu com Sua morte na cruz do Calvário (Hebreus 10,19-20).

EXPERIÊNCIA DE EDITH STEIN

              Nascida em Breslávia (Alemanha) no dia 12 de outubro de 1891 de uma família judia ortodoxa, foi ao encontro do Pai Eterno no dia 9 de agosto de 1942. Edith abriu mão da fé de seus pais e de fato se tornou uma incrédula. Em 1917, contudo, ela estava no funeral do filósofo Adolf Reinach, seu amigo. Mais tarde, ela fez uma visita à viúva, Anna Reinach. Isso não foi algo fácil para Edith, pois se sentia incapaz de dizer algo que consolasse Anna. No decurso da conversa, os papéis se inverteram completamente. Foi à viúva que, apesar de seu luto, deu a Edith o conforto da fé cristã.
              Edith Stein descreveu da seguinte forma aquela visita:              “Foi o meu primeiro encontro com a cruz e com a força que ela dá aos que se encontram em aflições. Pela primeira vez vi claramente que a Igreja nasceu dos sofrimentos redentores de Cristo em Seu triunfo sobre a morte. A partir daquele momento, minha incredulidade ficou abalada, e Cristo começou a se revelar pra mim; Cristo no mistério de Sua cruz.”
                A incredulidade de Edith era a muralha que a impedia de compreender o mistério da cruz de Cristo, o lugar onde o amor de Deus é revelado. Ela abriu o coração para esse amor e o desfrutou de maneira extraordinária. Os sobreviventes de Auschwitz, campo de concentração nazista no qual foi assassinada, testemunham do amor e compaixão que manifestava, apesar das opressivas condições. Sua apaixonada busca pela verdade, sua participação intransigente na obra de Cristo são um exemplo e estímulo para confiarmos no amor vitorioso de Deus. Ela escreveu: “Quem procura a verdade, procura Deus, esteja a pessoa ou não consciente disso” (2). Edith encontrou a verdade e o bom Deus e deixou a sua experiência como um tesouro de tão rico testemunho a ser imitado.

A MAIOR MUDANÇA POSSÍVEL

                 Quando alguém se converte ao Senhor Deus, um maravilhoso milagre realmente acontece: uma completa e instantânea mudança na direção de sua vida. Se antes  lutava para desfrutar a vida e obter fama, poder  e dinheiro, a pessoa convertida passa a trabalhar tendo em vista um alvo fora do âmbito deste mundo. Agora é guiado por uma mão invisível; antes decidia seu próprio caminho ou se adaptava ao meio circundante. Do ponto de vista racional, isso é absurdo; está além de nossa compreensão: a conversão a Deus é de fato um milagre. Quem tem poder para realizar esse tão grandioso milagre? O profeta Jeremias responde: “Só um Deus verdadeiro, um Deus vivo e Rei eterno”, (Jr 10, 10). 
                 Que tremendo poder é necessário para fazer alguém parar na trajetória de uma vida inteira e virar na direção oposta! Esse poder é uma Pessoa: Jesus Cristo, o Filho de Deus, que veio do céu e Se tornou Homem. Cristo Jesus é o Cordeiro do sacrifício que o próprio Deus providenciou para morrer pelos pecadores na cruz do Calvário: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1,29).
                 Se formos honestos conosco mesmos, admitiremos que somos culpados diante de Deus. De tempos em tempos, nossa consciência grita e nos alerta desse fato. Quem, conhecendo sua situação desesperadora, crê no Senhor Jesus como o “Cordeiro de Deus” experimenta a maior mudança possível na história humana. Recebe o perdão dos pecados e de pecador destinado à ira se torna filho amado de Deus!
                  A bênção de ser filho de Deus é um dom da graça. Em outras palavras, é como se fosse um adiantamento da futura bênção de vê-Lo como Ele é.
                  Quando se trata do futuro dos redimidos na glória celestial, a imaginação humana é totalmente incompetente para alcançar o que Deus tem preparado para os Seus. Está fora da capacidade de nossa mente. E o apóstolo São João, já bem idoso, ansiava por conhecer tais coisas. Ele escreveu: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser” (1 João 3,2).

Pe. Inácio José do Vale
Professor de História da Igreja
Instituto de Teologia Bento XVI
E na Escola de Formação de Resende
Especialista em Ciência Social da Religião
E-mail: [email protected]

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Notas:  

(1) Blanco, Pablo. Joseph Ratzinger: uma biografia, São Paulo: Quadrante, 2005, p. 199.
(2) Pepe, Enrico. Mártires e santos do calendário romano, São Paulo: Ave-Maria, 2008, p. 477.


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